A criação de uma comissão de inquérito para investigar o ataque ao Capitólio a 6 de janeiro foi esta sexta-feira a votos no Senado, tendo sido bloqueada pela ala republicana. Os republicanos apelidaram a comissão bipartidária de “um exercício puramente político”, defendendo que nada acrescentaria às investigações policiais atualmente em curso.
Os democratas precisavam de somar dez votos republicanos aos seus 50 votos no Senado para limitar o tempo de discussão e conseguir uma votação final por maioria simples para fazer aprovar a comissão que já tinha recebido luz verde na Câmara de Representantes.
Contudo, apenas seis republicanos votaram a favor, comprovando as profundas divisões políticas que ainda dilaceram os Estados Unidos, quase cinco meses depois do ataque ao Capitólio, e revelando a influência que Trump ainda tem sobre o Partido Republicano.
Embora o projeto de lei da comissão de inquérito tenha sido aprovado na Câmara dos Representantes, no início deste mês, com o apoio de 35 republicanos, a maioria dos senadores do GOP (sigla pela qual é conhecido o Partido Republicano) argumentou esta quinta-feira que a proposta é “um exercício puramente político”.
Os republicanos defenderam que a comissão de inquérito nada acrescentaria às investigações policiais que estão atualmente em curso, tendo já permitido a detenção de 450 pessoas envolvidas na invasão ao Capitólio, que provocou cinco mortos.
Os republicanos decidiram, assim, manter-se fiéis a Donald Trump, que tinha exortado os congressistas do seu partido a oporem-se à criação da comissão de inquérito, a qual apelidou de “armadilha democrata”.
“De que têm medo? Da verdade?”
Dirigindo-se à ala republicana, o líder democrata no Senado, Chuck Schummer, disse, após a votação, que eles estavam a tentar “varrer as atrocidades daquele dia para debaixo do tapete” por lealdade a Trump.
“De que têm medo? Da verdade?”, questionou Schummer, afirmando que o voto desta quinta-feira comprova que a “grande mentira” de Donald Trump envolve agora todo o Partido Republicano, referindo-se à tese defendida pelo ex-presidente de fraude nas eleições de 2020, as quais apelida de “big lie”.
"Precisamos desesperadamente dessa comissão. (…) Trump tem espalhado a grande mentira nos últimos meses de que as eleições foram fraudulentas, de que foi ele o verdadeiro vencedor na eleição de novembro de 2020”, denunciou Schumer.
Foi, precisamente, a repetir o slogan de “Parem o roubo eleitoral” que milhares de apoiantes de Trump se reuniram em Washington, a 6 de janeiro, para marcharem até ao Capitólio, onde forçaram a entrada, procurando evitar que o Congresso certificasse a vitória do democrata Joe Biden.
A porta-voz da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, disse que os senadores republicanos que votaram contra a comissão de inquérito para investigar a rebelião não cumpriram o seu juramento de apoiar e defender a Constituição.
“Os membros do Senado não são enviados a Washington para carimbar as opiniões de nenhum partido. Eles juraram apoiar e defender a Constituição e hoje, infelizmente, não o fizeram”, defendeu a porta-voz, relembrando que o presidente Biden deixou claro que os “eventos vergonhosos” de 6 de janeiro precisam de ser investigados de forma independente e completa. Jean-Pierre garantiu que a Casa Branca continuará a trabalhar com o Congresso para encontrar um caminho para garantir que isso aconteça.
O líder da maioria democrata no Senado também deixou em aberto a possibilidade de existir outra votação no futuro sobre a criação de uma comissão bipartidária, assegurando que “os eventos de 6 de janeiro serão investigados”.
c/agências