Índia e Paquistão concordam com interrupção de hostilidades em Caxemira

por RTP
EPA

Numa rara declaração conjunta, os dois países anunciaram um acordo para cumprir “estritamente” o cessar-fogo na fronteira de facto, na região disputada de Caxemira.

De acordo com um comunicado militar do Paquistão, a decisão foi acertada entre os diretores-gerais de operações militares do lado da Índia e também do Paquistão, tendo os dois lados comunicado através de uma linha direta esta quinta-feira de manhã. O novo acordo vigora a partir da meia-noite de sexta-feira.

“Ambos os lados concordaram em cumprir estritamente todos os acordos, entendimentos e cessar de disparos ao longo da linha de controlo e em todos os restantes setores a partir da meia-noite”, lê-se no comunicado.

Acrescenta ainda que as negociações ocorreram “numa atmosfera franca e cordial” entre os exércitos dos dois países.

O mencionado cessar-fogo está em vigor desde 2003, mas tem sido frequentemente transgredido pelas duas partes ao longo dos últimos anos, com projéteis, morteiros e disparos ao longo da Linha de Controlo, que divide a Caxermira administrada por Índia e Paquistão, dois países com armas nucleares e que continuam envolvidos num conflito latente. 

Mehbooba Mufti, ex-ministro da região de Caxemira na zona administrada pela Índia, considera que este é um passo importante para que os dois países possam iniciar um diálogo político que traga paz à região.

“As violações de cessar-fogo criam uma enorme destruição. Vemos pessoas a serem mortas todos os dias, sejam polícias, militares, rebeldes ou civis. É preciso acabar com este derramamento de sangue”, salientou, em declarações à Al Jazeera.

No entanto, face às hostilidades dos últimos anos, há pouca esperança neste novo compromisso com o cessar-fogo. Só em 2020, houve pelo menos 28 mortos e 257 feridos na zona de Caxemira administrada pelo Paquistão.

De acordo com o Ministério paquistanês dos Negócios Estrangeiros, o cessar-fogo já foi violado pelas autoridades indianas por 175 vezes desde 1 de janeiro de 2021, tendo ficado feridos oito civis.

Já o Ministério indiano do Interior acusou o Paquistão de violar o cessar-fogo pelo menos por 5.133 vezes, o que resultou na morte de 22 civis e 24 soldados, bem como 197 feridos.

“A ausência de vontade política é o problema de ambos os lados. (…) E o problema é que isto já foi feito anteriormente, já foram estruturadas conversas diretas, adotámos medidas de construção de confiança, e todas essas medidas só são tão valiosas quanto a vontade política que as apoia. Tudo tem que ver com confiança, e para isso, as conversas devem começar ao mais alto nível”, sublinha Parvin Sawhney, especialista em segurança, em declarações à Al Jazeera.
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