EUA. Nomeação de nativa para secretária do Interior enfurece republicanos

por Inês Moreira Santos - RTP
Jim Watson - EPA

A democrata Deb Haaland é a primeira nativa norte-americana a chegar ao Congresso dos Estados Unidos, mas a sua nomeação tem indignado os republicanos. Depois de ter sido sujeita a perguntas hostis numa audiência, há quem questione se não são preconceitos raciais que estão na origem das críticas republicanas.

São muitos os republicanos que parecem ansiosos por conseguir invalidar a confirmação de Deb Haaland no Congresso. Nos dois dias em que decorreram as audiências para a confirmação da sua nomeação perante a Comissão de Energia e Recursos Naturais do Senado, a democrata nomeada por Joe Biden enfrentou várias perguntas hostis de um grupo de senadores republicanos que tentaram acusá-la de ser extremista e um perigo para os empregos dos norte-americanos.

Considerada uma progressista no que diz respeito a questões climáticas, Haaland denunciou o impacto do desenvolvimento de combustíveis fósseis no meio ambiente e nas tribos nativas norte-americanas durante as audiências, sendo por isso criticada pelos reublicanos.

Numa das audiências desta semana, John Barrasso, um congressista republicano de Wyoming, criticou Haaland por uma publicação que a democrata fez no Twitter em outubro de 2020, onde afirmava que "os republicanos não acreditam na ciência".

Barrasso, que considera que não está provado que a ação humana tem impacto nas alterações climáticas, disse que esse tweet era "preocupante para aqueles que passaram por treino, acreditam na ciência, e ainda assim, são todos descrentes".

O republicano acrescentou ainda que estava "preocupado com muitas das opiniões da deputada Haaland", que definiu como "radicais".

"Não devemos prejudicar a nossa produção de energia e não devemos prejudicar a nossa própria economia", disse Barrasso. "As posições da representante Haaland estão em total desacordo com a missão do Departamento do Interior".

A discusão entre os dois levou os republicanos a criticar repetidamente a decisão de Joe Biden de interromper a perfuração de petróleo e gás em terras federais e de escolher Haaland para supervisionar a gestão das terras que constituem quase um terço do território dos Estados Unidos, incluindo regiões tribais.

"A sua Administração será guiada por um preconceito contra os combustíveis fósseis ou será guiada pela ciência?", perguntou também o republicano Bill Cassidy.

"Queremos avançar com energia limpa, queremos obter carbono zero líquido"
, respondeu a democrata de origem indígena.

Mas a troca de palavras mais acesa entre Haaland e Barrasso indignou tanto os democratas como muitos índios, que consideram que os ataques dos republicanos são preconceituosos e que Deb Haaland só está a ser criticada por ser mulher e de origem indígena.

"Se fosse qualquer outra pessoa, não seria atacada pela sua etnia", disse Cheryl Andrews-Maltais, presidente da Tribo Wampanoag de Gay Head Aquinnah em Massachusetts, acrescentando que só a classificaram de "radical" por ter "origens indígenas".

"Foi horrível. Foi desrespeitoso"
, disse à AP Rebecca Ortega, de Santa Clara Pueblo, no Estado natal de Haaland, Novo México. "Sinto que se fosse um homem branco ou uma mulher branca, ele nunca teria gritado assim".

Vários ativistas de direitos civis vieram, entretanto, defender que a forma como Haaland tem sido atacada é frequente em candidatos de minorias e que estes encontram mais resistência política do que os seus homólogos brancos.

Também Andrew Werk Jr., presidente das Tribos Assiniboine e Gros Ventre na reserva Fort Belknap de Montana, afirmou que a forma hostil como os republicanos questionaram Haaland foi injusta, tanto para a candidata como para os norte-americanos.

Mas, apesar da oposição republicana, Haaland tem apoio suficiente do Partido Democrata para se tornar na primeira nativa norte-americana a liderar o Departamento do Interior. A Comissão de Energia e Recursos Naturais do Senado deve confirmar a nomeação na próxima semana e Deb Haaland, de 60 anos, poderá assumir o cargo.
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