Gaza enfrenta "fome em massa" provocada por restrições de ajuda, diz chefe da OMS

Gaza está a sofrer de "desnutrição aguda grave" causada "pelo homem" devido ao bloqueio à ajuda humanitária no enclave palestiniano, disse o chefe da Organização Mundial da Saúde esta quarta-feira. Pelo menos 111 pessoas, entre elas 21 crianças morreram de desnutrição, mas Tedros Ghebreyesus diz que "é apenas a ponta do iceberg". A ONU e os parceiros humanitários não conseguem entregar alimentos há quase 80 dias.

Carla Quirino - RTP /
Dawoud Abu Alkas - Reuters

“Desde 17 de julho, centros de tratamento estão lotados de pessoas que sofrem de desnutrição aguda grave, e não tem provisões suficientes para alimentação de emergência” alertou Tedros Adhanom Ghebreyesus, chefe da Organização Mundial da Saúde (OMS).

No enquanto, existem toneladas de alimentos, água potável e abastecimento de medicamentos nos arredores de Gaza barrados por Israel dizem mais de 100 agências humanitárias referindo-se à fome que se abate no território palestiniano.

"Não sei como se pode classificar esta fome em massa e que está a ser causada pelo homem, isso é muito claro", afirmou Tedros numa conferência de imprensa em Genebra. "Isso deve-se ao bloqueio", acrescentou.
"Querem ir para o céu" porque lá há comida

Os produtos alimentares em Gaza esgotaram-se desde que Israel cortou todo o fornecimento ao território em março.

Em seguida, Telavive, embora tenha suspendido o bloqueio em maio, manteve fortes restrições que justificou serem necessárias “para impedir que a ajuda fosse desviada para os grupos militantes do Hamas”.

Neste cenário continuamente controlado por Israel, as agências internacionais de ajuda humanitária reportam que apenas uma pequena parte do que é necessário está a chegar à população de Gaza.

Numa carta subescrita por 109 agências, incluindo Médicos Sem Fronteiras, Oxfam Internacional e Anistia Internacional, é dito claramente que que o Governo israelita impede as organizações humanitárias de distribuir efetivamente a ajuda para salvar vidas.

Entre testemunhos citados no comunicado das agências um trabalhador humanitário em Gaza relata: “As crianças dizem aos pais que querem ir para o céu, porque pelo menos o céu tem comida”. 
Telejornal, 23 de julho de 2025

Por sua vez, Israel afirma que está comprometido em permitir a entrada da ajuda. Diz mesmo que já deixou entrar comida suficiente em Gaza durante a guerra e aponta o dedo ao Hamas pelo sofrimento dos habitantes do enclave.

Neste momento, a distribuição diária de ajuda é em média o equivalente a cerca de 28 camiões de bens humanitários. Antes do ataque do Hamas em outubro de 2023, entravam em Gaza cerca de 500 camiões para alimentar os mais de dois milhões de habitantes.

Os bens alimentares são agora distribuídos pela Fundação Humanitária de Gaza (GHF), apoiada pelos EUA e Israel, em locais que têm sido descritos por funcionários da ONU como “armadilhas de morte”.

Com a propagação da fome, a morte entre civis aumentou. Em julho, uma pessoa tem sido morta por Israel a cada 12 minutos, tornando-se um dos meses mais mortais da guerra de Gaza, revelou uma análise dos dados da ONU.
Mortes por desnutrição
Na última noite, pelo menos mais dez palestinianos morreram de fome informou o Ministério da Saúde de Gaza, elevando o total de vítimas mortais devido à fome para 111.

A OMS afirmou que a desnutrição já causou a morte de pelo menos 21 crianças menores de cinco anos, segundo relatos à agência em 2025, mas enfatizou que “esses números provavelmente são apenas a ponta do iceberg”.

Os centros de tratamento de desnutrição estão lotados, sem armazenamento de bens suficientes para alimentação de emergência, acrescentou a OMS, já que a crise da fome foi agravada pelo colapso dos canais de ajuda e pelas restrições de acesso.

Tedros afirmou que a ONU e os seus parceiros humanitários não conseguem entregar alimentos há quase 80 dias, entre março e maio, e que o pouco que entra no território é insuficiente.

A OMS deixa claro que a situação é grave. As taxas globais de desnutrição aguda em Gaza excedem os 10 por cento, enquanto mais de 20 por cento das mulheres grávidas e lactantes examinadas estão severamente desnutridas, descreveu.

Só em julho, a OMS documentou 5.100 crianças que foram internadas em programas de desnutrição, incluindo 800 gravemente debilitadas, afirmou Rik Peeperkorn, representante da Organização para os territórios palestinianos ocupados.

A situação da água piora todos os dias. Tedros explicou que 95% das famílias enfrentam escassez grave, com acesso diário muito abaixo do mínimo necessário para beber, cozinhar e higiene.

"Há uma fome em massa", alertou o chefe da OMS. "Exigimos que haja acesso total à ajuda e exigimos que haja um cessar-fogo", reforçou. 

c/agências
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