Indonésia. Quem for eleito deverá manter política externa

por Lusa

Analistas internacionais consideram que o próximo Presidente da Indonésia deverá manter uma política de não-alinhamento e o apoio à adesão de Timor-Leste à Associação das Nações do Sueste Asiático (ASEAN).

"Não creio que haja uma mudança fundamental na Indonésia" em termos de política externa, disse Lina Alexandra, diretora em Jacarta do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS, com sede em Washington).

Intervindo na quarta-feira numa videoconferência da Chatham House sobre as eleições de 14 de fevereiro na Indonésia, Lina Alexandra considerou que a possibilidade de o atual ministro da Defesa, Prabowo Subianto, ser eleito não mudará as relações com Timor-Leste.

"A Indonésia continuará a apoiar a adesão de Timor-Leste à ASEAN", afirmou, defendendo que essa será a posição de quem for eleito.

Prabowo Subianto, 72 anos, tem sido criticado por alegados abusos de direitos humanos em Timor-Leste e na Papua, bem como pela tortura de ativistas pró-democracia, quando era militar.

Antigo comandante das forças especiais envolvidas na invasão de Timor-Leste, em 1975, Prabowo sempre negou as alegações e nunca foi alvo de um processo-crime.

Prabowo candidata-se pela terceira vez, depois de ter perdido para o atual Presidente, Joko Widodo, conhecido por Jokowi, em 2014 e 2019.

A Constituição impede Jokowi, 62 anos, de cumprir um terceiro mandato consecutivo.

Prabowo é agora visto como o "homem" de Jokowi por ter como candidato a vice-presidente Gibran Raka, o filho mais velho do Presidente.

Tem como adversários Anies Baswedan, 54 anos, um académico que foi governador de Jacarta, e Ganjar Pranowo, 55, antigo governador de Java Central.

Prabowo lidera as sondagens com 53%, contra 20% de Anies e 19% de Ganjar.

Com mais de 245 milhões de habitantes e a maior população muçulmana, a Indonésia é considerada a terceira maior democracia do mundo, depois da Índia e dos Estados Unidos.

Em 14 de fevereiro, cerca de 205 milhões de indonésios vão escolher o novo Presidente, mas também os representantes executivos e legislativos a todos os níveis administrativos.

Segundo dados oficiais, mais de metade dos eleitores tem entre 17 e 40 anos e cerca de um terço menos de 30.

Para Yanuar Nugroho, antigo chefe-adjunto do gabinete presidencial indonésio e investigador do instituto de Singapura ISEAS-Yusof Ishak, as questões económicas deverão prevalecer nas eleições.

Referiu que a popularidade de Jokowi permanece elevada -- alguns estudos dão-lhe uma taxa de aprovação de 80% - e que tem havido uma tendência de os candidatos se identificarem com as suas políticas sociais.

Considerou a atribuição de apoios diretos aos mais necessitados como decisiva, apesar de denúncias de manipulação política com campanhas como a do leite grátis para as crianças.

"Para os pobres, isso é realmente importante", disse o investigador indonésio, que admitiu a necessidade de uma segunda volta, em junho.

Lina Alexandra também não se mostrou certa de uma eleição à primeira volta, ao contrário de Ben Bland, diretor do Programa Ásia-Pacífico da Chatham House, que destacou a vantagem consistente de Prabowo.

Bland salientou que a Indonésia é "uma voz importante no mundo muçulmano", tem uma economia em crescimento e é "a mais poderosa nação da ASEAN", pelo que a eleição de um novo líder em 10 anos é significativa.

Reconhecendo nos três candidatos uma "aspiração genuína" de fazer da Indonésia um grande país, Lina Alexandra considerou que quem for eleito "manterá uma atitude pragmática".

"Continuará a política de não-alinhamento no meio da rivalidade das grandes potências, em especial Estados Unidos e China", disse.

Bland reconheceu que "a Indonésia quer ser grande", mas reforçou a ideia de continuidade da política externa.

"Há a sensação de que, no passado, quando líderes como Sukarno e Suharto se envolveram muito com determinados blocos, isso coincidiu com uma grande divisão e violência na Indonésia", acrescentou.

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