Governo francês ordena investigação à atuação policial no atentado de Nice

por Andreia Martins - RTP
O primeiro-ministro Manuel Valls (à esquerda) conversa com Bernard Cazeneuve, ministro do Interior, durante a sessão de quarta-feira na Assembleia Nacional francesa. Philippe Wojazer - Reuters

O ministro francês do Interior anunciou esta quinta-feira a abertura de um inquérito ao dispositivo policial destacado para a noite de 14 de julho em Nice. A decisão surge no mesmo dia em que a imprensa francesa dá conta de graves falhas de segurança junto ao Passeio dos Ingleses, onde o ataque foi perpetrado.

Polícia investiga polícia. Bernard Cazeneuve ordenou a abertura de uma investigação pela Inspeção-Geral da Polícia Nacional ao aparelho policial responsável pela segurança de Nice durante os festejos do 14 de Julho, a Festa Nacional francesa. 

A decisão foi anunciada após acusações por parte de vários políticos franceses, que consideraram que as medidas de segurança durante as celebrações foram “insuficientes”. Em comunicado do Minstério do Interior, esclarece-se que esta se trata de uma "avaliação técnica ao dispositivo de segurança" mandatada pelo Executivo francês pretende assegurar "a transparência e a verdade no processo", bem como "esclarecer a realidade sobre o dispositivo presente, enquanto as polémicas inúteis continuam".

Entretanto, o diário francês Libération enumera um leque de aparentes falhas de segurança na noite de 14 de julho, quando o camião conduzido por Mohamed Lahouaiej Bouhlel varreu a marginal de Nice e fez 84 mortos e centenas de feridos. 
Lacunas
Segundo o jornal, a entrada para a zona pedonal da Promenade des Anglais não estava devidamente protegida pela polícia nacional, ao contrário do que foi reiterado pelo Ministério francês do Interior. 

Os testemunhos recolhidos pelo diário para uma presença “muito mais discreta” da polícia nacional no terreno. Fontes policiais e testemunhos contam que somente uma viatura da polícia municipal estava no local. Mesmo esta viatura seria incapaz de impedir a investida do camião sobre as cerca de 30 mil pessoas que assistiam ao fogo-de-artifício, já que se encontrava junto ao mar.

Acrescenta o Libération que os únicos agentes da polícia nacional próximos estavam a 370 metros do local, junto ao Hotel Westminster, praticamente numa das extremidades da zona marginal. 
Versões contraditórias
Esta perspetiva contrasta com as garantias do Executivo francês. Durante a sessão de terça-feira na Assembleia Nacional, onde foi aprovada a extensão do estado de emergência por mais seis meses, e já depois de ter sido apupado por populares em Nice, Manuel Valls descartou qualquer falha nos descartou qualquer lacuna nos serviços de segurança e mostrou-se revoltado com os que ousaram fazê-lo.

“Não vou deixar que digam que houve falhas onde não houve nenhuma! Nunca vou aceitar as acusações vergonhosas que insinuam que tudo isto poderia ter sido evitado”, completou o primeiro-ministro francês. 

Também Bernard Cazeneuve, que anunciou hoje a abertura do inquérito, afirmou no passado sábado, dois dias depois do ataque, que a polícia nacional estava “presente e muito ativa” na Promenade des Anglais.

O ministro do Interior detalhava na altura as informações que recebeu da polícia e dizia mesmo que o camião só tinha conseguido ultrapassar o dispositivo de segurança presente com uma invasão de “grande violência”.

Já durante a sessão plenária de quarta-feira vários deputados tinham questionado a atuação da polícia nacional no terreno. Rudy Salles, vice-prefeito de Nice e membro da Assembleia Nacional, tinha questionado a ausência de homens e viaturas "fortemente armados" à entrada da zona pedonal.

No mesmo sentido, Christian Estrosi, antigo presidente da Câmara de Nice e atual presidente do Conselho Regional de Provence-Alpes-Côte d'Azur, exigiu a entrega de um relatório sobre a atuação da polícia nacional à Justiça, afirmando que "o país deve saber toda a verdade".
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