Hong Kong. Protestos intensificam-se após noite de violência

por RTP
Quase meio milhão de pessoas desfilou, no domingo, nas ruas de Hong Kong, naquela que foi mais uma onda de protestos que se têm vindo a realizar desde junho. Edgar Su - Reuters

Os protestos intensificaram-se esta segunda-feira depois de Hong Kong ter vivido uma noite de terror no passado domingo. Várias pessoas ficaram feridas na sequência de confrontos violentos com manifestantes anti-governamentais. O chefe do Gabinete de Ligação de Pequim afirma que estas manifestações "ofenderam seriamente todo o povo chinês". A onda de protestos dura há várias semanas, tendo como mote as emendas à lei da extradição, que entretanto foram suspensas.

Hong Kong acordou esta segunda-feira com várias pessoas a saírem, novamente, à rua em protesto, depois de uma noite de violência intensa.

A onda de protestos que tem assolado a cidade há várias semanas tomou proporções extremas na noite de domingo, depois de vários manifestantes terem instalado o terror na estação de metro de Yuen Long.

Imagens publicadas nas redes sociais demonstram um grupo de homens vestidos de branco a atacar várias pessoas com bastões, dentro e fora das carruagens. Testemunhas afirmam que o alvo dos agressores eram pessoas vestidas de preto, que regressavam a casa depois de protestarem nas ruas contra o governo.

“Eles espancaram as pessoas na carruagem indiscriminadamente, quem quer que fossem, até as pessoas que estavam a regressar a casa do trabalho. Alguns homens estavam a proteger-nos. Eles não reagiram, caso contrário teríamos sido espancados ainda mais. Eles batiam até em mulheres e crianças”, descreveu uma testemunha.

De acordo com as autoridades de Hong Kong, 45 pessoas foram hospitalizadas após o ataque em Yuen Long, com uma pessoa em estado crítico e outras cinco em estado grave.

O ataque ocorreu depois de a polícia de Hong Kong ter usado gás lacrimogéneo e balas de borracha contra manifestantes que contestam a lei de extradição que envia pessoas para a China para julgamento.
“Onde estava a polícia?”
Vários protestantes têm vindo a criticar a polícia pela demora de uma resposta às agressões em Yuen Long. “Hong Kong tem uma das maiores proporções de polícias por habitante. Onde estava a polícia de Hong Kong?”, questiona o deputado pró-democrata, Ray Chan, no Twitter.

O deputado do partido democrata e vereador do distrito de Yuen Long, Zachery Wong Wai-yin, afirmou, em declarações à CNN, que a polícia se afastou depois de informar que estava a ser ameaçado. Revela ainda que o seu partido está a investigar o eventual envolvimento da polícia com grupos de crime organizado.

“Enquanto a polícia estava desnecessariamente a atacar os manifestantes, do outro lado, em Yuen Long, havia verdadeiros bandidos que perseguiam e batiam em pessoas, jornalistas e deputados. Isto é lamentável”, declarou a Frente Cívica de Direitos Humanos, que organizou a marcha de domingo em Hong Kong.

A polícia é igualmente acusada de não ter feito nenhuma detenção durante os ataques na estação de metro de Yuen Long.

Em contra-argumentação, a polícia de Hong Kong afirmou, esta segunda-feira, que não foram feitas detenções, mas garantem que os ataques na estação ainda estão sob investigação. O comandante da polícia de Yuen Long, Yau Nai-keung, em declrações a repórteres locais, revelou que foi enviada uma patrulha policial para o local, mas tiveram de esperar por mais reforços.

Yau Nai-keung disse ainda que não foram avistadas armas quando a polícia chegou ao local e que não fizeram detenções porque “não conseguiam ter certezas de quem estava envolvido”.

“Mesmo aqueles que estavam vestidos de branco, não quer dizer que estivessem envolvidos. Nós vamos tratá-los de forma justa, não importa de que lado eles estejam”, acrescentou.
Pequim denuncia atos "intoleráveis"
Quase meio milhão de pessoas desfilou, no domingo, nas ruas de Hong Kong, naquela que foi mais uma onda de protestos que se têm vindo a realizar desde junho.

Em causa está a contestação contra um projeto de lei que permitiria a extradição para o continente chinês. A proposta foi, entretanto, suspensa, mas as manifestações generalizaram-se e denunciam agora o que os manifestantes afirmam ser uma "erosão das liberdades" na antiga colónia britânica que é atualmente uma região administrativa da China. A chefe do Governo de Hong Kong, Carrie Lam, admitiu que a lei estava "morta". No entanto, não conseguiu convencer os líderes dos protestos.

O desfile de protestantes no domingo começou de forma pacífica tendo tomado dimensões violentas ao final da tarde
, quando os manifestantes desafiaram as ordens policiais e marcharam em direção ao Gabinete de Ligação do Governo Chinês. Existem relatos de que os manifestantes grafitaram e lançaram ovos contra a fachada do edifício.

"Estas ações prejudicaram gravemente o espírito de Estado de Direito ao qual Hong Kong está profundamente ligado (...) e ofenderam seriamente todo o povo chinês, incluindo os sete milhões de compatriotas de Hong Kong", afirmou Wang Zhimin, chefe do Gabinete de Ligação de Pequim, aos jornalistas.

O “Diário do Povo”, jornal oficial do Partido Comunista Chinês, num comentário difundido na primeira página intitulado "O Governo central não pode ser desafiado", descreve as ações dos manifestantes como “intoleráveis”.

Os defensores da lei argumentam que, caso se mantenha a impossibilidade de extraditar suspeitos de crimes para países como a China, tal poderá transformar Hong Kong num "refúgio para criminosos internacionais".


Já os manifestantes dizem temer que Hong Kong fique à mercê do sistema judicial chinês como qualquer outra cidade da China continental e de uma justiça politizada que não garanta a salvaguarda dos direitos humanos.
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