EUA. Treinador da NBA critica senadores por não regulamentarem acesso às armas

por RTP
Steve Kerr criticou senadores americanos que mantêm americanos "reféns" Reuters

É treinador dos Golden State Warriors, da NBA, tem 56 anos e é uma voz ativa pela regulamentação das armas nos Estados Unidos. Na terça-feira, o técnico deixou o basquetebol de lado e falou sem rodeios sobre o poder do lóbi nas armas nos Estados Unidos, pedindo aos políticos que decidem a vida norte-americana para deixarem o poder de lado e começarem a atuar em favor dos americanos.

“É patético”, foi assim que Steve Kerr terminou uma conferência de imprensa de uma partida que ia colocar frente a frente os Golden State Warriors e os Dallas Mavericks, do Texas.

Em pouco menos de três minutos, o treinador, que já adjetivou a liderança política nos Estados Unidos de “cobarde”, deixou o desporto de lado e disse apenas querer falar do tiroteio numa escola primária em Uvalde que tirou a vida a 21 pessoas, 19 crianças e duas professoras.


“Nos últimos dez dias foram mortos idosos negros num supermercado em Buffalo, crentes asiáticos foram mortos no sul da Califórnia e agora crianças foram mortas numa escola”. Kerr continuou, dizendo estar cansado de aparecer em conferências de imprensa e dar as condolências a famílias e de momentos de silêncio antes de jogos.

“Quando é que vamos fazer alguma coisa? Estou cansado de chegar aqui e oferecer condolências a famílias devastadas. Estou cansado dos momentos de silêncio. Chega. Há 50 senadores que recusam votar em verificações de antecedentes e há uma razão para não quererem votar. Para continuarem agarrados ao poder”.

O discurso de Steve Kerr tornou-se viral nas redes sociais e muitos aplaudem as palavras do treinador, que nunca deixa de lado questões sociais e ainda afirmou que os americanos se encontram “reféns” de quem faz as leis no país.
Pai morto no Líbano
Aos 18 anos Steve Kerr perdeu o pai no Líbano. Em 1984, Malcolm Kerr era presidente da Universidade Americana de Beirut. Nos corredores da universidade, Malcolm acabou por ser morto a tiro.

Steve Kerr acabou por tornar-se jogador da NBA, tendo sido cinco vezes campeão da principal liga de basquetebol norte-americana como jogador, sagrando-se campeão por mais três vezes enquanto treinador. No fim do ano passado, tornou-se técnico da seleção nacional dos Estados Unidos.

O antigo jogador e agora treinador seguiu os passos do seu treinador e mentor, Gregg Popovich. Treinador célebre dos San Antonio Spurs, do Texas, o técnico foi sempre crítico sobre discriminação racial, brutalidade policial e outros problemas sociais nos Estados Unidos.

Aproveitando o seu estatuto de figura pública, Gregg Popovich juntou-se a treinadores como Steve Kerr para formar um comité para as injustiças raciais em 2020, para poder refletir e resolver problemas.

Steve Kerr não deixa o poder político de lado e critica abertamente as decisões políticas no seu país. A NBA, ao contrário da NFL, tem-se tornado numa liga que mostra de forma aberta a luta das minorias, apoiando movimentos como o “Black Lives Matter”, que conta com o apoio de jogadores proeminentes como LeBron James e Stephen Curry.

Damion Lee, jogador dos Golden State Warriors, elogiou o treinador no ano passado. “Ele apoia todas as nossas causas quando destacamos injustiças e problemas sociais. O seu passado e o que ele passou faz com que certas questões estejam perto do seu coração. Ele está na vanguarda e sempre lutará pelo que está certo”.

Em janeiro de 2021, a invasão do Capitólio também foi tema de conversa para o treinador.

“Comecei o dia a pensar em como defender o Lou Williams [jogador adversário], e de repente isso não parecia tão importante quando liguei a TV e vi o que estava a acontecer. Foi uma cena bizarra, que vi como um lembrete para a importância da verdade. A verdade é primordial no nosso país e por todo o mundo. Se permitirmos que as mentiras se espalhem, vai haver consequências”.

Depois de perder a partida frente aos Mavericks, Kerr recusou-se a falar da partida e voltou a falar do massacre na escola primária de Uvalde. “Esperemos que alguém decida valorizar as vidas dos nossos cidadãos mais do que o dinheiro e o poder”.
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