Hong Kong. Magnata da imprensa foi detido sob lei de segurança nacional

por RTP
Vernon Yuen - EPA

Jimmy Lai, proprietário de jornais e uma das principais figuras do movimento pró-democracia de Hong Kong, foi detido esta segunda-feira ao abrigo da nova lei de segurança nacional por suspeita de conluio com forças estrangeiras. A polícia de Hong Kong fez, entretanto, buscas ao grupo de comunicação social do magnata.

O magnata da comunicação social de Hong Kong, Jimmy Lai, foi preso na manhã desta segunda-feira por, alegadamente, violar a nova lei de segurança nacional da cidade aprovada por Pequim e imposta ao território chinês no passado mês de junho.

"Foi detido em casa, por volta das 07h00 (00h00 em Lisboa). Os nossos advogados estão a caminho da esquadra", disse à agência de notícias France-Presse (AFP) Mark Simon, um dos assessores de Lai.

Através do Twitter, Simon afirmou que outros membros do grupo de comunicação social dirigido por Jimmy Lai também tinham sido detidos.


Uma fonte policial disse à agência de notícias que Lai foi detido por conluio com forças estrangeiras, um dos crimes previstos na nova lei de segurança nacional, e por fraude. A polícia de Hong Kong informou ainda que prendeu outras sete pessoas, incluindo dois dos seus filhos e outros executivos do Next Digital, sob a mesma suspeita e que as buscas desta operação ainda estão a decorrer, podendo haver mais detenções.

O jornal Apple Daily divulgou imagens do momento em que as forças policiais entraram no edifício da Next Digital, começaram as buscas e levaram o proprietário Jimmy Lai.

Dezenas de agentes das forças de segurança entraram na sede do grupo ao final da manhã em Hong Kong, situada numa zona industrial, com os jornalistas do jornal Apple Daily a difundir em direto as imagens das buscas policiais, na rede social Facebook.

Nas imagens, vê-se o chefe de redação do diário, Law Wai-kwong, a pedir à Polícia que não toque em nada antes de os advogados do grupo verificaram o mandado judicial. Os agentes ordenaram aos jornalistas que se levantassem e alinhassem para proceder à verificação da identidade, enquanto outros faziam buscas na redação.

Jimmy Lai, de 72 anos, é o proprietário de duas publicações pró-democracia e frequentemente críticas de Pequim, o diário Apple Daily e o Next Magazine. Visto por numerosos habitantes de Hong Kong como um herói e único magnata do território crítico de Pequim, o empresário é descrito nos meios de comunicação oficiais chineses como "um traidor", que inspirou as manifestações pró-democracia realizadas na região chinesa, e o líder de um grupo de personalidades acusadas de conspirar com nações estrangeiras para prejudicar a China.
"Estou pronto para ir para a prisão"
Em meados de junho, duas semanas antes de ser aprovada a nova lei de segurança nacional, Jimmy Lai disse à AFP esperar a detenção.

"Estou pronto para ir para a prisão. Se isso acontecer, terei oportunidade de ler livros que ainda não li. A única coisa que posso fazer é ser positivo", afirmou.

Para o empresário, a nova lei "vai substituir" o regime legal de Hong Kong e "destruir o estatuto financeiro internacional" da cidade.

Esta detenção ocorre numa altura em que Pequim tenta reprimir a oposição pró-democracia na cidade e aumenta as preocupações relativamente à comunicação social e a diversas liberdades.

Isto "confirma os piores receios de que a Lei de Segurança Nacional de Hong Kong seja usada para suprimir opiniões críticas pró-democracia e restringir a liberdade de imprensa", disse à Reuters Steven Butler, coordenador do programa do Comité para a Proteção dos Jornalistas na Ásia.

A lei de segurança nacional pune qualquer ato que a China considere subversão, secessão, terrorismo e conluio com forças estrangeiras com pena de prisão perpétua. Para os críticos esta nova lei ameaça as liberdades, mas os apoiantes consideram que vai trazer estabilidade ao território após meses de protestos pró-democracia.

O governo de Hong Kong tem reprimido ativistas locais depois de a lei de segurança nacional ter entrado em vigor, através de detenções ou impedindo candidatos pró-democracia de concorrer às eleições locais.

De facto, Lai viajava com frequência a Washington, onde se encontrou o secretário de Estado Mike Pompeo, para conseguir apoio para a democracia de Hong Kong, o que levou Pequim a considerá-lo "traidor". Aliás, a sua detenção pode aumentar as tensões entre a China e os Estados Unidos, que já na semana passada impuseram sanções a Hong Kong e às autoridades chinesas responsáveis ​​pela crescente repressão ao movimento pró-democracia no território.

Recorde-se que Hong Kong regressou à soberania da China em 1997, com um acordo que garante ao território 50 anos de autonomia a nível executivo, legislativo e judicial, bem como liberdades desconhecidas no resto do país, ao abrigo do princípio "um país, dois sistemas", também aplicado em Macau, sob administração chinesa desde 1999.
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