Grécia. Milhares de refugiados em risco de ficarem sem abrigo

por Joana Raposo Santos - RTP
Nas últimas semanas, famílias inteiras estão a ser forçadas a abandonar as acomodações onde se encontravam. Reuters

Milhares de refugiados na Grécia correm o risco de ficarem sem abrigo devido ao término de um programa financiado pela União Europeia, que até agora lhes fornecia apoios financeiros e abrigo temporário.

Nas últimas semanas, famílias inteiras estão a ser forçadas a abandonar as acomodações onde se encontravam. A solução que lhes sobra é, muitas vezes, dormir ao relento em parques ou em praças públicas.

Muitos dos contratos com hotéis que até agora acolhiam refugiados sob o programa da UE chamado Filoxenia terminaram em dezembro, com os restantes a terminar em janeiro e fevereiro. Os 750 refugiados que ainda permanecem nas instalações temporárias deverão abandoná-las nos próximos dias, conforme chega o fim definitivo do programa europeu.

O receio de que mais de dois mil homens, mulheres e crianças fiquem sem meios de subsistência está a levar a diversos apelos de grupos humanitários.

“É extremamente preocupante que pessoas reconhecidas como refugiados na Grécia estejam a ser devolvidas às ruas no meio de uma pandemia global”, lamentou ao Guardian Imogen Sudbery, diretora do Comité Internacional de Resgate para a Europa.

A responsável alerta que, “sem a documentação necessária, acesso à informação, conhecimento de línguas ou outros meios essenciais para que se possam tornar autossuficientes, [os refugiados] enfrentam o grave risco de se tornarem sem abrigo e desempregados”.

Já Lefteris Papagiannakis, da organização não-governamental Solidarity Now, lembrou que “aquilo que estamos a ver reflete a ausência indiscriminada de políticas que, incrivelmente, continua a ser um problema tantos anos depois de esta crise [de refugiados] ter começado”.

“São imagens que já vimos antes e que continuaremos a ver a menos que sejam feitos esforços reais para incluir estas pessoas na nossa sociedade”, sublinhou, em declarações ao Guardian.
Um mês para se tornarem autossuficientes
A integração dos cerca de 800 mil refugiados na Grécia é vista como o maior desafio para um país que está há muito na primeira linha da chegada de fluxos de migrantes vindos da Ásia, África e Médio Oriente.

Desde que, em julho de 2019, o Governo de centro-direita assumiu funções na Grécia, tem-se focado na aceleração dos pedidos de asilo e em aliviar a pressão em campos de refugiados sobrelotados nas ilhas do mar Egeu. Para isso, tem transferido requerentes de asilo para o território continental. As Nações Unidas já expressaram inúmeras vezes preocupações com o fim prematuro de apoio aos refugiados.

Ao abrigo de uma lei recente, quando os refugiados são retirados dos campos nas ilhas passam a ter apenas um mês para fazer a transição das acomodações que lhes são fornecidas para instalações arranjadas por si mesmos, tornando-se autossuficientes.

Claro que, sem falar grego e sem a mesma oferta de oportunidades que os cidadãos, a maioria destas pessoas não consegue integrar-se e acaba a passar extremas dificuldades. O problema é especialmente preocupante numa altura de pandemia.

Na teoria, os refugiados reconhecidos como tal podem viajar para outros países europeus. No entanto, sob a lei europeia, apenas podem permanecer três meses noutro local antes de correrem o risco de serem enviados de novo para a Grécia.
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