O local da reunião do Conselho de Ministros na Guiné-Bissau foi esta terça-feira tomado de assalto por um grupo armado, numa tentativa de golpe de Estado. Foram ouvidos tiros de bazuca e rajadas de metralhadora na capital do país e várias pessoas ficaram feridas. Algumas fontes indicam a existência de seis vítimas mortais.
O primeiro-ministro e o presidente da Guiné-Bissau participavam na
reunião no Palácio do Governo quando a sala foi cercada por militares
não fardados. Mais tarde acabaram por ser retirados do local, assim como
os restantes membros do Governo.
Militares fiéis ao Governo e ao presidente dirigiram-se de imediato ao
palácio, segundo informações recolhidas pela equipa de reportagem da RTP
no local.
Dois seguranças terão sido mortos no início desta operação de militares à paisana. Pelo menos outras quatro pessoas ficaram feridas e foram transportadas para o Hospital Simão Mendes, não tendo sobrevivido, de acordo com fontes da agência Lusa.
Quando a situação já aparentava estar mais calma, ao final da tarde, o presidente da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, agradeceu às forças de defesa e segurança do país por terem impedido um golpe de Estado, que constituiu um "atentado à democracia".
Foi um "ato bem preparado e organizado e que poderá também estar relacionado com gente relacionada com o tráfico de droga", afirmou Sissoco Embaló, acrescentando que há pessoas detidas e vítimas mortais, sem precisar números.
O ataque ao palácio do Governo, onde decorria o Conselho de Ministros teve fogo cruzado durante cinco horas, explicou o presidente. "A Guiné-Bissau não merece isto", disse Embaló, rejeitando qualquer responsabilidade: "Sou um homem de paz, contra a violência".
O ataque ao palácio do Governo, onde decorria o Conselho de Ministros teve fogo cruzado durante cinco horas, explicou o presidente. "A Guiné-Bissau não merece isto", disse Embaló, rejeitando qualquer responsabilidade: "Sou um homem de paz, contra a violência".
"Eles não queriam apenas dar um golpe de Estado, queriam matar o Presidente da República, o primeiro-ministro e os ministros", afirmou ainda Umaro Sissoco Embaló. "Custava-me acreditar que um dia poderíamos chegar a este ponto. Ou que os filhos da Guiné poderiam voltar a perpetrar outro ato de violência. Nem podem imaginar este ato de violência. Preferiria que as pessoas me atacassem pessoalmente", lamentou.
O líder disse já ter falado com o secretário-geral da ONU e pediu calma aos guineenses, assegurando que a situação está controlada. "Peço à população para estar serena", acrescentou.
Guterres apela ao regressso dos militares aos quartéis
António Guterres mostrou-se, durante a tarde, "muito preocupado" pela situação na Guiné-Bissau. O secretário-geral das Nações Unidas pediu para que sejam respeitadas as instituições democráticas.
Já durante a noite, apelou "ao regresso dos militares aos quartéis" na Guiné-Bissau e ao "restabelecimento da ordem constitucional", após a tentativa de golpe de Estado.
"O nosso forte apelo vai para que os militares voltem para os quartéis e para que a ordem constitucional seja restabelecida, no contexto de uma democracia" como a que se vive na Guiné-Bissau, afirmou numa conferência de imprensa em Nova Iorque. Marcelo Rebelo de Sousa falou por telefone com o presidente da Guiné-Bissau, a quem transmitiu a sua condenação dos "atentados à ordem constitucional" neste país africano.
A Comunidade Económica dos Países da África Ocidental (CEDAO) também já se declarou preocupada com o evoluir dos acontecimentos na Guiné-Bissau. "A CEDEAO acompanha com grande preocupação a evolução da situação na Guiné-Bissau, caracterizada por tiros de militares junto ao Palácio do Governo", lê-se no comunicado.
A organização regional "exige aos militares que regressem aos seus quartéis e mantenham uma postura republicana".
Desde a hora do almoço, já tinham sido ouvidos tiros de bazuca e rajadas de metralhadora junto ao palácio do Governo da Guiné-Bissau, onde decorria um Conselho de Ministros, com a presença do Presidente da República, Umaro Sissoco Embaló, e do primeiro-ministro, Nuno Nabiam.
Num perímetro de cerca de 500 metros à volta do edifício, os militares colocaram barreiras para impedir o acesso da população à zona, onde também não circulam carros.
Embaixada de Portugal pede aos portugueses que fiquem em casa
A Embaixada de Portugal em Bissau recomendou esta tarde aos portugueses na Guiné-Bissau que ficassem em casa, tendo em conta o assalto militar ao Palácio do Governo e ao golpe de Estado em curso.
Num comunicado publicado nas redes sociais, a representação portuguesa "recomenda a todos os cidadãos portugueses residentes na Guiné-Bissau que, em virtude dos recentes acontecimentos, permaneçam em casa e aguardem novas informações".
Na mensagem, a instituição, que tem como embaixador José Rui Velez Caroço, avisa os cidadãos nacionais para que contactem a embaixada, "em caso de emergência", pelos seguintes números: +245 966990029 e +245 956802828.
Não há notícia de problemas entre portugueses em Bissau
Já o ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, condenou as "movimentações armadas" que decorreram em Bissau e salientou que não há notícia de qualquer problema entre os portugueses no país.
"Há movimentações armadas em Bissau que se dirigem contra as autoridades legítimas da Guiné-Bissau, o Presidente e o Governo, e Portugal condena qualquer tentativa de, pela violência, impedir o normal funcionamento dos órgãos de soberania da Guiné-Bissau, nos termos da Constituição", disse Santos Silva em declarações à agência Lusa.
O governante mostrou "grande preocupação com o que se está a passar", mas disse que entre os portugueses na capital guineense não há registo de qualquer problema e acrescentou que o avião que saiu de Bissau esta manhã descolou em segurança e sem qualquer incidente.
c/ agências