Hamas pronto a libertar reféns e a negociar detalhes de plano de Trump

O Hamas disse na sexta-feira que concordou em libertar todos os reféns israelitas, vivos ou mortos, nos termos da proposta de Gaza do presidente dos EUA, Donald Trump.

RTP /
Nir Elias - Reuters

O grupo sinalizou ainda prontidão para entrar imediatamente em negociações mediadas, para discutir os detalhes da libertação dos reféns e da proposta.

No que se pode considerar uma contra-proposta, o Hamas mostrou-se também disposto a aceitar a entrega da administração da Faixa de Gaza, referindo "um orgão de palestinianos independentes".

Mas frisa que a parte da proposta que trata do futuro de Gaza e dos direitos do povo palestiniano ainda está a ser discutida "dentro de uma estrutura nacional". E ignora o ponto de desarmamento exigido por Israel. 

A posição do Hamas é assumida "para alcançar a cessação da guerra e a total retirada da Faixa" pelas forças israelitas.

A resposta, que não especifica se o grupo aceita ou não o plano, foi transmitida através de mediadores do Catar, que a comunicaram à Administração Trump. A Casa Branca indicou que, mal lhe foi comunicada a resposta do Hamas, o presidente Donald Trump começou a preparar a sua reação. Logo depois, publicou na sua rede Truth Social o essencial do comunicado do Hamas.

Um alto responsável do Hamas, Mahmoud Mardawi, citado pela agência France Press, já disse que a proposta de Trump "é muito vaga" e obriga a negociações.

Mousa Abu Marzouk, outro alto funcionário do Hamas, explicou à Al Jazeera que o grupo não se desarmaria antes do fim da "ocupação" israelita, acrescentando que as questões sobre o futuro de Gaza devem ser discutidas dentro de uma estrutura nacional palestiniana abrangente, da qual o Hamas fará parte.

O responsável acrescentou que o Hamas entrará em negociações sobre todas as questões relacionadas com o grupo e as suas armas.
Anuência aparente com muitas reticências

No comunicado, o grupo afirmou especificamente que concorda "em libertar todos os prisioneiros israelitas, vivos e mortos, de acordo com a fórmula de troca contida na proposta do presidente Trump" — se as condições de campo para as trocas fossem cumpridas.

Parece contudo sugerir que está a procurar novas negociações sobre outras questões relacionadas com o futuro da Faixa de Gaza e os direitos do povo palestiniano, afirmando que ainda estão a ser discutidas.

No comunicado, o Hamas referiu nomeadamente que "renova o seu acordo para entregar a administração da Faixa de Gaza a um órgão palestiniano de independentes (tecnocratas), com base no consenso nacional palestiniano e no apoio árabe e islâmico".

Acrescentou contudo que a parte das propostas que trata do futuro de Gaza e dos direitos do povo palestiniano ainda está a ser discutida, "dentro de uma estrutura nacional".

A declaração também não menciona o desarmamento do Hamas, exigência israelita fundamental incluída na proposta de Donald Trump.
Trump ameaçou Hamas com "inferno"

A resposta surge horas depois do presidente norte-americano ter dado novo prazo de resposta ao grupo islamita.


Na sua rede Truth Social, pouco depois de o movimento islamista palestiniano ter indicado que precisava de mais tempo para considerar a proposta de Washington, Trump escreveu que, "se esta ÚLTIMA OPORTUNIDADE de acordo não for aproveitada, um INFERNO como nunca antes visto irá cair sobre o Hamas".  "HAVERÁ PAZ NO MÉDIO ORIENTE DE UMA FORMA OU DE OUTRA", garantiu Trump.

Num briefing na Casa Branca, na tarde de sexta-feira, a secretária de imprensa Karoline Leavitt disse que as consequências de recusa do acordo seriam "muito graves" para o Hamas.

"Acredito que o mundo inteiro deve ouvir o presidente dos Estados Unidos alto e bom som", acrescentou Leavitt. "O Hamas tem a oportunidade de aceitar este plano e avançar de forma pacífica e próspera na região. Se não o fizer, as consequências, infelizmente, serão muito trágicas".
Isolado ou talvez não

O Hamas parecia dividido internamente quanto à aceitação do plano de Trump para Gaza, que propõe o fim imediato dos combates e a libertação, no prazo de 72 horas, de 20 reféns israelitas vivos detidos pelo Hamas - bem como dos restos mortais de reféns que se acredita estarem mortos - em troca de centenas de residentes de Gaza detidos. 

A proposta inclui igualmente a retirada faseada do enclave por parte das forças de Israel e o desarmamento do Hamas, proibindo também o grupo de participar da nova administração do enclave.

O plano foi aceite por Israel e Trump afirmou que contava igualmente com o apoio de países árabes e muçulmanos, o que parecia isolar o Hamas.

O Paquistão veio dizer esta sexta-feira que o plano de 21 pontos apresentado pelo presidente norte-americano aos líderes regionais durante a 80ª Assembleia Geral das Nações Unidas, não é o mesmo do que foi anunciado segunda-feira passada, dia 30 de setembro, na Casa Branca.


Como ultimatum, a 16 de Setembro, o exército israelita lançou uma ofensiva contra a Cidade de Gaza, considerada o último bastião do Hamas. O líder militar do grupo convocou para a cidade todos os combatentes para resistir aos soldados israelitas.

Esta sexta-feira, Trump afirmou também que "a maioria dos restantes combatentes do Hamas está cercada e militarmente encurralada, e estão apenas à espera do meu sinal, 'ATAQUEM', para serem rapidamente exterminados".

Com agências
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