"História da Grã-Bretanha precisa de ser reescrita". Investigadores situam Revolução Industrial 100 anos antes
Investigadores da Universidade de Cambridge concentraram a análise das alterações na força de trabalho que decorreram desde o ano 1600 e concluíram que "a Grã-Bretanha já estava a industrializar-se 100 anos antes da Revolução Industrial". Defendem, por isso, que esta transição tecnológica começou no século XVII, ainda na dinastia Stuart, e não no séc. XVIII com a dinastia Hanôver.
A primeira fase foi desencadeada na Grã-Bretanha e convencionou-se que começou na segunda metade do século XVIII e durou até cerca de 1830 (séc. XIX).
Porém, o mais recente estudo da Economies Past da Universidade de Cambridge dedicado à Revolução Industrial argumenta que já nos anos de 1600 - séc XVII - estava em curso a alteração do processo de manufatura.
Reescrever a História
Leigh Shaw-Taylor faz investigação na área da História Económica e é coautor desta análise. Afirma que “foram gastos 100 anos a estudar a Revolução Industrial com base num equívoco” e isso implicou um acumular de erros.
“Ao catalogar e mapear séculos de dados de emprego, podemos ver que a história que contamos a nós próprios sobre a história da Grã-Bretanha precisa ser reescrita”, defende Shaw-Taylor.
“Descobrimos novos empregos associados à produção de bens, o que sugere que a Grã-Bretanha já estava a industrializar-se 100 anos antes da Revolução Industrial”.
Os investigadores entendem que a Grã-Bretanha do século XVII pode vista como o início da primeira etapa da Revolução Industrial, porque é neste momento que se estabelecem as bases da mudança de uma sociedade agrícola e artesanal para uma economia dominada pela manufatura.Ao analisarem os dados da centúria de 1600 encontram redes de artesãos domésticos a trabalharem com comerciantes, "funcionando de forma semelhante às fábricas".
De acordo com o estudo, nesta altura deteta-se nos registos um declínio acentuado no campesinato agrícola e um "aumento nas pessoas que fabricavam bens, como artesãos locais - ferreiros, sapateiros -, ao lado de uma rede crescente de tecelões que produzem tecidos para atacado".
De acordo com o estudo, nesta altura deteta-se nos registos um declínio acentuado no campesinato agrícola e um "aumento nas pessoas que fabricavam bens, como artesãos locais - ferreiros, sapateiros -, ao lado de uma rede crescente de tecelões que produzem tecidos para atacado".
Cálculos das mudanças na força de trabalho
O estudo cruzou dados detalhados da história do trabalho construída a partir de mais de 160 milhões de registos, abrangendo mais de três séculos.
Os autores usaram informações dos censos, registos paroquiais, registos de inventário e muito mais para rastrear as mudanças na força de trabalho britânica desde os finais dos Tudor com Elizabete I, passando pelos Stuart, Hanôver e até à véspera da I Guerra Mundial.
“O nosso banco de dados mostra que uma onda de empresas e produtividade transformou a economia no século XVII, lançando as bases para a primeira economia industrial do mundo. A Grã-Bretanha já era uma nação de criadores antes o ano 1700”, sublinha Shaw-Taylor, citado no jornal britânico The Guardian.
Na análise, os autores observam que, em simultâneo, tanto a Europa continental definhou na agricultura de subsistência como, na Grã-Bretanha, os trabalhadores agrícolas do sexo masculino decresceram mais de um terço – de 64 para 42 por cento, entre de 1600 a 1740.
Porém, no mesmo período, de 1600 a 1700, a parcela da força de trabalho masculina envolvida na manufatura de bens aumentou em 50 por cento, alocando 42 por cento de todos os homens.
Os dados investigados demonstram que no século XIX o setor de serviços quase duplicou, um boom atribuído muitas vezes à década de 1950.
Este crescimento da centúria de 1800 é melhor explicado caso se coloque o arranque do processo da Revolução Industrial mais cedo, acreditam os historiadores, que estudaram os estímulos do crescimento durante quase 300 anos.