Ex-ministro Sergio Moro contratado por empresa responsável por recuperação judicial da Odebrecht no Brasil

por Lusa

O ex-juiz da operação Lava Jato e antigo ministro da Justiça do Brasil, Sergio Moro, foi contratado para um cargo de direção da consultora norte-americana Alvarez & Marçal, responsável pela recuperação judicial do Grupo Odebrecht.

Num comunicado divulgado nesta segunda-feira, a empresa frisou que Moro será sócio-diretor da área de Disputas e Investigações.

"A contratação de Moro está alinhada com o compromisso estratégico da A&M em desenvolver soluções para as complexas questões de disputas e investigações, oferecendo aos clientes da consultoria e os seus próprios consultores a `expertise` [experiência] de um ex-funcionário do Governo brasileiro", diz a consultoria.

"Moro é especialista em liderar investigações anticorrupção complexas e de alto perfil, crimes de colarinho branco [crime coorporativo], branqueamento de dinheiro e crime organizado, bem como aconselhar clientes sobre estratégia e conformidade regulatória proativa", acrescentou a empresa.

A contratação do ex-juiz gerou polémica e críticas sobre conflito de interesses já que Moro conhece detalhes sigilosos da maior operação anticorrupção em curso no sistema judicial do país, a Lava Jato, que envolve a Odebrecht e outras empresas, e também teve acesso a informações sigilosas do Governo.

A consultoria Alvarez & Marçal alegou que a contratação dele reforça a sua equipa, que também é formada por ex-funcionários públicos do Governo dos Estados Unidos.

Moro, por sua vez, usou as redes sociais para negar conflito de interesses.

"Ingresso nos quadros da renomada empresa de consultoria internacional Alvarez&Marsal para ajudar as empresas a fazer a coisa certa, com políticas de integridade e anticorrupção. Não é advocacia, nem atuarei em casos de potencial conflito de interesses", escreveu o ex-juiz ao comentar sua contratação na rede social Twitter.

Antes das eleições de 2018, Moro era muito popular entre os conservadores, o que motivou um convite para ocupar o cargo de ministro da Justiça e Segurança Pública do Brasil durante o Governo do Presidente, Jair Bolsonaro.

Em abril passado, Moro pediu a demissão, alegando que houve uma tentativa de interferência de Bolsonaro na Polícia Federal e rompeu com o Presidente brasileiro.

A operação Lava Jato, iniciada em 2014, desvendou um vasto esquema de corrupção envolvendo a petrolífera Petrobras e outros órgãos públicos brasileiros, que levou à prisão de empresários, ex-funcionários públicos e políticos.

As investigações não se limitaram ao Brasil e espalharam-se por uma dezena de outros países da América Latina e de África, cujas autoridades ainda investigam o pagamento de subornos.

No entanto, os promotores da Lava Jato, cujo centro de operações fica na cidade brasileira de Curitiba, no sul do país, vivem desde o ano passado o seu momento mais difícil, cercados de críticas internas e externas pela suposta falta de transparência e parcialidade nas investigações.

Moro e membros do grupo de trabalho da Lava Jato estão envolvidos num escândalo conhecido como "Vaza Jato", que começou em junho passado, quando o `site` investigativo The Intercept Brasil e outros `media` parceiros começaram a divulgar reportagens que colocam em causa a imparcialidade da maior operaçao anticorrupção do país.

Baseadas em informações obtidas de uma fonte não identificada, estas reportagens apontam que Moro terá orientado os procuradores da Lava Jato, indicado linhas de investigação e adiantado decisões enquanto era juiz responsável por analisar os processos do caso em primeira instância, atos antiéticos e ilegais.

Moro e os procuradores da Lava Jato, por seu turno, sempre negaram terem cometido irregularidades e fazem críticas às reportagens publicadas, afirmando que são sensacionalistas e usam conversas que podem ter sido adulteradas e foram obtidas através de crime cibernético, embora nunca tenham contestado judicialmente nem apontado provas de adulteração ou fraude nas informações publicadas pelos jornalistas brasileiros.

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