EUA. "Dia dos Povos Indígenas" ganha terreno ao "Dia de Colombo"

por RTP
Venezuela, 2004: acto simbólico de derrubamento de uma estátua de Cristóvão Colombo Reuters

A tradição de celebrar o "Dia de Colombo" está a ser abandonada por um número crescente de Estados norte-americanos. Ontem, segunda feira, o "descobridor" do Novo Mundo foi pela primeira vez banido no feriado de Washington DC.

Em 1992 celebrou-se o quinto centenário da chegada de Cristóvão Colombo a terras americanas. Mas a celebração teve tanto de festivo como de crítico e, a partir de certa altura, iconoclástico, tendo constituído um ponto de viragem no calendário comemorativo.

Foi nesse ano que começou a pôr-se em causa o tradicional "Dia de Colombo", lembrando que o "descobridor" não sabia o que estava "descobrindo", que continuava convencido de ter chegado à Índia, e que nessa convicção terá permanecido até ao fim da vida. Mas, sobretudo, assinalava-se a data como ponto de partida para um genocídio de dimensões continentais, que teve como vítimas os povos indígenas.

Na comemoração de ontem, que ainda se mantém a nível federal, vários Estados norte-americanos, do Minnesota ao Vermont, e agora o próprio Estado da capital, Washington DC, substituíram o "Dia de Colombo" pelo "Dia dos Povos Indígenas" ou, numa versão mais soft, passaram a celebrar cumulativamente um e outro no mesmo feriado.

A celebração de 2019 foi marcada no Estado do Novo México por um evento de envergadura federal, com diversas autoridades tribais que convergiram para a cidade de Albuquerque e aí deram largas à prática das suas línguas nativas.

Shannon Speed, directora do American Indian Studies Center da Universidade da Califórnia, expressou a este respeito um sentimento generalizado: "Hoje sabemos muita coisa sobre a história e sobre o modo como ele [Colombo] e a sua gente se comportaram ao chegarem a este continente, e que incluiu pilhagens, violações e, dum modo geral, o desencadeamento de um genocídio dos povos que já cá estavam. E isso não é uma coisa que nós queiramos comemorar. Não é uma coisa que ninguém queira comemorar".
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