EUA. Republicanos no Senado bloqueiam inquérito sobre ataque ao Capitólio

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Leah Millis - Reuters

A criação de uma comissão de inquérito para investigar o ataque ao Capitólio a 6 de janeiro foi esta sexta-feira a votos no Senado, tendo sido bloqueada pela ala republicana. Os republicanos apelidaram a comissão bipartidária de “um exercício puramente político”, defendendo que nada acrescentaria às investigações policiais atualmente em curso.

A votação no Senado foi de 54-35, ficando à distância de seis votos necessários para ser criada uma comissão bipartidária para investigar o ataque a 6 de janeiro ao Capitólio por apoiantes do ex-presidente Donald Trump.

Os democratas precisavam de somar dez votos republicanos aos seus 50 votos no Senado para limitar o tempo de discussão e conseguir uma votação final por maioria simples para fazer aprovar a comissão que já tinha recebido luz verde na Câmara de Representantes.

Contudo, apenas seis republicanos votaram a favor, comprovando as profundas divisões políticas que ainda dilaceram os Estados Unidos, quase cinco meses depois do ataque ao Capitólio, e revelando a influência que Trump ainda tem sobre o Partido Republicano.

Embora o projeto de lei da comissão de inquérito tenha sido aprovado na Câmara dos Representantes, no início deste mês, com o apoio de 35 republicanos, a maioria dos senadores do GOP (sigla pela qual é conhecido o Partido Republicano) argumentou esta quinta-feira que a proposta é “um exercício puramente político”.

Os republicanos defenderam que a comissão de inquérito nada acrescentaria às investigações policiais que estão atualmente em curso, tendo já permitido a detenção de 450 pessoas envolvidas na invasão ao Capitólio, que provocou cinco mortos.

Os republicanos decidiram, assim, manter-se fiéis a Donald Trump, que tinha exortado os congressistas do seu partido a oporem-se à criação da comissão de inquérito, a qual apelidou de “armadilha democrata”.
“De que têm medo? Da verdade?”
Dirigindo-se à ala republicana, o líder democrata no Senado, Chuck Schummer, disse, após a votação, que eles estavam a tentar “varrer as atrocidades daquele dia para debaixo do tapete” por lealdade a Trump.

“De que têm medo? Da verdade?”, questionou Schummer, afirmando que o voto desta quinta-feira comprova que a “grande mentira” de Donald Trump envolve agora todo o Partido Republicano, referindo-se à tese defendida pelo ex-presidente de fraude nas eleições de 2020, as quais apelida de “big lie”.

"Precisamos desesperadamente dessa comissão. (…) Trump tem espalhado a grande mentira nos últimos meses de que as eleições foram fraudulentas, de que foi ele o verdadeiro vencedor na eleição de novembro de 2020”, denunciou Schumer.

Foi, precisamente, a repetir o slogan de “Parem o roubo eleitoral” que milhares de apoiantes de Trump se reuniram em Washington, a 6 de janeiro, para marcharem até ao Capitólio, onde forçaram a entrada, procurando evitar que o Congresso certificasse a vitória do democrata Joe Biden.

A porta-voz da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, disse que os senadores republicanos que votaram contra a comissão de inquérito para investigar a rebelião não cumpriram o seu juramento de apoiar e defender a Constituição.

“Os membros do Senado não são enviados a Washington para carimbar as opiniões de nenhum partido. Eles juraram apoiar e defender a Constituição e hoje, infelizmente, não o fizeram”, defendeu a porta-voz, relembrando que o presidente Biden deixou claro que os “eventos vergonhosos” de 6 de janeiro precisam de ser investigados de forma independente e completa. Jean-Pierre garantiu que a Casa Branca continuará a trabalhar com o Congresso para encontrar um caminho para garantir que isso aconteça.

O líder da maioria democrata no Senado também deixou em aberto a possibilidade de existir outra votação no futuro sobre a criação de uma comissão bipartidária, assegurando que “os eventos de 6 de janeiro serão investigados”.

c/agências
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