Governo egípcio rejeita acusações de negligência médica a ex-Presidente Morsi

por RTP
Reuters

O Governo egípcio rejeitou hoje as acusações de falta de atenção médica e más condições em que alegadamente vivia o ex-Presidente Mohamed Morsi, detido há seis anos e que morreu na segunda-feira durante uma sessão no tribunal.

O Serviço de Informação do Estado criticou a organização Human Rights Watch (HRW), que considerou na segunda-feira que a morte de Morsi era “completamente previsível” face à “falta de autorização do Governo para lhe ser dada a atenção médica adequada e para ter visitas familiares”.

De acordo com o Serviço de Informação, a HRW está a fazer “falsas denúncias”, mantendo “a tradição de fazer circular mentiras”.

O organismo acusou a ativista Sarah Leah Whitson, diretora regional da HRW, de “assumir prematuramente que Morsi morreu por negligência médica”, mas “sem apresentar qualquer prova” e lembrou que o último relatório da organização de defesa dos direitos humanos data de julho de 2017.

Nessa altura, refere o Serviço de Informações, a HRW afirmou que os direitos de Morsi estavam a ser violados, já que não lhe estava a ser prestada assistência médica adequada, mas a situação tinha sido desmentida oficialmente, tendo sido garantido que o ex-Presidente estava bem de saúde, sofrendo apenas de diabetes.

A HRW não disse mais nada desde essa altura, sublinha o organismo, referindo que esse silêncio implica que a organização aceitou a normalidade da situação de saúde de Morsi.

A Human Rights Watch indicou na segunda-feira que está a preparar um relatório sobre o assunto.

Vários organismos de direitos humanos e a família do ex-Presidente denunciaram, nos últimos anos, a falta de saúde do primeiro Presidente egípcio eleito democraticamente e deposto pelo então ministro da Defesa e hoje Presidente Abdelfatah al Sisi.

Algumas das organizações, como a Amnistia Internacional e o Instituto do Cairo para Estudos de Direitos Humanos pediram já uma investigação independente para determinar as causas da morte de Morsi.

O antigo Presidente egípcio morreu na segunda-feira em tribunal e foi hoje enterrado no Cairo numa cerimónia discreta, depois de ter passado seis anos na prisão.

Mohamed Morsi, de 67 anos, estava preso desde a sua destituição, em julho de 2013, e estava a ser julgado, entre outras acusações, por espionagem.

Durante uma sessão em tribunal, quando estava a falar há 20 minutos de forma enérgica, Morsi desmaiou e foi transportado para o hospital, onde acabou por morreu, segundo a televisão estatal.

Morsi tornou-se o primeiro Presidente democraticamente eleito do Egito em 2012, após a rebelião da Primavera Árabe em 2011 que terminou com o regime autocrático do Presidente Hosni Mubarak, no poder há 30 anos.

Em julho de 2013 foi deposto, na sequência de protestos em massa e um golpe de Estado militar.
Morsi enterrado discretamente e sob forte vigilância
O antigo Presidente egípcio Mohamed Morsi foi hoje enterrado no Cairo numa cerimónia discreta e sob alta vigilância, depois de ter passado seis anos na prisão.

O funeral foi feito durante a noite, num bairro cercado pela polícia, que verificou todos os veículos que passaram nas proximidades.

Nenhum jornalista pode aceder ao cemitério, situado perto do local onde, em agosto de 2013, um confronto violento entre as forças de segurança e partidários de Mohamed Morsi causou cerca de 800 mortos.

O Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, foi o primeiro dirigente a reagir à morte de Morsi, com quem manteve laços muito próximos durante a sua breve presidência.

“Que Alá conceda ao nosso mártir, ao nosso irmão Morsi, a sua misericórdia. Que a alma do nosso mártir descanse em paz”, declarou Erdogan, responsabilizando “os tiranos que o conduziram à morte ao metendo-o na prisão e ameaçando executá-lo”.

O movimento islâmico palestiniano Hamas – que nasceu a partir da organização Irmãos Muçulmanos - também se pronunciou na segunda-feira, referindo estar de luto.

“Lamentamos o ex-Presidente egípcio Mohamed Morsi, que morreu segunda-feira à noite depois de uma longa luta ao serviço do Egito, do povo e especialmente da causa palestiniana”, declarou o Hamas em comunicado.

A organização Irmãos Muçulmanos acusou as autoridades egípcias de terem levado a cabo um "assassínio lento" e assegurou que Morsi vivia em muito más condições desde que foi preso, em 2013.

c/Lusa
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