Imigração de venezuelanos muda pequena cidade fronteiriça no Brasil

por Lusa

Pacaraima, Brasil, 30 mar (Lusa) - A presença de cada vez mais venezuelanos em Pacaraima, uma pequena localidade fronteiriça no norte do Brasil, está a preocupar a população local, insatisfeita com as ações de ajuda humanitária planeada.

"A nossa cidade oferecia bons serviços de saúde e hoje você vai procurar atendimento e só vê venezuelanos. Os moradores estão ficando em segundo plano", reclamou Francimar Sousa Melo, professor de 37 anos.

Cada vez mais os moradores contestam a pressão populacional causada pelos imigrantes e são muitas as queixas de assaltos, casos de tráfico de droga e contestações à proposta do Governo central de apoiar os venezuelanos na zona.

A transformação de um ginásio desportivo num centro de acolhimento foi uma das causas para uma onda de mobilizações e protestos que assolou a cidade.

Os moradores saíram às ruas com faixas de protesto em meados de Março e afirmam que não vão admitir que o espaço seja usado pelo Exército para abrigar um centro de acolhimento aos refugiados, ao lado de uma escola.

"O município não estava reparado para receber este grande volume de imigrantes. A escola onde trabalho tem capacidade de atender 600 alunos e hoje atende 712 alunos por causa dos venezuelanos que estão se instalando aqui", disse Francimar Sousa Melo.

Rodvan Alves, que é vereador da cidade, participou numa reunião pública na câmara municipal e disse aos moradores que a ajuda prometida pelo Governo brasileiro aos venezuelanos não vai melhorar a situação.

"Num mês ou dois vão começar a chegar aqui 30 mil pessoas diariamente. O Governo Federal não vai disponibilizar recursos para manter este povo na fronteira", disse.

Desde 2015 que a presença de grupos de venezuelanos se tem vindo a acentuar na cidade, a apenas 17 quilómetros de Santa Helena, que fica do outro lado da fronteira.

Pacaraima tem cerca de 12 mil habitantes segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e tem vivido do comércio transfronteiriço, uma situação impossível por causa da crise económica e social na Venezuela.

No caso da saúde, o problema tem-se agravado já que centenas de venezuelanos atravessam todos os dias a fronteira em busca de atendimento médico gratuito e de remédios, que dificilmente encontram no seu país.

Um surto de malária em Bolívar, estado do sul da Venezuela próximo da fronteira, acentuou a lotação dos centros de saúde e hospitais estatais que atendem gratuitamente quase tantos venezuelanos quanto brasileiros.

Na estrada entre Boa Vista, capital de Roraima, e Pacaraima são visíveis centenas de carros de matrícula venezuelana e nas filas de espera dos centros de saúde o espanhol é a língua mais ouvida.

A chegada em massa dos venezuelanos à zona motivou também críticas dos indígenas brasileiros, da tribo Macuxi.

"Aqui nós temos os índios Waraos [da Venezuela] que estão recebendo café da manhã, jantar e alojamento e nós das comunidades indígenas [brasileiras] estamos sofrendo", disse à Lusa Tuxaua Mira Celio, que se mostra tão nacionalista quanto os brasileiros de origem europeia.

"Eu não sou a favor de que estes índios venezuelanos fiquem no nosso país. Eles poderiam ser ajudados no país deles", acusou.

"Aqui estão sendo tratados como reis, como rainhas e nós estamos com fome. Os Governos têm que olhar mais para nossas necessidades, se eles estivessem nos ajudando ficaríamos calados", acrescentou.

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