Irão e Arábia Saudita concordam em restabelecer relações após negociações em Pequim

por Mariana Ribeiro Soares - RTP

O Irão e a Arábia Saudita anunciaram esta sexta-feira que concordaram em restabelecer as relações diplomáticas após sete anos de hostilidade. O acordo foi alcançado esta sexta-feira com a mediação da China.

“Como resultado das negociações, o Irão e a Arábia Saudita concordaram em retomar as relações diplomáticas e reabrir as embaixadas dentro de dois meses”, informou a agência de notícias estatal iraniana Irna, citando um comunicado conjunto.

De acordo com o comunicado, ambos os países concordam ainda em “respeitar a soberania do Estado e não interferir nos assuntos internos um do outro”.


A declaração também esclarece que Riade e Teerão concordaram em ativar um acordo de cooperação em segurança assinado em 2001. O acordo foi anunciado após quatro dias de negociações, realizadas de 6 a 10 de março por altos funcionários de segurança das duas potências rivais do Médio Oriente na capital chinesa.

O Irão e a Arábia Saudita sempre tiveram rivalidades políticas e culturais ao longo da História, mas as tensões aumentaram de tom nos últimos anos. Riade cortou relações com Teerão depois de manifestantes iranianos terem invadido a embaixada saudita em 2016, após a execução de um clérigo xiita na Arábia Saudita. Desde então, os dois países mantêm um clima de hostilidade que tem alimentando os conflitos e arrastado os países vizinhos para a guerra.

As tensões foram agravadas em 2018, quando Washington se retirou unilateralmente do acordo nuclear com Teerão, assinado em 2015. Desde essa altura, o Irão foi responsabilizado por uma série de ataques contra a Arábia Saudita, incluindo um que teve como alvo o coração da indústria petrolífera saudita, em 2019, que reduziu temporariamente para metade a produção de petróleo daquele país.

A rivalidade entre o Irão, de maioria xiita, e a Arábia Saudita, de maioria sunita, dominou a política no Médio Oriente nos últimos anos, nomeadamente nas guerras no Iémen, Líbano, Iraque e na Síria. Uma melhoria das relações entre Irão e Arábia Saudita poderá, por isso, ter um efeito positivo na política em toda a região.

O presente acordo também poderá ter implicações no acordo nuclear do Irão, dado que as negociações para reavivar o pacto de 2015 com as potências mundiais estão congeladas.
EUA: “Resta saber se o Irão irá cumprir as suas obrigações”
O principal diplomata da China, Wang Yi, saudou a vitória diplomática para a China, afirmando que a restauração das relações entre o Irão e a Arábia Saudita é uma vitória para o diálogo e a paz.

"Esta é uma vitória para o diálogo, uma vitória para a paz, oferecendo boas notícias num momento de muita inquietação no mundo", disse Wang, citado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros da China.


Washington também saudou o acordo, sublinhando que não estiveram envolvidos diretamente nas negociações. O porta-voz da Casa Branca disse que “resta agora saber se o Irão irá cumprir as suas obrigações”.

O líder do grupo armado libanês Hezbollah disse que a retoma das relações entre o seu aliado Irão e a sua rival de longa data Arábia Saudita foi um "bom desenvolvimento".

Também os Emirados Árabes Unidos mostraram-se satisfeitos com o acordo e saudaram “o papel da China a esse respeito”.

c/agências
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