Eurovisão em Tel-Aviv continua uma incerteza

por RTP
Corinna Kern- Reuters

Faltam apenas oito meses para a próxima edição do festival da Eurovisão mas a cidade e o país anfitrião ainda estão envoltos em dúvida. As regras da competição determinam que o país vencedor decide o local da próxima edição. O ano passado, em Lisboa, a vencedora foi Netta Barzilai, levando por isso, à partida, a próxima edição para Israel.

Logo após a sua vitória, Netta revelou que estava entusiasmada que “toda a gente fosse ver as pessoas maravilhosas que os israelitas são. As melhores pessoas e o melhor lugar do mundo”. Ainda se festejava a vitória no Altice Arena e já se ouviam as primeiras vozes de protesto contra o país vencedor e a possibilidade de o próximo evento ser organizado por Israel.

Estes protestos prendem-se, sobretudo, com o comportamento militar de Israel contra a Palestina e os seus cidadãos na Faixa de Gaza e depois com a intenção do Governo israelita, de receber a Eurovisão em Jerusalém - um comportamento visto por muitos ativistas pró-Palestina como uma provocação contra os palestinianos e os países muçulmanos em geral.

Foram criados vários movimentos com o objetivo de impedir a realização da Eurovisão em Israel. Um dos mais notáveis é o Boycott Eurovison 2019, uma campanha global que apela a todos os apoiantes para reunirem meios para protestar a nível local ou nacional contra Israel. Os ativistas deste movimento acusam Israel de “usar a Eurovisão como veículo estratégico de propaganda para mostrar o lado bonito de Israel e desviar as atenções dos crimes de guerra que cometem contra os palestinianos”.

Muitos dos protestos visam também a União Europeia de Radiodifusão que a semana passada anunciou Tel-Aviv como a cidade anfitriã do evento para 2019. Ainda assim, Frank-Dieter Freiling, presidente do grupo de referência da Eurovisão, anunciou que o grupo “está à espera de receber garantias do primeiro-ministro [israelita] em relação à segurança, liberdade de expressão e preservação da natureza não-política do concurso”.

Do ponto de vista formal e oficial, o Festival da Eurovisão irá realizar-se dentro de oito meses em Tel-Aviv, Israel, mas até lá ainda existem vários obstáculos que têm de ser superados. Talvez mais prioritário ainda do que apaziguar os apelos de boicote ao evento será perceber se o Governo de Israel vai ser capaz de aceitar os códigos de conduta impostos pela organização da Eurovisão no que toca, principalmente, à livre entrada de todas as pessoas no recinto, mesmo que isso possa incluir ativistas anti-Israel e de respeitar o seu direito de liberdade de expressão.

Muitos ainda esperam que passe a ser outro o país anfitrião. Apesar das regras que permitiram a Portugal acolher a Eurovisão do ano passado depois da vitória de Salvador Sobral na Ucrânia, vários grupos afetos à causa palestiniana veem este ano como uma exceção à regra. O motivo desta visão particular está em tratar-se de um país envolto em guerra e acusado de vários crimes de guerra e de um regime político, social e religioso que não se adequa à realização de um evento como a Eurovisão, vocacionado para promover o respeito e a diversificação cultural.

Por outro lado, Israel já anunciou que as reservas hoteleiras em Tel-Aviv para maio de 2019, altura em que irá decorrer o concurso da Eurovisão, dispararam. Uma demonstração de que também já são muitas as pessoas que estão convencidas que a próxima edição será mesmo em Tel-Aviv. A menos de um ano para o arranque da Eurovisão, o único que é certo é que ainda existem muito poucas certezas.
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