EUA. Monsanto e BASF causaram danos a agricultores contando obter lucros

por RTP
Monsanto e BASF em polémica nos Estados Unidos Reuters

Um processo contra estas duas empresas colocou a nu a vontade de lucrar com prejuízos causados por produtos que tanto a Monsanto como a BASF vendiam aos agricultores. Uma investigação conduzida pelo The Guardian mostrou documentos que comprovam que as empresas tinham conhecimento dos estragos que iriam ser causados e quiseram lucrar com isso mesmo, opondo-se à realização de testes independentes. No Missouri, um agricultor, Bill Bader, venceu em tribunal a duas empresas, que vão ser obrigadas a indemnizá-lo.

A Monsanto, empresa norte-americana, e a BASF, alemã, souberam durante anos que a implementação de novas sementes e de um sistema químico para as colheitas poderia ter consequências devastadoras para os agricultores norte-americanos.

Essas consequências foram desvalorizadas e mesmo aproveitadas para conseguir lucros com os estragos nas culturas de muitos agricultores. Trata-se de descobertas feitas a partir de documentação que veio a público durante um processo colocado em tribunal por Bill Bader, do Missouri, contra a Monsanto e a BASF.

Estes documentos, a que o Guardian teve acesso, mostram que a Monsanto se opôs a testes realizados por terceiros para reduzir a criação de mais dados sobre a atividade da empresa que iria preocupar os reguladores do setor. Em alguns e-mails da BASF, existem conversas que ironizam sobre a situação, chegando mesmo a declarar que “esperam não ir para a prisão”.

O novo sistema das duas empresas procurava lidar com um problema em que muitos hectares de terra estavam a ser invadidos por ervas daninhas resistentes aos pesticidas de glifosato da Monsanto, conhecidos por Roundup. A colaboração entre as duas empresas levou à criação de um herbicida chamado Dicamba.

Num sistema em que é utilizado roundup, os agricultores podem espalhar herbicidas de glifosato em algumas culturas que a Monsanto criou para serem resistentes quando entram em contacto com o pesticida. Um sistema popular nos últimos anos, mas que levou ao aparecimento de ervas daninhas resistentes ao glifosato.

O novo sistema criado pelas duas empresas era semelhante, mas com o herbicida Dicamba a ser utilizado em plantações de soja e algodão. As ervas daninhas desaparecem mas as colheitas continuam em bom estado.

Dicamba existe desde os anos 60 mas foi sempre usado com moderação e não diretamente em colheitas, já que apresenta registos de volatilidade, movendo-se para longe do sítio onde foi colocado, destruindo outras culturas, especialmente em meses mais quentes.

Em 2011, a Monsanto e a BASF anunciaram estarem em estreita colaboração para desenvolver culturas resistentes à utilização de dicamba, garantindo licenças recíprocas. Foi garantido que o novo projeto não ia sair do seu lugar quando aplicado e que o novo sistema traria vantagens para os agricultores e para o mercado.

No entanto, reuniões privadas de 2009 alertaram para o facto de este novo sistema ter consequências catastróficas. Continuaria a haver a possibilidade de o herbicida se mover para outras culturas e colheitas.

A Monsanto previu nesse mesmo ano que haveria milhares de queixas por parte dos agricultores devido ao uso de dicamba, com uma estimativa de dez mil queixas. Apesar de tudo, as duas empresas defenderam-se e afirmaram que os seus produtos eram seguros quando bem utilizados e que a Agência de Proteção Ambiental avaliou e garantiu que não colocavam riscos.

De acordo com as estimativas da indústria, milhões de hectares foram devastados pelo uso de dicamba. Mais de uma centena de agricultores norte-americanos colocaram ações em tribunais federais, alegando que a colaboração entre a Monsanto e a BASF criou um sistema defeituoso que destruiu pomares, jardins e campos orgânicos e não-orgânicos em inúmeros Estados.

No mês passado, um processo em tribunal levou à decisão de pagamento de uma indemnização por parte da Monsanto e BASF, no valor de 265 mil dólares. Bill Bader alegou que as ações das duas empresas levaram à destruição de mais de 30 mil pessegueiros, terminando um negócio de família. O advogado de defesa de Barder alegou que a ação da Monsanto e BASF levou a um “desastre ecológico”.

A Bayer AG, dona das duas empresas, recusou admitir a responsabilidade e garantiu que vai recorrer.
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