EUA. Grupo extremista planeava enforcar em público a governadora do Michigan

por RTP
“Eles iam julgar-me e depois executar-me. Foi um plano de assassinato, mas ninguém diz as coisas como elas são", lamentou a governadora Whitmer. DR

"[Raptá-la e] enforcá-la em directo na televisão pública para que o mundo veja". Era esta a vontade de Adam Fox e Barry Croft Jr., afirmaram em tribunal duas testemunhas fundamentais para a Procuradoria americana no caso em que a senadora democrata do Michigan, Gretchen Whitmer, voz crítica da estratégia do presidente Donald Trump para aplacar a pandemia de covid-19, era um dos principais alvos de um grupo extremista que em 2020 estaria a planear um ataque ao Capitólio do Michigan. Entretanto, Trump já veio a terreiro para desvalorizar o caso.

Na sessão de quarta-feira, duas das testemunhas-chave no processo, Ty Garbin e Kaleb Franks, declararam perante o júri do tribunal de Grand Rapids, Michigan, que Fox e Croft “estavam ansiosos por levar este plano adiante”, o que significava invadir o Capitólio do Michigan e sequestrar alguns dos seus representantes, em particular Gretchen Whitmer, a governadora democrata que se mostrou muito crítica da forma como o presidente Trump estava a encarar a pandemia de covid nos Estados Unidos, nomeadamente fomentando a raiva contra as medidas mais restritivas implementadas em alguns Estados e ao recusar-se a condenar grupos de extrema-direita, como este que enfrenta agora a acusação.

Adam Fox e Barry Croft Jr. regressaram ao banco dos réus uma segunda vez para enfrentar agora a acusação de conspiração, depois de no último mês de Abril um tribunal de júri não ter chegado a um veredicto unânime num processo que absolveu outros dois acusados. O novo julgamento aquece o ambiente numa altura em que Whitmer prepara a sua reeleição.

Garbin e Franks, que desempenham aqui um papel fundamental para os procuradores que procuram a condenação de Fox e Croft, foram também eles condenados pelas actividades dentro do grupo que planeava o rapto da governadora Whitmer, mas declararam-se culpados e concordaram em cooperar com a Procuradoria com vista a uma redução da pena.

Garbin disse ter estado com Fox numa manifestação pelo direito às armas no Capitólio do Michigan, em junho de 2020, meses antes da sua detenção, e que na altura “Adam Fox mencionou invadir o edifício do Capitólio e prender representantes eleitos para os julgar por traição e pelos seus crimes”.

“[Uma] pessoa em particular seria a governadora Gretchen Whitmer. Enforcada em directo na televisão pública para que o mundo veja”.

“FBI não foi um agente provocador”

Uma das teses da defesa de Adam Fox, de 39 anos, e Barry Croft Jr., de 46, aposta na existência de dois informadores do FBI dentro do grupo extremista que teriam instigado os restantes elementos a desenhar e preparar o plano de rapto. No entanto, este cenário foi descartado pelas duas testemunhas ouvidas ontem no tribunal.

Garbin e Franks admitiram não saber que papel desempenharam aqueles informadores, mas sublinharam que não tinham qualquer memória de que tenham avançado com a proposta para raptar Whitmer.

“Não que eu tenha visto, não”, disse Garbin aos jurados, que ouviu das duas testemunhas terem aderido à conspiração de livre vontade e que de forma alguma foram induzidos nesse sentido por informadores ou agentes infiltrados do FBI.

De acordo com o seu testemunho, esta quarta-feira, eles terão treinado com Fox e Croft e outros membros do grupo numa área remota, onde ensaiaram numa “casa de tiro”, simulando o sequestro. Acrescentaram como viajaram ainda até de Elk Rapids, uma pequena localidade do Estado do Michigan, para inspecionar a casa de férias da governadora, e onde avaliaram ainda uma ponte que ponderavam explodir para criar uma manobra de distração durante o ataque planeado para o capitólio.

Nessa altura, assegurou Franks, “eles estavam completamente comprometidos com o plano (…) Sempre que eu estava com eles, era só disso que eles falavam”.

“Eles estavam ansiosos por levar aquilo adiante”, afirmou Garbin.

Defesa insiste no FBI, Trump desvaloriza

Enquanto que a equipa de procuradores tem sobre a mesa de acusação uma tese que aponta à tentativa do grupo extremista de levantar uma rebelião generalizada no país antes da eleições presidenciais, aproveitando o ambiente negativo suscitado com as restrições covid adoptadas por alguns estados, a defesa de Adam Fox e Barry Croft Jr. agarra-se ao cenário do plano fomentado por dois agentes provocadores.

Ao questionarem as duas testemunhas da acusação, os advogados de Fox e Croft insistiram no facto de se terem declarado culpados e das razões que os levaram a este passo, conseguindo que admitissem que, ao fazê-lo, esperavam de facto uma redução da pena.

“Ninguém me pediu para mentir. Pediram-me apenas para dizer a verdade”, responderia Garbin – condenado a seis anos, mas com possibilidades de diminuir o tempo de prisão – depois de ser chamado de “bufo” por um dos advogados.

Numa reacção aos factos em questão, Donald Trump já veio dizer que o plano de sequestro de Whitmer era um “falso acordo”.

Uma leitura diferente da governadora democrata, que após o julgamento de Abril lamentou numa entrevista ao Washington Post a forma como o caso estava a ser desvalorizado.

“Alguém acredita que estes raptores queriam manter-me sequestrada ou pedir um resgate?”.

“Não. Eles iam julgar-me e depois executar-me. Foi um plano de assassinato, mas ninguém diz as coisas como elas são. Até a forma como as pessoas falam sobre o caso mudou a seriedade com que o mesmo está a ser tratado”, lamentou Gretcher Whitmer.

pub