Grupo Wagner cede posições em Bakhmut a tropas de Moscovo

por Inês Moreira Santos - RTP
Reuters

O grupo Wagner começou a retirar, esta quinta-feira, soldados da cidade ucraniana de Bakhmut. De acordo com o patrão da organização paramilitar, os combatentes mercenários estão a transferir posições para as tropas regulares da Rússia.

"Estamos a retirar as unidades de Bakhmut. A partir das 5h00 da manhã de hoje, 25 de maio, até dia 1 de junho, a maior parte das unidades vai acampar na retaguarda. Estamos a ceder as nossas posições aos militares", disse Yevgeny Prigozhin, num vídeo publicado no Telegram.

Prigozhin já tinha afirmado, várias vezes nas últimas semanas, que iria retirar as forças do grupo Wagner da cidade de Bakhmut antes de a conquistarem. Em causa estaria a falta de apoio e fornecimento de armamento e munições por parte das forças russas.

Mais recentemente, o chefe do grupo russo de mercenários sugeriu, de forma sarcástica, que as forças paramilitares fossem substituídas por “um batalhão de generais”. A tomada de Bakhmut foi reivindicada no sábado pelo empresário russo, que informou na altura ia passar o controlo das posições às tropas regulares da Rússia esta quinta-feira.

"Se não há unidades suficientes do Ministério da Defesa (para ocupar Bakhmut), há milhares de generais (para o fazer). É preciso formar um 'Regimento de Generais', dar-lhes armas e tudo correrá bem", disse esta quinta-feira Prigozhin que, como habitualmente, voltou a criticar os altos comandos militares da Rússia.

Kiev não confirmou, contudo, a "queda de Bakhmut" no leste da Ucrânia, apesar de o Ministério russo da Defesa e Vladimir Putin a terem declarado.
Na quarta-feira, o chefe do grupo paramilitar russo admitiu o fracasso da campanha militar da Rússia na Ucrânia, afirmando que nenhum dos objetivos foi alcançado.

“A operação militar especial foi lançada com o objetivo de desnazificação, mas transformámos a Ucrânia numa nação conhecida em todo o mundo”.

O chefe do grupo Wagner considerou também que a Rússia falhou o objetivo da desmilitarização da Ucrânia. O empresário, que tem estado ao comando dos mercenários do grupo Wagner na linha da frente, acredita que a invasão russa fez dos ucranianos “os gregos e os romanos da época do florescimento”.

“Se antes do início da operação especial, eles [os ucranianos] tinham, digamos, 500 tanques, agora têm cinco mil. Se na altura eram capazes de combater 20 mil soldados, agora têm 400 mil”, afirmou. “Acontece que estamos a militarizar a Ucrânia e de que forma!”.

Para Prigozhin, o grupo Wagner “é o melhor exército do mundo”.

“Para ser correto, devo dizer que o segundo melhor exército do mundo é o exército russo. Mas penso que os ucranianos têm um dos exércitos mais fortes”, afirmou, acrescentando que os militares ucranianos conseguem usar com sucesso qualquer sistema de armas, seja soviético ou da NATO.
"Em caixões de zinco, feitos em pedaços"

Prigozhin criticou igualmente os filhos da elite russa pela vida de luxo que exibem nas redes sociais, enquanto “as pessoas comuns veem os filhos serem-lhes devolvidos em caixões de zinco, feitos em pedaços”.

“E não devemos pensar que são centenas, agora são dezenas de milhares de familiares dos mortos. E serão certamente centenas de milhares”, acrescentou.

O chefe do grupo de mercenários advertiu, por isso, que esta dualidade de critérios “pode acabar como em 1917, numa revolução”, referindo-se ao conflito de que resultou o fim da monarquia e a tomada do poder pelos bolcheviques liderados por Vladimir Lenine.

Recorde-se que, Prigozhin é um aliado do presidente russo, que ordenou a invasão da Ucrânia, a 24 de fevereiro de 2022, para “desmilitarizar e desnazificar” o país vizinho, entre outros objetivos.
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