Guiné-Bissau. Tentativa de golpe de Estado fez vários feridos

por RTP
António Amaral - EPA

O local da reunião do Conselho de Ministros na Guiné-Bissau foi esta terça-feira tomado de assalto por um grupo armado, numa tentativa de golpe de Estado. Foram ouvidos tiros de bazuca e rajadas de metralhadora na capital do país e várias pessoas ficaram feridas. Algumas fontes indicam a existência de seis vítimas mortais.

O primeiro-ministro e o presidente da Guiné-Bissau participavam na reunião no Palácio do Governo quando a sala foi cercada por militares não fardados. Mais tarde acabaram por ser retirados do local, assim como os restantes membros do Governo.

Militares fiéis ao Governo e ao presidente dirigiram-se de imediato ao palácio, segundo informações recolhidas pela equipa de reportagem da RTP no local.

Dois seguranças terão sido mortos no início desta operação de militares à paisana. Pelo menos outras quatro pessoas ficaram feridas e foram transportadas para o Hospital Simão Mendes, não tendo sobrevivido, de acordo com fontes da agência Lusa.

Quando a situação já aparentava estar mais calma, ao final da tarde, o presidente da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, agradeceu às forças de defesa e segurança do país por terem impedido um golpe de Estado, que constituiu um "atentado à democracia".

Foi um "ato bem preparado e organizado e que poderá também estar relacionado com gente relacionada com o tráfico de droga", afirmou Sissoco Embaló, acrescentando que há pessoas detidas e vítimas mortais, sem precisar números.

O ataque ao palácio do Governo, onde decorria o Conselho de Ministros teve fogo cruzado durante cinco horas, explicou o presidente. "A Guiné-Bissau não merece isto", disse Embaló, rejeitando qualquer responsabilidade: "Sou um homem de paz, contra a violência".

"Eles não queriam apenas dar um golpe de Estado, queriam matar o Presidente da República, o primeiro-ministro e os ministros", afirmou ainda Umaro Sissoco Embaló. "Custava-me acreditar que um dia poderíamos chegar a este ponto. Ou que os filhos da Guiné poderiam voltar a perpetrar outro ato de violência. Nem podem imaginar este ato de violência. Preferiria que as pessoas me atacassem pessoalmente", lamentou.

O líder disse já ter falado com o secretário-geral da ONU e pediu calma aos guineenses, assegurando que a situação está controlada. "Peço à população para estar serena", acrescentou.
Guterres apela ao regressso dos militares aos quartéis
António Guterres mostrou-se, durante a tarde, "muito preocupado" pela situação na Guiné-Bissau. O secretário-geral das Nações Unidas pediu para que sejam respeitadas as instituições democráticas.

Já durante a noite, apelou "ao regresso dos militares aos quartéis" na Guiné-Bissau e ao "restabelecimento da ordem constitucional", após a tentativa de golpe de Estado.

"O nosso forte apelo vai para que os militares voltem para os quartéis e para que a ordem constitucional seja restabelecida, no contexto de uma democracia" como a que se vive na Guiné-Bissau, afirmou numa conferência de imprensa em Nova Iorque. Marcelo Rebelo de Sousa falou por telefone com o presidente da Guiné-Bissau, a quem transmitiu a sua condenação dos "atentados à ordem constitucional" neste país africano.

A Comunidade Económica dos Países da África Ocidental (CEDAO) também já se declarou preocupada com o evoluir dos acontecimentos na Guiné-Bissau. "A CEDEAO acompanha com grande preocupação a evolução da situação na Guiné-Bissau, caracterizada por tiros de militares junto ao Palácio do Governo", lê-se no comunicado.

A organização regional "exige aos militares que regressem aos seus quartéis e mantenham uma postura republicana".

Desde a hora do almoço, já tinham sido ouvidos tiros de bazuca e rajadas de metralhadora junto ao palácio do Governo da Guiné-Bissau, onde decorria um Conselho de Ministros, com a presença do Presidente da República, Umaro Sissoco Embaló, e do primeiro-ministro, Nuno Nabiam.

Num perímetro de cerca de 500 metros à volta do edifício, os militares colocaram barreiras para impedir o acesso da população à zona, onde também não circulam carros.
Embaixada de Portugal pede aos portugueses que fiquem em casa
A Embaixada de Portugal em Bissau recomendou esta tarde aos portugueses na Guiné-Bissau que ficassem em casa, tendo em conta o assalto militar ao Palácio do Governo e ao golpe de Estado em curso.

Num comunicado publicado nas redes sociais, a representação portuguesa "recomenda a todos os cidadãos portugueses residentes na Guiné-Bissau que, em virtude dos recentes acontecimentos, permaneçam em casa e aguardem novas informações".

Na mensagem, a instituição, que tem como embaixador José Rui Velez Caroço, avisa os cidadãos nacionais para que contactem a embaixada, "em caso de emergência", pelos seguintes números: +245 966990029 e +245 956802828.
Não há notícia de problemas entre portugueses em Bissau
Já o ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, condenou as "movimentações armadas" que decorreram em Bissau e salientou que não há notícia de qualquer problema entre os portugueses no país.

"Há movimentações armadas em Bissau que se dirigem contra as autoridades legítimas da Guiné-Bissau, o Presidente e o Governo, e Portugal condena qualquer tentativa de, pela violência, impedir o normal funcionamento dos órgãos de soberania da Guiné-Bissau, nos termos da Constituição", disse Santos Silva em declarações à agência Lusa.

O governante mostrou "grande preocupação com o que se está a passar", mas disse que entre os portugueses na capital guineense não há registo de qualquer problema e acrescentou que o avião que saiu de Bissau esta manhã descolou em segurança e sem qualquer incidente.

Os incidentes na capital guineense junto ao palácio governamental decorrem dias depois de uma remodelação do executivo, decidida pelo presidente da República, Umaro Sissoco Embaló, que foi contestada inicialmente pelo partido liderado pelo primeiro-ministro, Nuno Gomes Nabiam. Posteriormente, o líder do Governo disse que concordava com a remodelação feita.

c/ agências
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