Índia usa credenciais democráticas para ser "voz do Sul Global"

por Lusa

A Índia está a tirar partido das suas credenciais democráticas, que serão testadas novamente nas eleições que começam sexta-feira, para se assumir como líder do "Sul Global", afirmaram hoje analistas do país.

Numa conferência online organizada pelo grupo de reflexão ("think tank") Chatham House sobre como a democracia da Índia molda o seu papel global e as suas relações com o Ocidente, o investigador Chietigji Bajpaee notou a interação de duas narrativas do país mais populoso do mundo: ator geopolítico e económico cada vez mais proeminente e preocupações sobre retrocesso democrático.

O investigador notou como o país tem privilegiado o pragmatismo e a tecnologia, que "não é um valor neutro" e quando se tem tornado "menos liberal" e prevendo-se, assim, que não haja aprofundamento de cooperação em áreas mais sensíveis como partilha de informações com o Ocidente.

Através das "suas credenciais democráticas", a Índia tem procurado afirmar-se como "líder ou voz do Sul Global", referiu ainda.

o antigo diplomata Rakesh Sood notou a importância dos Estados Unidos para a Europa em termos de estrutura democrática e como a democracia "como a conhecemos está a ser desafiada" por questões económicas ou pela migração, destacando que os desafios se refletem, por exemplo, no setor energético, incluindo o petróleo.

Notando que a Índia continua a ser um país que precisa de prosperar, o antigo diplomata referiu que o objetivo da política internacional é "criar o ambiente" para isso.

A maior diferença trazida por Narendra Modi, atual primeiro-ministro que procura o terceiro mandato, é o "estilo de apresentação", com foco na personalidade e numa Índia "mais do que ser apenas uma democracia, é um Estado civilizacional", acrescentou.

A especialista em relações internacionais do sul da Ásia da Universidade de Oxford, Kate Sullivan de Estrada indicou as dúvidas que se levantam sobre a neutralidade de Deli à invasão russa da Ucrânia, que aconteceu em fevereiro de 2022, acrescentando que "países imprevisíveis fazem crescer a desconfiança".

As eleições gerais na Índia iniciam-se sexta-feira e prolongam-se até 01 de junho, envolvendo quase 970 milhões de eleitores, ou seja mais de 10% da população global.

A 04 de junho devem ser anunciados os resultados da votação de 44 dias para eleger os 543 membros da câmara baixa do parlamento, denominada Lok Sabha, em sete fases.

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