Hungria. Entre os ataques do Fidesz a Bruxelas e os cinco minutos da oposição na TV

por Lusa

Budapeste, 21 mai 2019 (Lusa) -- Numa altura em que os olhos estão postos na Hungria, a campanha para as eleições europeias divide-se entre os contínuos ataques do partido no Governo a Bruxelas e os cinco minutos dados aos partidos da oposição na televisão pública.

Os ataques do Fidesz (partido conservador no poder na Hungria desde 2010) às instituições europeias, nomeadamente ao executivo comunitário, não são novos, mas têm vindo a subir de tom perante as críticas de Bruxelas sobre o desrespeito do Estado de direito e das regras da União Europeia (UE) na Hungria.

Foi esta tensão entre Bruxelas e Budapeste que colocou os holofotes virados para a Hungria nestas eleições europeias, que levam no domingo os húngaros às urnas para escolherem 21 dos 751 deputados do Parlamento Europeu na próxima legislatura.

Se estes holofotes parecem passar ao lado dos húngaros, dado o tímido ambiente de campanha eleitoral no país, não passam despercebidos à imprensa estrangeira, que este ano triplicou a sua presença no país para fazer a cobertura para as europeias, constatou a agência Lusa no local.

Apesar de tímida, a campanha é, claramente, dominada pelo Fidesz, que pede aos húngaros -- através de cartazes colocados em todas as esquinas de Budapeste -- que enviem uma "mensagem a Bruxelas" nestas eleições europeias.

E a mensagem é de que "a imigração deve ser parada", ecoa o Fidesz em letras garrafais laranja, da cor do partido.

Este discurso anti-imigração e a favor do fecho das fronteiras aos migrantes tem sido a maior arma usada pelo partido nos últimos anos, tendo ganhado força na opinião pública com a crise migratória de 2015.

Nesta linha de pensamento, o Fidesz tem distribuído panfletos com fotografias de forças policiais nas fronteiras junto às quais apela que os húngaros "votem no programa do Órban", primeiro-ministro do país e principal rosto do partido, contra a imigração.

Esta narrativa tem, inclusive, vindo a sobrepor-se a qualquer outro problema nacional, nomeadamente o da natalidade.

Ainda assim, essa questão não é esquecida na campanha para as europeias e, também aí, o Fidesz decidiu criticar Bruxelas.

Junto a fotografias de crianças e adultos, o partido escreve que, "apesar dos ataques de Bruxelas", a "família está em primeiro lugar na Hungria".

Esta é uma alusão às questões colocadas pela Comissão Europeia sobre o programa lançado há semanas pelo Governo húngaro para incentivar a natalidade no país através de empréstimos bonificados ou de reduções nos impostos para famílias numerosas.

Menos espaço nesta campanha eleitoral têm os partidos da oposição, seja nas ruas, seja nos meios de comunicação públicos, a televisão e a rádio (Magyar Televízió e Magyar Rádio).

Em ambos os casos, segundo alegam estes partidos, há uma predominância do Fidesz: ou porque utiliza esses canais para propaganda em 99% do ano e apenas autoriza 1% de tempo de antena da oposição durante a campanha por ser obrigatório por lei ou porque tem ligações a empresas publicitárias que não concessionam os seus espaços à oposição.

Resta aos principais partidos -- Movimento por uma Hungria Melhor (Jobbik), Partido Socialista Húngaro (MSZP), Coligação Democrática (DK) e Políticas Podem Ser Diferentes (LMP) -- colar cartazes de tamanho A1 em postes de eletricidade e noutros objetos de mobiliário urbano, em alguns casos fazendo-o de forma ilegal, por se desconhecer quem é o proprietário desse equipamento.

Em todos esses cartazes, surgem rostos dos candidatos com uma mensagem.

Se o Jobbik tenta atrair eleitores com "um salário mínimo europeu", o MSZP exibe a imagem de uma poltrona pedindo que os húngaros "não fiquem em casa e votem", já que a abstenção funciona "a favor deles", do Fidesz.

Enquanto o DK afirma que quer "ficar na Europa", o LMP sublinha que "a Europa será verde ou não" o será de todo, não havendo um meio-termo.

São às dezenas os `posters` da oposição espalhados por Budapeste, mas contam-se pelos dedos - e é preciso sair do centro da cidade para encontrar - os grandes cartazes dos partidos da oposição.

Diferente aposta faz o jovem partido Momentum, criado há dois anos, que prefere divulgar nas redes sociais folhetos modernos a garantir o uso de "dinheiro da UE só para hospitais, escolas e empregos" na Hungria.

Pouco significativa é a cobertura noticiosa desta campanha. Nos meios de comunicação públicos, é concedida à oposição a oportunidade de irem à estação televisão pública falar sobre o seu programa eleitoral, mas apenas durante cinco minutos.

Nos últimos dias, o Momentum destacou-se por usar estes cinco minutos para um dos seus candidatos apresentar uma espécie de noticiário, como se fosse um pivô, com notícias de corrupção que abrangiam Órban ou oligarcas a si aliados, que normalmente não passam no canal público.

O vídeo foi colocado `online` e teve milhares de partilhas.

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