Insetos voadores diminuíram mais de 75% em 27 anos

por RTP
Foto: David W Cerny - Reuters

Um estudo recente, publicado esta semana na revista científica PLOS One, descobriu que o número de insetos voadores, em áreas protegidas na Alemanha, diminuiu mais de 75% nas últimas três décadas. O estudo, que decorre desde 1989, consiste na análise da biomassa total de insetos em 63 áreas protegidas alemãs, usando armadilhas Malaise. Os biólogos da Universidade Radboud, na Holanda, e da Entomological Society Krefeld, na Alemanha, receiam que esta drástica diminuição nos últimos 27 anos tenha consequências nos vários ecossistemas naturais e cadeias alimentares.

“Os nossos resultados demonstram que os declínios relatados recentemente em várias categorias taxonómicas, como borboletas, abelhas selvagens e mariposas, estão a decorrer em paralelo com uma perda severa de biomassa aérea total, sugerindo que não são apenas as espécies vulneráveis, mas a comunidade de insetos voadores como um todo que foi dizimada ao longo das últimas décadas”, lê-se no estudo.

O decréscimo da taxa de insetos voadores tem suscitado, desde há muito tempo, o interesse de muitos investigadores. No entanto, segundo a publicação, o número de estudos relativos à evolução dos insetos ainda é limitado, uma vez que, até agora, muito poucos estudos monitorizaram a biomassa de insetos durante um período de tempo tão extenso.

Esta investigação, que decorreu 1989 e 2016, baseou-se em fatores como as alterações climáticas, os habitats e os usos da terra em áreas de proteção natural. Considerando a influência destes fatores e que “o declínio generalizado da biomassa dos insetos é alarmante, (…) as armadilhas foram colocadas em áreas protegidas que visam preservar as funções do ecossistema e a biodiversidade”.

Os resultados deste estudo entomólogo, baseado no modelo de utilização de armadilhas de Malaise, demostram “um declínio dramático na biomassa média de insetos no ar de 76% (até 82% no verão) em apenas 27 anos para áreas naturais protegidas na Alemanha”.

“Embora o declínio gradual de espécies raras de insetos tenha sido conhecido há algum tempo (…), os nossos resultados ilustram um declínio contínuo e rápido na quantidade total de insetos aéreos ativos no espaço e no tempo”, diz o estudo. Este acentuado decréscimo “deve ter efeitos em cascata em níveis tróficos e muitos outros efeitos do ecossistema”.

Sendo causado pela influência de vários fatores, esta diminuição da biodiversidade de insetos voadores pode provocar “efeitos em cascata em redes alimentares e pôr em risco os serviços dos ecossistemas”, uma vez que “os insetos desempenham um papel central em diversos processos, incluindo a polinização (…) e fornecendo uma fonte de alimento para níveis tróficos superiores, como aves, mamíferos e anfíbios”.

O estudo mostra uma queda acentuada no número de insetos na Alemanha e conclui que “esta perda ainda não reconhecida de biomassa de insetos deve ser levada em consideração na avaliação de declínios na abundância de espécies, dependendo de insetos como fonte de alimento e funcionamento do ecossistema na paisagem europeia”.

As amostragens conclusivas desta investigação apelam à “necessidade urgente de descobrir as causas desse declínio, a sua extensão geográfica e compreender as ramificações do decréscimo dos ecossistemas e dos serviços ecossistémicos”.
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