Gafanhotos devoram colheitas e meios de subsistência no Paquistão

por RTP
Vários países de África e Ásia estão a enfrentar uma das maiores pragas de gafanhotos da história recente. Baz Ratner - Reuters

Os agricultores paquistaneses estão a enfrentar a pior praga da história recente. Muitas famílias ficaram sem meios de subsistência, numa altura em que o país já estava a sofrer os efeitos da pandemia de Covid-19.

Os agricultores do Paquistão estão a sofrer a pior praga de gafanhotos da história recente, o que já provocou prejuízos monetários astronómicos e está a conduzir à escassez de alimentos a longo prazo.

O Governo paquistanês já declarou situação de emergência nacional desde que os gafanhotos devastaram as colheitas do ano passado. O país deverá sofrer prejuízos na ordem de dois mil milhões de libras com a perda das culturas de inverno e mais de 2,3 mil milhões de libras com a perda das culturas de verão, estima a FAO.

Os resultados são ainda mais devastadores se pensarmos que a agricultura representa 20 por cento do PIB do Paquistão e cerca de 65 por cento da população vive e trabalha em áreas agrícolas. A subida de 15 por cento no preço de bens essenciais, como a farinha e vegetais, pode comprometer a alimentação das famílias.

O ministro da Agricultura da região de Sindh, no sul do Paquistão, diz que esta praga representa “uma ameaça perigosa e catastrófica para a economia, a agricultura e a segurança alimentar no Paquistão”.

“Este ano será dez vezes pior que no ano passado. Os gafanhotos estão a atacar a partir de três zonas e já cobriram, com os seus ovos, 50 mil quilómetros quadrados de terras agrícolas. Estamos à espera que infestem mais de cinco milhões de hectares”, disse o responsável regional.

Mas, para além de Sindh, também as zonas de Punjab e Balochistão estão a ser fortemente afetadas.
“Situação podia ter sido evitada”

A situação ocorre ainda num contexto económico difícil que se agrava ainda mais com a crise mundial provocada pela pandemia do novo coronavírus.

De acordo com os dados da Universidade de Johns Hopkins, há registo de mais de 56 mil casos de Covid-19 no Paquistão. O número de óbitos, calculado a partir de dados oficiais, é de 1.167.

Esta praga de proporções bíblicas, como muitos a classificam, já passou pelos Emirados Árabes Unidos e deverá chegar ao Irão nas próximas semanas.

Acredita-se que a população de gafanhotos tenha tido um crescimento exponencial após as chuvas fortes que ocorreram na península arábica, ainda em 2019. A situação tem vindo a afetar o Paquistão e a Índia, bem como vários países africanos.

Em maio de 2019, numa altura em que a primeira praga se fazia sentir, Muhammad Akram Dashti, um responsável da região de Balochistão pediu ao Governo federal que fosse preparada uma ação concertada para fazer face à praga de gafanhotos.

A situação podia ter sido evitada. Eu levantei essa questão quando o problema ainda estava confinado a uma parte da província do Balochistão. Cabia ao Governo ajudar os agricultures a fazerem face a esta destruição, mas o Governo não levou o aviso a sério. Pedi várias vezes a pulverização dos campos. Nada aconteceu. Agora, muitas pessoas vão morrer à fome”, denunciou o responsável local.
Cooperação com a Índia?

O jornal The Guardian refere que a segunda vaga de gafanhotos que assola a região é mais mortífera e poderosa que a anterior, já que os insetos são 20 vezes maiores, podem viajar até 140 quilómetros por dia e depositar até 1.000 ovos por metro quadrado.

De acordo com a FAO, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura, o incremento de gafanhotos no deserto continua a gerar uma situação crítica não só na Ásia mas também em África e no Iémen.

Na atualização dos dados, publicada na semana passada, a FAO considera que a situação continua “muito alarmante”, também na África Oriental. Países como o Quénia, Etiópia e Somália enfrentam igualmente “uma ameaça sem precedentes à segurança alimentar”.

A FAO alerta ainda para a forte possibilidade de uma nova vaga de gafanhotos a partir de junho, sobretudo junto à fronteira indo-paquistanesa. Nova Deli já pediu a colaboração de Islamabad para que os países enfrentem a situação em conjunto, a par do Irão, que também deverá sofrer em breve as consequências desta praga.  

No entanto, os analistas consideram que dificilmente o Paquistão irá responder de forma positiva a esta proposta de cooperação, tendo em conta o confronto constante dos dois países junto à fronteira, no território de Caxemira, que inviabilizou o esforço bilateral na contenção da Covid-19. 
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