Irão nega qualquer reunião com os EUA na próxima semana

O Irão não tem quaisquer planos para se reunir com os Estados Unidos, disse o ministro iraniano dos Negócios Estrangeiros, Abbas Araqchi, numa entrevista à TV estatal esta quinta-feira, contradizendo uma declaração do presidente norte-americano, Donald Trump, quarta-feira, nesse sentido.

Graça Andrade Ramos - RTP /
MNE do Irão, Abbas Araqchi, nega qualquer reunião com os EUA na próxima semana Mohamed Azakir - Reuters

Araqchi afirmou que Teerão estava a avaliar se as conversações com os EUA eram do seu interesse, após cinco rondas anteriores de negociações que foram interrompidas por ataques de Israel e dos EUA às instalações nucleares iranianas.

O responsável pela diplomacia iraniana reconheceu que os danos provocados pelos bombardeamentos às instalações nucleares "não foram pequenos", e explicou que as autoridades competentes estavam a tentar perceber as circunstâncias atuais do programa nuclear iraniano, o que, segundo ele, influenciaria a futura posição diplomática do Irão.

O Irão tem estado a negar aos inspetores da ONU o acesso às instalações nucleares e o Parlamento aprovou mesmo uma lei para cortar relações com a AIEA e expulsar os inspetores. A proposta já terá sido aprovada pelo conselho de clérigos, abrindo caminho a que se torne lei.

Esta quinta-feira, o Governo dos Ayatolas afirmou que se sente "comprometido" com a decisão, o que poderá abrir caminho a nova crise internacional

O diretor da Agência Internacional para a Energia Nuclear, Rafael Grossi, advertiu esta quinta-feira o Irão contra essa possibilidade, lembrando que as inspeções são uma obrigação à luz do direito internacional, no âmbito do Tratado de Não Proliferação Nuclear, subscrito por Teerão.

As restrições aos movimentos dos inspetores impedem igualmente a localização das reservas de urânio enriquecido que o Irão terá retirado de antemão dos locais que iam ser bombardeados. Grossi já admitiu que a agência ignora o paradeiro de cerca de 400 quilos de urânio enriquecido a 60 por cento, próximo da capacidade de uso militar de 90 por cento.

Os Estados Unidos garantem que Teerão não conseguiu relocalizar estas reservas. Tanto os EUA como Israel justificaram os ataques às infraestruturas militares e nucleares iranianos com o objetivo de restringir a capacidade do Irão de criar armas nucleares. O Irão afirma que o seu programa nuclear se destina exclusivamente a uso civil.

Esta quarta-feira, reagindo durante a Cimeira da NATO ao cessar-fogo imposto a Israel e ao Irão após os ataques com bombas de destruição de bunkers no fim-de-semana passado, o presidente norte-americano Donald Trump, anunciou que os Estados Unidos iriam conversar com o Irão "na próxima semana", sugerindo um possível acordo sobre o programa nuclear de Teerão.

"Vamos falar com o Irão na próxima semana, podemos assinar um acordo, não sei"
, disse Trump durante a conferência de imprensa após a Cimeira da NATO em Haia.

Na mesma ocasião, Donald Trump afirmou que iria discutir o conflito com Israel e a instabilidade no Médio Oriente, sem se comprometer com um dia.

O chefe de Estado norte-americano rejeitou que o encontro tivesse em vista a assinatura de um acordo que mantenha o cessar-fogo com Telavive: "Podemos ou não assinar um acordo".

"A minha interpretação é que eles já lutaram o que tinham de lutar, a guerra acabou", comentou.
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