Vários médicos estão a exigir ao Facebook que ponha fim a grupos anti-vacinas que operam na rede social e onde publicam e difundem informação falsa sobre a vacinação. Escreve o The Guardian esta terça-feira que em causa estão grupos fechados para os quais é necessária autorização prévia dos administradores para que novos membros sejam aceites. Ao impedirem o acesso público, estes grupos conseguem partilhar informação infundada que não pode ser contestada.
Os riscos que este grupos “anti-vacinas” no Facebook representam foram mesmo destacados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma das 10 principais ameaças à saúde em 2019. A OMS aponta para um aumento mundial de 30% do sarampo, uma doença altamente contagiosa que pode causar surdez, inflamação cerebral, pneumonia e morte, especialmente em crianças.
“Não permitimos que grandes empresas farmacêuticas, de alimentos ou de rádio façam isto, porque é que deixamos isto acontecer com o Facebook?”, disse Noni MacDonald, professor de Pediatria da Dalhousie University em Halifax, Nova Escócia, especialista da OMS em imunização.
A situação ganhou dimensão depois de em Washington, nos EUA, ter sido declarado estado de emergência após a morte de 48 pessoas com sarampo. A maioria não estava vacinada e tinha menos de 10 anos de idade.
Entre várias afirmações falsas, estes grupo fechados alegam que a vitamina C previne o sistema imunitário contro o sarampo. O que é falso, garante David Robert Grimes, um físico conhecido por se ter especializado nos últimos anos no combate a notícias falsas divulgadas como factos ciêntíficos. “O Facebook tem a responsabilidade moral de fazer algo – esta desinformação tem a capacidade de matar crianças”, disse ao The Guardian.
O sarampo foi “eliminado” dos EUA em 2000. Mas, desde então, as declarações dúbias do desacreditado médico britânico Andrew Wakefield, sobre uma suposta ligação entre a vacina e o autismo – apesar de vários estudos que provam que não existe uma conexão - lançaram dúvidas junto dos pais, que deixaram de vacinar os filhos.
O Centro de Controle e Prevenção de Doenças alertou recentemente que existem cerca de 100 mil crianças americanas com menos de 2 anos de idade que não estão completamente vacinadas. Número quatro vezes superior ao registado em 2001.
A pressão sobre o Facebook para acabar com informações imprecisas partilhadas na rede ocorre quando o CEO da empresa, Mark Zuckerberg, e a mulher, Priscilla Chan, financiaram um novo programa, no valor de três mil milhões de dólares, que pretende "curar todas as doenças", sendo um dos principais objetivos desta missão o desenvolvimento de novas vacinas.
Segundo The Guardian, o Facebook afirma estar cada vez mais envolvido no combate à desinformação que causa “danos no mundo real”. No entanto, apesar dos riscos para a saúde, a anti-vacinação atualmente não é considerada uma violação das regras de conteúdo da plataforma.