Fevereiro: Lutar contra Charlie em Copenhaga

O mundo recordará com maior força os ataques a Paris de janeiro e novembro, mas também Copenhaga foi atingida pela fúria terrorista. Um ataque que tirou a vida a duas pessoas e do qual sobressaem várias similitudes com o ataque ao Charlie Hebdo.

14 de fevereiro de 2015. Todos ainda éramos Charlie quando tivemos de mudar o olhar para norte. Estavam ainda bem presentes os ataques à vida humana e à liberdade de expressão que atingiram a capital francesa em janeiro quando, em Copenhaga, o espírito antidemocrático e totalitário voltou a atacar.

O resultado foi menos trágico do que aquele que se verificou em Paris. Ao fim de dois tiroteios, levados a cabo pelo mesmo homem, morreram duas pessoas.


Pedro Esteves, António Nunes - RTP (14 de fevereiro)

Apesar da diferença, a comparação entre os dois ataques é obrigatória. Afinal, foi o ataque ao jornal satírico que inspirou Omar el-Hussein: o dinamarquês de 22 anos que atacou a 14 e 15 de fevereiro de 2015 em nome do autoproclamado Estado Islâmico.

No local do primeiro ataque homenageavam-se, precisamente, as vítimas do ataque ao Charlie Hebdo. “Arte, Blasfémia e Liberdade de Expressão” estavam em debate na capital dinamarquesa. O ataque confirma a opinião dos islamitas sobre estes temas.

Também o guião do ataque é semelhante ao de Paris. Começa com um ataque ligado à imprensa. Segue-se uma ofensiva num local associado à comunidade judaica. Tudo acaba com uma caça ao homem e com o responsável abatido.
Atacar a imprensa
Passam 14 dias desde o princípio do mês de fevereiro. Os primeiros tiros ecoam no Centro Cultural Krudttønden quando são 14h33 em Lisboa. No local, debate-se a arte, a blasfémia e a liberdade de expressão em homenagem às vítimas do ataque ao jornal satírico Charlie Hebdo.

Estão presentes personalidades de relevo. Entre eles, o embaixador francês na Dinamarca e Lars Vilks. O nome poderá não lhe significar nada, mas certamente muitos se lembram da controvérsia que os seus desenhos de Maomé, em que o profeta surge com cabeça de cão, geraram em 2007.


RTP (15 de fevereiro)

Por isso mesmo, acredita-se que Lars Vilks, cujo cabeça o autoproclamado Estado Islâmico colocara a prémio, é o alvo principal. Aliás, dois dos feridos no ataque eram agentes da polícia que estavam encarregues da sua segurança. Ao todo, houve três feridos e uma pessoa faleceu: o realizador dinamarquês Finn Nørgaard.

O atirador consegue escapar. Ao contrário dos ataques de Charlie Hebdo, o atacante não conseguiu entrar no edifício, o que contribuiu para que a tragédia fosse menor.
Ataque à comunidade judaica
Nove horas depois dá-se o segundo ataque. São 23h50 em Lisboa, já se vivem os primeiros minutos de dia 15 de fevereiro em Copenhaga. O alvo é a maior sinagoga da capital dinamarquesa, no bairro de Krystalgade, onde estavam cerca de 80 pessoas.

No local decorria um bar mitzvah, cerimónia judaica realizada quando os jovens judaicos atingem os 13 anos. O atacante não consegue entrar na sinagoga, mas tira a vida a Dan Uzan, um dos seguranças que estava de prevenção no exterior. Dois agentes policiais são feridos pelas balas disparadas por Omar el-Hussein.

Perpetrado o segundo ataque, o terrorista consegue escapar, sendo dada continuidade à caça ao homem.
Caça ao homem
Perto das 5h00 locais, o então suspeito regressa a um edifício perto da estação de Nørrebro. O local estava sob vigilância e a estação ferroviária tinha sido evacuada. Afinal, aquele tinha sido o local para onde Omar el-Hussein tinha ido logo a seguir ao primeiro ataque.

A polícia afirma que gritou pelo suspeito, que respondeu com disparos. Omar el-Hussein viria a morrer durante o tiroteio, que não provocou ferimentos a qualquer agente da autoridade.


Margarida Neves de Sousa, Paulo Nunes - RTP (15 de fevereiro)

Sabe-se agora que o homem já estava referenciado pelas autoridades dinamarquesas pour posse de arma ilegal e atos de violência. Mesmo depois de abatido, não deixa de gerar controvérsia, com os dinamarqueses preocupados pelo facto de terem sido prestadas homenagens a el-Hussein.

Flores foram colocadas junto ao palco do tiroteio final, em homenagem a Omar el-Hussein. O gesto é justificado com a necessidade de perdoar, de lamentar a morte do jovem e não de um terrorista. Não deixa de chocar muitos dinamarqueses, em especial quem habita próximo do local.