Invasão do Capitólio. Ex-chefe de Gabinete de Trump revelou documento com planeamento do ataque de 6 de janeiro

por RTP
Alexander Drago - Reuters

Quase um ano após o assalto ao Capitólio dos Estados Unidos, a 6 de janeiro de 2021, a investigação continua com algumas testemunhas e pessoas próximas a Donald Trump a revelar alguns dados importantes sobre as tentativas para anular as Eleições Presidenciais, nas quais Joe Biden venceu. Esta semana, o antigo chefe de Gabinete de Trump, Mark Meadows, entregou à comissão de inquérito da Câmara dos Representantes um documento em versão PowerPoint, com um plano de emergência de Segurança Nacional com o objetivo de manter a Presidência norte-americana.

Depois de, nos últimos dias, anunciar que ia cooperar com a investigação ao ataque de 6 de janeiro, Mark Meadows revelou estar na posse de um PowerPoint na véspera do assalto ao Capitólio, com detalhes sobre o golpe, avança o Guardian este sábado.

Embora tenha violado uma intimação do Congresso e não tenha aparecido numa última audição no Congresso dos Estados Unidos, o ex-chefe de Gabinete de Donald Trump provou, com este documento, estar a par dos esforços do antigo presidente e aliados para impedir a certificação de Joe Biden como presidente eleito naquele dia.

Intitulado “Fraude Eleitoral, Interferência Estrangeira e Opções para 6 de Janeiro”, o documento apresenta várias recomendações de Trump para conseguir manter a Presidência por um segundo mandato, com base em mentiras e teorias sobre a alegada fraude eleitoral.
Ataque delineado e apresentado num PowerPoint
Meadows entregou à comissão de inquérito uma versão da apresentação em PowerPoint com 38 páginas, à qual o jornal britânico teve acesso.

No documento, Trump destacava que os senadores e membros do Congresso tinham de ser informados da alegada “interferência estrangeira” e, nessa altura, o ex-presidente dos EUA declararia emergência nacional, determinando que todos os votos eletrónicos eram inválidos e pedindo ao Congresso que aprovasse uma alternativa constitucional “aceitável”.

No PowerPoint estavam também delineadas três opções para o então vice-presidente Mike Pence aproveitar a cerimónia de 6 de janeiro, no Capitólio, para devolver o lugar na Casa Branca a Trump. Um dos planos, identificados no documento agora divulgado, seria atrasar a certificação para permitir uma nova análise e contagem apenas “dos votos legais em papel”.

Na semana passada já tinha sido revelado que, entre a noite de 5 de janeiro e a manhã de 6 de janeiro, Pence terá recusado seguir em frente com o plano e, por isso, Donald Trump pediu aos seus aliados para tentarem impedir que a cerimónia decorresse normalmente.

De acordo com o jornal, as estratégias de Trump e os fundamentos para o plano de invadir o Capitólio eram baseados em alegações infundadas sobre fraude eleitoral, incluindo que “os chineses têm ganho sistematicamente o controlo sobre o nosso sistema eleitoral” em oito principais Estados norte-americanos. Mas na altura, Jeff Rosen (Procurador-Geral na altura) e Bill Barr (o seu antecessor) já tinham confirmado que não havia nada que indicasse que tinha havido fraude eleitoral e que os votos em papel não seriam suficientes para alterar os resultados das eleições.

Embora só agora Mark Meadows tenha entregue o PowerPoint às autoridades a investigar o ataque de 6 de janeiro, vários senadores republicanos e membros do Congresso já tinham visto a apresentação a 4 de janeiro.

A comissão de investigação teve ainda acesso a mensagens de texto entre o ex-chefe de Gabinete de Trump e um membro do Congresso sobre um “plano altamente polémico”.

“Eu adoro isto”, terá escrito ainda Meadows na troca de mensagens.

O ex-chefe de gabinete de Trump na Casa Branca entregou o material à comissão escolhida pela Câmara dos Representantes antes de, na terça-feira, ter quebrado o acordo de cooperação na investigação.

A comissão de inquérito ao assalto ao Capitólio foi iniciada pela presidente da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, e é composta por uma maioria de democratas do Congresso e apenas dois republicanos, Liz Cheney e Adam Kinzinger, que estão em desacordo com Trump.

Recorde-se que a 6 de janeiro, centenas de manifestantes invadiram o Capitólio e interromperam a confirmação da vitória eleitoral de Joe Biden, na sequência de reiteradas acusações de Trump sobre a existência de fraude eleitoral generalizada, sem fundamentação credível.
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