Intercept divulga áudio de procurador da Lava Jato a comemorar proibição de entrevista a Lula

por Lusa
Desde o dia 9 de junho que o The Intercept tem vindo a publicar o conteúdo de mensagens que obteve de uma fonte anónima e que colocaram em causa a imparcialidade da operação Lava Jato Reuters

O `site` The Intercept revelou na terça-feira um áudio, que pertence alegadamente ao procurador da operação Lava Jato Deltan Dallagnol, em que este comemora a proibição de uma entrevista ao ex-Presidente Lula da Silva, em setembro passado.

"Caros, o Fux (juiz) deu uma liminar (ordem judicial provisória) suspendendo a decisão do Lewandowski (juíz) que autorizava a entrevista [a Lula], dizendo que vai ter que esperar a decisão do plenário. Agora não vamos alardear isso, não vamos falar para ninguém. Vamos manter [em segredo], ficar quieto, para evitar a divulgação o quanto possível. Porque quanto antes for divulgado, mais rápido haverá recurso do outro lado (defesa de Lula)", declarou Dallagnol no início do ficheiro de áudio.

"O pessoal pediu para não comentarmos publicamente e deixar que a notícia surja por outros canais para evitar precipitar recurso de quem tem uma posição contrária à nossa. Mas a notícia é boa, para terminar bem a semana, depois de tantas coisas ruins. É para terminar bem o final de semana. Abraços", comemorou o procurador da Lava Jato, em conversa com outros agentes do Ministério Público Federal.

O ficheiro de áudio, revelado pelo The Intercept, terá sido divulgado na noite de 28 de setembro do ano passado, num grupo de conversação na aplicação Telegram, e dizia respeito ao veto do Supremo Tribunal Federal (STF) ao pedido do jornal Folha de S.Paulo para entrevistar o ex-chefe de Estado Lula da Silva, preso desde abril de 2018.

Esta é a primeira vez que o portal de jornalismo de investigação liderado por Glenn Greenwald divulga um áudio, após ter começado a publicar, há precisamente um mês, mensagens de texto entre promotores e juízes brasileiros, que colocam em causa a imparcialidade da Lava Jato, a maior operação contra a corrupção do Brasil.

De acordo com o The Intercept, na manhã do dia 28 de setembro de 2018, a poucos dias das eleições presidenciais no país, a imprensa noticiou que o magistrado do STF Ricardo Lewandowski autorizara Lula a conceder uma entrevista ao jornal Folha de S.Paulo.

Logo após essa notícia, segundo o portal de jornalismo de investigação, os procuradores mostraram-se preocupados com o facto de Lula poder falar, e trataram de delinear estratégias para evitar a entrevista.

"Ando muito preocupada com uma possível volta do PT [Partido dos Trabalhadores], mas tenho rezado muito para Deus iluminar a nossa população para que um milagre nos salve", escreveu Anna Carolina Resende, que integrava a equipa de investigação da Lava Jato, ao qual Deltan Dallagnol respondeu: "Reza sim. Precisamos como país".

Na mesma conversa no grupo de conversação na aplicação Telegram, a procuradora Laura Tessler apontou que o direito do ex-Presidente era uma "piada" e "revoltante", classificando as conversas reveladas como "um verdadeiro circo".

Já o procurador Januário Paludo partilhou no grupo possíveis estratégias para impedir a entrevista de Lula.

"Plano a: tentar recurso no próprio STF, possibilidade Zero. Plano b: abrir para todos jornais fazerem a entrevista no mesmo dia. Vai ser uma zona (confusão) mas diminui a chance de a entrevista ser direcionada", afirmou o procurador.

Procurada pelo Intercept, a Operação Lava Jato do Paraná declarou que "as supostas mensagens atribuídas a integrantes do grupo de trabalho são oriundas de crime cibernético e não puderam ter o seu contexto e veracidade verificados".

"Diversas dessas supostas mensagens têm sido usadas, editadas ou descontextualizadas, para embasar falsas acusações que contrastam com a realidade dos factos", afirmou a Lava Jato em comunicado.

Desde o dia 09 de junho que o The Intercept tem vindo a publicar - agora também em conjunto com outros órgãos de imprensa brasileiros - o conteúdo de mensagens que obteve de uma fonte anónima e que colocaram em causa a imparcialidade da operação Lava Jato.

Os diálogos obtidos apontam para irregularidades na operação, principalmente as mensagens trocadas entre o procurador Deltan Dallagnol e o ex-juiz e atual ministro da Justiça, Sergio Moro, e indicam que os próprios promotores da Lava Jato tinham sérias dúvidas sobre a qualidade das provas contra o ex-Presidente Lula da Silva.

 

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