Mundo
França volta a ter governo "para dar um orçamento" ao país
O renomeado primeiro-ministro francês, Sébastien Lecornu, apresentou este domingo o seu novo executivo, dias depois de se ter demitido e logo depois novamente nomeado pelo presidente Emmanuel Macron. A composição do gabinete foi anunciada pelas 22h00 locais pelo Eliseu e comentada pelo chefe de overno na rede social X.
"Foi nomeado um governo de missão para fornecer à França um orçamento antes do final do ano", escreveu Sébastien Lecronu na sua conta.
"Agradeço às mulheres e aos homens que se envolvem livremente neste governo, para além dos interesses pessoais e partidários. Só uma coisa importa: o interesse do país", acrescentou.
São vários os ministros reconduzidos. O principal é Roland Lescure, um aliado próximo de Emmanuel Macron, rebatizado ministro das Finanças, que assume a pasta sob intensa pressão para aprovar um orçamento para 2026 num parlamento profundamente dividido.
As próximas horas não serão fáceis.
Rivais de todo o espetro político, da extrema-direita à extrema-esquerda, criticaram a decisão de Macron de reconduzir Lecornu, o quarto primeiro-ministro de França em menos de um ano.
A França enfrenta desafios económicos crescentes e um forte aumento da dívida, e a crise política agrava as dificuldades, gerando preocupação na União Europeia.
Lecornu perdeu entrentanto o seu principal aliado de direita, com o objetivo de, pelo menos, apresentar um projeto de Orçamento dentro do prazo estipulado.
Prazo apertado
A França continua sem orçamento para 2026. De acordo com a Constituição, o parlamento deve dispor de pelo menos 70 dias para examinar um projeto de orçamento antes de 31 de dezembro.
O prazo é apertado. Lecornu tem até segunda ou terça-feira para apresentar um documento.
Vários meios de comunicação social franceses noticiaram que não haverá reunião do Conselho de Ministros na segunda-feira, razão pela qual não será possível aprovar o projeto de orçamento para 2026 e a Assembleia Nacional (parlamento) poderá não ter margem legal suficiente para o debater e aprovar antes de 31 de dezembro.
O líder do Partido Socialista francês, Olivier Faure, assegurou este domingo que "não há acordo" com o primeiro-ministro para apoiar o Governo ou os seus orçamentos, agravando a crise política. Depois do anúncio do Eliseu, Faure reagiu laconicamente no X. "Sem comentários..." escreveu em inglês.
Mathilde Panot, líder dos deputados da França Insubmissa (LFI), deixou por seu lado um aviso aos novos ministros. "Macron está cada vez mais isolado e atrofiado", escreveu. "Um conselho aos recém-chegados: não desfaçam as malas tão depressa. A censura está a chegar. E a saída de Macron virá a seguir!"
Ciente do momento delicado, o gabinete do primeiro-ministro pediu aos novos membros do executivo uma cerimónia de transferência de poder "sóbria", sem a presença da imprensa ou de convidados, segundo apurou a agência France-Presse.
As cerimónias de transferência também terão lugar "em ambientes fechados", acrescentou a mesma fonte. Discursos costumam pontuar estas transferências, com a presença de inúmeros convidados e da comunicação social.
Expulsos do LR
Além de Lescure, os repetentes no Governo francês incluem Jean-Noël Barrot, ministro dos Negócios Estrangeiros e a até agora ministra do Trabalho, Catherine Vautrin, que transita para a pasta da Defesa.
Annie Genevard contrariou instruções do seu partido, Les Republicains (LR), ao aceitar permanecer na pasta da Agricultura.
"Optei por aceitar numa altura em que a agricultura francesa atravessa profundas dificuldades e a França atravessa uma grave crise política", explicou a ministra reconduzida em comunicado.
"Tenho um dever para com os nossos agricultores, que esperam, acima de tudo, respostas imediatas, coerência na ação pública, clareza nas decisões e coragem para enfrentar os desafios", acrescentou.
A sua escolha, e a de outros cinco membros do LR, valeu-lhes a expulsão do partido.
Em comunicado de imprensa, o LR anunciou que os seis ministros "cessam imediatamente as suas funções nos nossos órgãos de governo".
"Os membros da LR que concordaram em juntar-se ao governo já não podem declarar-se membros dos Republicanos", declarou o partido, especificando que os seus órgãos de governo se reunirão "nos próximos dias para tomar uma decisão final".
Outros critérios
No sábado, o gabinete político da LR votou a favor do apoio ao governo sem participação.
Em contraste, o porta-voz do partido Horizontes, Arnaud Péricard, respondeu ao Le Monde após a nomeação de três dos seus membros.
"Todos os três informaram Edouard Philippe durante o dia. São decisões pessoais. A exclusão não está no ADN do nosso jovem partido político. Agora, aguardamos a linha política e a declaração geral de política esta terça-feira" referiu.
"Todos os três informaram Edouard Philippe durante o dia. São decisões pessoais. A exclusão não está no ADN do nosso jovem partido político. Agora, aguardamos a linha política e a declaração geral de política esta terça-feira" referiu.
Gérald Darmanin, do partido Renascimento e reconduzido no Ministério da Justiça, decidiu por seu lado "desistir de toda a atividade partidária".
No novo executivo destaca-se ainda o presidente da Câmara de Paris, Laurent Nuñez, nomeado para a pasta da Administração Interna.
com agências