Glifosato. Monsanto condenada a pagar dois mil milhões de dólares a casal com cancro

por Cristina Sambado - RTP
A utilização de glifosato tem oposto ambientalistas e grupos de consumidores à industria Thilo Schmuelgen - Reuters

Um júri da Califórnia, nos Estados Unidos, condenou a empresa Monsanto, detida pela Bayer, a pagar uma indemnização de dois mil milhões de dólares a um casal norte-americano. É a terceira vez que o grupo é condenado a pagar indemnizações devido ao uso do herbicida Roundup, que contém glifosato.

O casal com cancro, Alva e Alberta Pilliod, de 70 anos, avançou com o processo em tribunal acusando a empresa de ser responsável pela doença. A origem da mesma, dizem, está no herbicida Roundup, que contém glifosato. Um produto que o casal utilizou entre 1975 e 2011 na sua propriedade na Califórnia.

E venceram a ação.

“O júri atribuiu dois mil milhões de dólares ao casal Pilliod, a titulo de indemnização punitiva para sancionar o fabricante de herbicida com glifosato”, revelou um dos advogados que fizeram a defesa do casal, que processou o grupo agroquímico num tribunal de Oakland, no oeste dos Estados Unidos.

“Gostaríamos que a Monsanto nos tivesse avisado antecipadamente dos perigos de usar Roundup e que houvesse algo na embalagem a dizer: Perigo, pode provocar cancro’. Nesse caso poderíamos ter usado Roundup.... mas nós nunca o teríamos usado, mas com certeza muitas pessoas escolheriam usar”, afirmou Alberta Pilloid no final do julgamento.

“Não nos deram escolha porque, com base nos anúncios deles, achámos que era extremamente seguro”, acrescentou.

O tribunal considerou que a empresa foi culpada de negligência e que deveria ter alertado para o risco de utilização.

O gigante alemão de herbicidas considerou a indemnização “excessiva e injustificável” e anunciou que vai recorrer.

Segundo a Bayer, o casal Alva e Alberta Pilliod tinham longas histórias de doenças conhecidas como fatores substanciais para o linfoma de Hodgkin.

“O contraste entre o veredicto de hoje e a conclusão da Agência de Proteção do Ambiente dos Estados Unidos de que existem normas para a saúde pública a partir dos atuais registos de utilização de glifosato não poderia ser mais severo”, afirmou a Bayer. Segundo a Bayer, os estudos realizados pela empresa e por cientistas independentes mostram que o glifosato e o Roundup são essenciais para o ser humano.

A empresa frisa que vários reguladores em todo o mundo descobriram que o glifosato não era cancerígeno para os humanos.

A Bayer, que comprou a empresa Monsanto em 2018, enfrenta mais de 14 400 processos nos Estados Unidos por queixas semelhantes.

Em março de 2018 o grupo alemão foi condenado a pagar indemnizações de 81 milhões de dólares e em agosto pagou mais 290 milhões de dólares.

A utilização de glifosato, nomeadamente para eliminar ervas daninhas nos jardins e nas localidades, tem oposto ambientalistas - que dizem que o produto é cancerígeno - e a indústria, a argumentar que o produto é necessário para se conseguir alimentos suficientes para a população.

Segundo a Organização Mundial de Saúde, o glifosato afeta o sistema endócrino e é uma “provável “ substância cancerígena. A opinião que não é partilhada pelas autoridades científicas europeias e de países como Estados Unidos, Canadá, Austrália, Nova Zelândia e Japão.
Vários portugueses contaminados
Há vários portugueses contaminados com glifosato, um herbicida que é potencialmente cancerígeno. A sua presença foi detetada com valores elevados no norte e centro do país.

Uma reportagem realizada pela RTP em abril de 2016 revelou que existem vários portugueses contaminados com glifosato, o herbicida mais vendido em Portugal.

O herbicida foi inventado nos anos 70, pela multinacional americana Monsanto. É um herbicida total, não seletivo - o que quer dizer que mata qualquer tipo de planta.
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