Explosão em Cabul perto de embaixadas faz dezenas de mortos

por Andreia Martins - RTP
Mohammad Ismail - Reuters

O atentado ocorreu esta quarta-feira na capital afegã junto a um bairro diplomático e ainda não foi reivindicado. Há pelo menos 80 mortos e 350 feridos confirmados.

Um camião armadilhado explodiu esta quarta-feira perto do Palácio Presidencial, próximo de várias embaixadas ocidentais e edifícios governamentais. A informação foi confirmada à agência France-Presse por responsáveis do Governo afegão. 

A explosão, na sequência de um ataque suicida, ocorreu perto das 08h25 locais (04h55 em Lisboa) junto à praça de Zanbaq, perto de um bairro diplomático da capital, segundo confirmou um porta-voz do Ministério afegão do Interior.


Através do Twitter, o mesmo porta-voz do Ministério do Interior apelou à população para doar sangue nos hospitais da cidade.

O Ministério afegão da Saúde assume que o número de mortos poderá ser novamente atualizado, dado o número de pessoas feridas e de corpos que continuam a dar entrada nos hospitais da cidade. 

O Presidente do Afeganistão já veio condenar o ataque "cobarde". Ashraf Ghani lembra que o atentado acontece no início do Ramadão e visou "civis inocentes no seu dia-a-dia". 

A agência France-Presse conta que o impacto do estrondo fez-se sentir em vários pontos da cidade e causou o pânico entre a população. Uma enorme nuvem de fumo cobriu a cidade após a explosão. 

"Parecia um terramoto", conta Mohammad Hassan, um dos testemunhos ouvidos pela agência Reuters que apresentava ferimentos na cabeça.
Feridos na Embaixada alemã
Marielle de Sarnez, ministra francesa dos Assuntos Europeus, confirmou logo pela manhã, em entrevista à rádio Europe 1, que as embaixadas de França e da Alemanha em Cabul sofreram "danos materiais". 

O representante da diplomacia alemã confirma entretanto que vários funcionários da Embaixada germâmica na cidade ficaram feridos na sequência da explosão. Pelo menos um agente de segurança afegão que trabalhava no edifício acabou por morrer, segundo foi confirmado por Sigmar Gabriel. 

“O ataque aconteceu muito perto da Embaixada alemã. Atingiu os civis e aqueles que estão no Afeganistão a trabalhar num futuro melhor para país. É particularmente desprezível que essas pessoas tenham sido o alvo deste ataque” escreveu no Twitter.

A Embaixada da Índia, localizada a poucas centenas de metros do local do atentado, confirma que não registaram vítimas ou feridos. 

“Graças a Deus, o pessoal da Embaixada indiana saiu ileso desta enorme explosão em Cabul”, tweetou a chefe da diplomacia da Índia, Sushma Swaraj.
O embaixador Manpreet Vohra confirma que não há vítimas entre os diplomatas indianos, mas que o edifício sofreu danos. "A explosão foi muito forte e vários edifícios nas redondezas, o nosso incluído, sofreram danos consideráveis, com várias janelas partidas e portas rebentadas". 

A Embaixada da China também foi atingida e a Embaixada do Reino Unido, perto do local, confirmou que não houve baixas entre os representantes britânicos. O edifício da Embaixada da Turquia também foi atingido, mas não há registo de feridos. 

Um motorista afegão que trabalhava para a BBC morreu na sequência da explosão e quatro jornalistas ficaram feridos, refere o comunicado da televisão britânica. 

“É com grande tristeza que a BBC confirma a morte do motorista afegão Mohammed Nazir na explosão hoje de um camião armadilhado em Cabul, quando conduzia os seus colegas para o escritório”, pode ler-se no comunicado. 

Jessica Donati, correspondente do Wall Street Journal no Afeganistão, conta à CNN que um dos funcionários do jornal no escritório de Cabul ficou ferido. Várias janelas ficaram partidas.

Talibãs negam envolvimento

A cerca de dois quilómetros do local está situada a Embaixada dos Estados Unidos, que não terá sido um dos alvos desta explosão, segundo um porta-voz da representação diplomática norte-americana. Um representante da polícia de Cabul disse à BBC que o ataque ocorreu perto de vários edifícios importantes e por isso é difícil perceber qual era o verdadeiro alvo. 

Até ao momento o atentado não foi revindicado por nenhum grupo terrorista. Sabe-se que o Estado Islâmico tem desencadeado ataques com este perfil no Afeganistão nos últimos meses. 

Os talibãs, que há um mês após anunciaram o início da "ofensiva de primavera" contra o Governo afegão - e que estiveram na origem de dois grandes atentados registados desde o início do ano, em janeiro e em março - já vieram negar o envolvimento neste ataque.

"O Emirato Islâmico condena os ataques levados a cabo contra civis e em que se verificam baixas civis sem um objetivo claro", assinala o comunicado difundido por um porta-voz da organização talibã.

Atualmente, os Estados Unidos contam com cerca de 8400 homens no terreno, envolvidos no apoio direto ao Governo afegão, ao lado de mais de 5000 enviados ao serviço da NATO. Desde finais de 2014, altura em que foram retiradas várias forças internacionais em grande número, os talibãs conseguiram ganhar terreno e intensificar as atividades no território afegão.

O objetivo declarado é a deposição das forças governamentais apoiadas pelo Ocidente e reposição da lei islâmica no país, após a invasão norte-americana do Afeganistão, em 2001.

Na sequência dos acontecimentos nos últimos meses é esperada para breve uma decisão por parte do Presidente norte-americano sobre o envio de novas tropas para o país, entre 3000 a 5000 homens.
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