Guaidó garante apoio europeu. Maduro mantém-se firme na presidência

por Raquel Ramalho Lopes, Carlos Santos Neves e Alexandre Brito - RTP
Juan Guaidó fala aos jornalistas, esta segunda-feira, na Assembleia Nacional, em Caracas Andres Martinez Casares - Eeuters

Como esperado e previamente anunciado, esta segunda-feira vários países europeus reconheceram Juan Guaidó como presidente interino da Venezuela. Posições que levaram Nicolás Maduro a afirmar que irá “rever integralmente” as relações com esses países. Também Portugal manifestou ao início da tarde o apoio a Guaidó.

Logo pela manhã, o presidente do Governo espanhol tornava-se no primeiro líder político da União Europeia a reconhecer Juan Guaidó com presidente interino da Venezuela. Isto depois de se ter esgotado o prazo de oito dias dado a Nicolás Maduro para que convocasse eleições presidenciais.

Vários países europeus seguiram a mesma posição, embora a União Europeia não tenha conseguido unanimidade nesta declaração.

A chefe da diplomacia europeia justifica a falta de uma declaração conjunta reconhecendo Juan Guaidó, com as competências atribuídas à União, no que respeita à política externa, como conta nesta reportagem o correspondente da RTP Duarte Valente.
Duarte Valente - RTP
Portugal ao lado de Guaidó
Pelo meio dia, o líder da diplomacia portuguesa, em conferência de imprensa no Palácio das Necessidades, afirmou que Portugal "reconhece e apoia a legitimidade de Juan Guaidó" como presidente interino da Venezuela. "Reconhecemos a autoridade do senhor Guaidó para, na condição de presidente interino, convocar eleições, como manda a Constituição da Venezuela", sublinhou Augusto Santos Silva.

O ministro dos Negócios Estrangeiros anunciou na mesma altura que vai estar presente na primeira reunião ministerial do grupo internacional de contacto, que vai realizar-se quinta-feira em Montevideu, no Uruguai. O objetivo é "apoiar os venezuelanos numa solução pacífica através da convocação a breve prazo de eleições justas", disse.

"O Governo Português considera que o Senhor Juan Guaidó possui a necessária legitimidade para assegurar uma transição pacífica, inclusiva e democrática, que permitirá evitar uma escalada da violência no país", lê-se num comunicado que foi depois divulgado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros.

Instado pelos jornalistas a comentar uma eventual escalada de violência na Venezuela, o ministro dos Negócios Estrangeiros considerou que tanto o reconhecimento como o grupo de contacto são iniciativas "para superar a atual crise política", e constituem "a melhor defesa dos interesses dos portugueses" a residir no país da América Latina.

O ministro dos Negócios Estrangeiros rejeitou ainda a ideia de que há uma "divisão" na União Europeia. “No dia 26 (de janeiro), por unanimidade, produzimos uma declaração conjunta nos termos da qual apelávamos ao Presidente Nicolás Maduro para convocar eleições livres" e, "se essa resposta não viesse, reconhecíamos a nós próprios o direito de reconhecer o presidente da Assembleia Nacional" venezuelana, declarou o ministro.
Plano de contingência de ajuda aos portugueses na Venezuela
Ainda nesta conferência de imprensa, questionado pela RTP sobre um plano de contingência para fazer regressar os emigrantes portugueses na Venezuela, Santos Silva afirmou que não vê "nenhuma vantagem em pormenorizar" medidas "sob pena de lhes diminuir a eficácia". "O melhor plano de contingência" é "haver uma solução para a crise política" em Caracas, defendeu Santos Silva.

Pouco depois desta tomada de posição do Governo português, também o Presidente da República, numa comunicação divulgada na página oficial da Presidência da República, garantia que “que tem seguido, a par e passo, a evolução na Venezuela” e que “acompanha a decisão” que tinha sido “apresentada pelo Senhor Ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva".
Maduro promete rever relações com países europeus
Em reação a estas tomadas de posição, o Governo de Nicolás Maduro prometeu "rever integralmente" as relações com o conjunto de países europeus que reconheceram Juan Guaidó como presidente interino da Venezuela.

Em comunicado, o executivo venezuelano afirmou que esta posição se manterá enquanto os países em causa não procederem a "uma retificação que descarte o seu respaldo aos planos golpistas".

À margem de um evento com militares, Nicolás Maduro avisou diretamente o primeiro-ministro espanhol de que vai ficar com as mãos manchadas de sangue se houver uma intervenção militar no país.
Guaidó agradece apoio vindo da Europa
Também nesta tarde de segunda-feira, numa declaração pública em Caracas, o presidente da Assembleia Nacional, Juan Guaidó, apelou ao regresso da ajuda humanitária à Venezuela. Na mesma altura enumerou e agradeceu todas as declarações públicas de Governos que o reconheceram como presidente interino da Venezuela, incluindo Portugal.
Filipe Silveira - RTP
Rússia denuncia “interferência estrangeira”. Trump admite intervenção militar

Em linha com a posição que tem defendido, a Rússia considerou que a sucessão de anúncios desta manhã constituem "tentativas de legitimar a usurpação de poder como uma ingerência direta e indireta nos assuntos internos da Venezuela".

Moscovo, um dos principais aliados de Nicolás Maduro, sustenta que os "venezuelanos, e não os estrangeiros, deveriam resolver suas próprias questões políticas domésticas".

Já o presidente dos Estados Unidos, em entrevista ao programa Face the Nation, da CBS, afirmou que uma intervenção militar na Venezuela é "uma opção". Na semana passada o governo Trump impôs sanções à empresa petrolífera estatal venezuelana, uma importante fonte de receita para aquele país da América Latina.
Ana Romeu - RTP
Maduro não aceita "ultimatos de ninguém"
Em resposta aos acontecimentos das últimas horas, em particular a esta entrevista de Trump, o Presidente da Venezuela voltou a rejeitar a possibilidade de abandonar o poder ou de convocar novas eleições presidenciais, afiançando que não aceita “ultimatos de ninguém”.

Em entrevista ao canal televisivo espanhol La Sexta, Maduro sustentou que "Donald Trump impôs ao Ocidente uma política errada” sobre a Venezuela e asseverou: “Não vamos submeter-nos”.

Questionado pelo jornalista Jordi Évole sobre se em algum momento pensou sair de cena, após o presidente da Assembleia Nacional se ter autoproclamado, no passado dia 23 de janeiro, presidente interino da Venezuela, Maduro respondeu que não tem razões para tal. “Mas porquê, se o povo me elegeu por seis anos? Creio que o que é bom para o meu país é que se respeite a Constituição. Eu sou o primeiro a fazê-lo, eu jurei respeitar e fazer respeitar a Constituição e é esse o meu dever”, disse.

“Temos experiência de 20 anos de luta, nós somos realmente uma força popular com carácter histórico, com um projeto e com a liderança do país”, sustentou.
Nações Unidas não participam em nome da "credibilidade"
Também esta segunda-feira, a Organização das Nações Unidas anunciou que não vai participar em qualquer reunião de grupos formados para discutir a crise venezuelana, a fim de "manter a sua credibilidade", declarou António Guterres.

"O secretariado da ONU decidiu não fazer parte de nenhum desses grupos a fim de manter a credibilidade da nossa oferta de bons ofícios a ambos os lados, para estarmos em condições, a pedido deles, de ajudar a encontrar uma solução política", disse o secretário-geral da ONU, que admite "preocupação" com os desenvolvimentos.
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