Ginastas norte americanas acusam Comité Olímpico e FBI de "fecharem os olhos" durante a investigação de abuso sexual

por Carla Quirino - RTP
Saul Loeb - Reuters

As atletas Simone Biles, Maggie Nichols, Aly Raisman e McKayla Maroney repetiram o testemunho dos abusos que sofreram às mãos do ex-médico da equipa nacional de ginástica feminina americana, Larry Nassar, perante o Comité Judicial do Senado dos EUA. O assunto regressa à luz do dia depois de um relatório realizado pela Inspeção Geral do Departamento de Justiça concluir que vários agentes do FBI encobriram factos e testemunhos durante a investigação, permitindo a continuidade dos abusos de Nassar.

"Eu culpo Larry Nasser e também culpo todo um sistema que permitiu e perpetrou […] o seu abuso", disse Simone Biles, ginasta olímpica medalhada quatro vezes, citada pela Reuters.

Biles teve que conter as lágrimas durante a sessão enquanto explicava que os organismos reguladores olímpicos não agiram perante as denúncias das atletas e o próprio FBI "fechou os olhos".
Simone Biles | Graeme Jennings-Reuters

McKayla Maroney recordou que em 2015 revelou ao FBI detalhes do abuso que sofreu durante os Jogos Olímpicos de Londres em 2012. Disse que durante três horas de conversa com os agentes federais descreveu Nassar como "mais pedófilo do que médico".
 
Maroney foi abusada continuamente desde os 13 anos, durante sete anos.

Perante a audiência de senadores, a atleta disse sentir-se traída pelo FBI porque "optaram por distorcer, mentir sobre o que eu disse e proteger um pedófilo em série".

Maroney acrescentou "de que serve denunciar abusos se os nossos próprios agentes do FBI vão enterrar essa denúncia numa gaveta?".

Aly Raisman, capitã da equipa olímpica entre 2012 e 2016, declarou que mais de seis anos depois de denunciar os abusos "ainda está a lutar pelas respostas mais básicas e responsabilidade". Acusa os agentes de tentarem minimizar a gravidade dos atos de Nassar.

"Lembro-me de estar sentada com o agente do FBI e de ele tentar convencer-me de que não era assim tão mau. O agente reduziu o significado do meu abuso. Fez-me pensar que não valia a pena prosseguir com o meu caso criminalmente", disse Raisman. "Foi preciso vários anos de terapia para me aperceber que o meu abuso era mau, que importava", acrescentou a atleta .
As atletas Simone Biles, Maggie Nichols, Aly Raisman e McKayla Maroney | Graeme Jennings-Reuters

O Comité Judicial do Senado americano está a escrutinar as falhas nos procedimentos dos agentes do FBI durante a investigação sobre os abusos sexuais perpetrados por Larry Nassar. Para além de ouvir os testemunhos das atletas, o Senado examina as conclusões do relatório de 119 páginas dirigido pela Inspeção Geral do Departamento de Justiça que revela diversos erros e encobrimentos por parte dos agentes federais.

Para este relatório ser produzido, os agentes federais foram confrontados com os erros cometidos. Depois de detetadas mentiras por parte de dois dos oficiais do FBI, ao tentarem encobrir as falhas, um dos operacionais foi despedido, segundo a Agência Federal.

Presente na sessão esteve o diretor do FBI, Christopher Wray, que pediu desculpas pela "conduta repreensível" e "erros fundamentais" revelados ao pormenor no relatório de julho. Wray disse que só assumiu o cargo em 2017 e garantiu que iria fazer tudo para não se repetirem casos mal conduzidos.

A investigação do FBI sobre Nassar começou em julho de 2015, depois do presidente e CEO da USA Gymnastics, Stephen Penny, denunciar os abusos ao FBI em Indianápolis.

O agente responsável pela agência, W. Jay Abbott, não abriu formalmente a investigação, atrasando os procedimentos legais. Somaram-se os erros dos agentes, permitindo a continuidade dos abusos do médico. Os agentes federais não foram processados.

Larry Nassar cumpre prisão perpétua desde 2018. Foram comprovados crimes de abuso sexual a mais de 330 mulheres e meninas na equipa de ginástica americana e na Universidade de Michigan.
Tópicos
pub