Governo chinês ergue centros de detenção e destrói mesquitas em Xinjiang

por Joana Raposo Santos - RTP
Desde 2017, cerca de um terço das mesquitas de Xinjiang foi demolido e outro terço ficou danificado. Thomas Peter - Reuters

A China está a construir cada vez mais centros de detenção para minorias muçulmanas na região de Xinjiang, onde nos últimos três anos milhares de mesquitas terão sido destruídas ou danificadas. A denúncia foi feita por um instituto australiano segundo o qual existem agora menos mesquitas em Xinjiang do que em qualquer outra altura desde a Revolução Cultural de 1966.

O Instituto Australiano de Política Estratégica (ASPI) utilizou imagens de satélite, coordenadas precisas e dados recolhidos presencialmente em Xinjiang para mapear a extensão da destruição de locais culturais e religiosos, assim como a crescente construção de campos de detenção para a minoria uigur.

“Evidências disponíveis sugerem que muitos detidos de forma extrajudicial na vasta rede de campos de reeducação em Xinjiang estão agora a ser formalmente acusados e presos em instalações de segurança superior, incluindo recém-construídas, ou em prisões expandidas, ou enviados para complexos de fábricas fechados para realizarem trabalho forçado”, denuncia o relatório.

Mais precisamente, foram mapeados pelo instituto australiano 380 centros de detenção. Em pelo menos 61 deles foram observadas novas construções e obras de expansão recentes.

O relatório sugere que a China mudou a sua política de prender uigures e outras minorias muçulmanas em prédios públicos improvisados, e passou a construir instalações permanentes de detenção em massa.

"Destes [centros de detenção], cerca de 50 por cento são instalações de segurança mais elevada, o que pode sugerir uma mudança no uso de centros de reeducação e segurança mais baixa para instalações do estilo prisão de segurança elevada", refere o documento.

Embora as autoridades chinesas tenham descrito os campos como instalações semelhantes a um internato, destinadas a fornecer treino profissional gratuito, antigos detidos dizem terem sido submetidos a condições brutais, doutrinação política, espancamentos e tortura psicológica e física.
Milhares de mesquitas destruídas
Para além da construção de centros de detenção, o relatório australiano denuncia a destruição de milhares de mesquitas em Xinjiang. Das 24 mil mesquitas existentes há alguns anos, e que o Governo chinês se comprometeu a proteger, erguem-se agora 15 mil – sendo que mais de metade estão danificadas.

“É o número mais baixo desde a Revolução Cultural, quando ficaram de pé menos de três mil mesquitas”, denunciam os investigadores australianos.

Desde 2017, cerca de um terço das mesquitas foi demolido e outro terço ficou danificado de alguma forma, tendo sido removidas estruturas como torres e cúpulas das próprias mesquitas.

Enquanto muitas das áreas que antes possuíam construções se transformaram em terrenos vazios, outras foram ocupadas por novas estradas ou parques de estacionamento. O relatório do ASPI revela que muitas das mesquitas que permanecem de pé foram encerradas ou convertidas para outras utilizações.

Outras estruturas foram demolidas e depois reconstruídas com apenas uma fração do seu anterior tamanho, incluindo a mesquita Kashgar, inicialmente erguida em 1540 e à qual tinha sido concedido o segundo grau mais elevado de proteção por parte das autoridades chinesas.

Cerca de metade dos locais de culto protegidos foi também danificada ou destruída, incluindo Ordam Mazar, templo que remontava ao século X e que foi demolido.

“Para além de esforços coercivos para redesenhar a vida social e cultural dos uigures ao transformar ou eliminar a sua linguagem, música, casas e até hábitos alimentares, as políticas do Governo chinês estão também a apagar ativamente e a alterar elementos-chave da sua tangível herança cultural”, critica o ASPI.

Pequim tem enfrentado diversas acusações de violação dos Direitos Humanos em massa na região de Xinjiang, mas tem sempre vindo a negá-las. Segundo o Governo chinês, as políticas aplicadas nesse território pretendem combater o terrorismo e extremismo religioso e os programas laborais pretendem aliviar a pobreza, sendo de participação voluntária e não forçada.

c/ agências
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