Governo alemão dividido sobre criação de campo de concentração para refugiados

por RTP
Thomas de Maizière (à esq.) e Woflgang Schäuble Fabrizio Bensch, Reuters

O ministro do Interior defende-a, o ministro dos Negócios Estrangeiros recusa-a: a ideia de criar no Norte de África um campo de concentração que impeça os refugiados de virem para a Europa fractura o Governo de Berlim.

O mais activo promotor do plano é o ministro do Interior democrata-cristão, Thomas de Maizière. Mas a chanceler Angela Merkel, até há pouco nas bocas do mundo como estrénua defensora dos refugiados, também deu sinais de aderir à ideia e recebeu na semana passada o presidente tunisino Youssef Chahed com a intenção confessada de explorar a receptividade do visitante à criação, em solo tunisino, de um campo de concentração financiado pela Alemanha.

Em declaração citada por Der Spiegel nas vésperas de receber o presidente tunisino, Merkel observava, nomeadamente: "No que diz respeito à questão dos campos de internamento, temos de discutir com tranquilidade - num espírito de respeito mútuo - que possibilidades existem".

Interpelada pela imprensa, a chanceler negou depois que o assunto tivesse sido abordado com o visitante, e negou mesmo que considerasse utilizável a expressão "campos de internamento". Na verdade, havia um motivo de peso para o assunto não ser discutido: o presidente tunisino já antes se tinha manifestado categoricamente contra a mera hipótese de campos, como se lhes queira chamar, de internamento ou de concentração.

Agora, Merkel visita o Egipto e, em tom de aviso à navegação, para que a ideia não venha a sofrer aí um segundo enxovalho, o vice-chanceler e ministro dos Negócios Estrangeiros social-democrata Sigmar Gabriel manifesta, também a Der Spiegel: "Tenho as minhas dúvidas sobre se tudo isto foi bem reflectido e realmente pensado".

Gabriel referiu-se também às "difíceis questões jurídicas e políticas respeitantes aos refugiados que aí seriam instalados" e lembrou que a Tunísia continua envolvida numa luta difícil para consolidar a sua jovem democracia e para conseguir alguma estabilidade. E advertiu: "Seria sensato não impormos ao país medidas contra a sua vontade expressa, que poderiam conduzir a uma desestabilização".

Gabriel criticou também a hipótese de instalar esse tipo de campos na Líbia, dizendo que nesse país "nem com a melhor boa vontade se pode ver estruturas estatais com as quais possamos cooperar em questões tão complexas. Já nos dá bastante trabalho apoiar os esforços do Governo de unidade de Tripoli para se tornar capaz de agir fora da capital".

O mesmo Der Spiegel sustenta que também o Egipto foi alvo de sondagens alemãs e também o Governo do Cairo as rejeitou liminarmente. E na Europa levantou-se, até agora, a voz do ministro dos Negócios Estrangeiros luxemburguês, Jean Asselborn, para comentar: "Não corresponde aos valores europeus, despachar para campos norte-africanos pessoas que salvamos no Mediterrâneo".

Pelo contrário, o ministro do Interior austríaco, Wolfgang Sobotka, mostrou-se entusiasmado pela campanha do seu homólogo alemão a favor dos campos: "Precisamos de uma protecção de fronteiras da Europa que funcione e de possibilidades de imigração legal. Quem chegar a nós por outra via, tem de voltar para casa".
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