Irão promete "vingança" após morte de cientista nuclear de topo

por Andreia Martins - RTP
Reuters

O Líder Supremo do Irão exigiu este sábado que os responsáveis pela morte de Mohsen Fakhrizadeh, cientista de topo do programa nuclear iraniano, sejam punidos. Já o Presidente do país, Hassan Rouhani, acusou diretamente Israel pela morte do responsável e o chefe do Estado-Maior iraniano, o general Mohammad Bagheri, prometeu uma "terrível vingança". Várias Embaixadas israelitas foram entretanto colocadas em alerta máximo de segurança.

As principais figuras do regime iraniano prometem vingança e exigem a punição dos responsáveis pela morte de Mohsen Fakhrizadeh. Na sexta-feira, o chefe da divisão de investigação e inovação do Ministério da Defesa do Irão, considerado o arquiteto de um programa nuclear secreto de Teerão, foi assassinado em Absard, a leste da capital iraniana.

Este sábado, o Líder Supremo do país exigiu que os responsáveis por esta morte fossem punidos. Em comunicado, o ayatollah Ali Khamenei pediu "que este crime seja investigado e, claro, que haja punição para os autores e responsáveis”. Apelou ainda que seja dada continuidade “ao esforço científico e técnico deste mártir em todas as áreas em que trabalhou".

Por sua vez, o Presidente iraniano acusa Israel de ter agido a pedido dos Estados Unidos neste assassinato. “Mais uma vez, as mãos impiedosas da arrogância mundial, com o regime sionista usurpador como mercenário, estão manchadas com o sangue de um filho desta nação", disse Hassan Rouhani, prometendo que a resposta será dada “no momento apropriado”.

Rouhani garantiu que a morte do cientista não iria "perturbar" o progresso científico no país, reforçando que este assassinato se deveu à "fraqueza e incapacidade" dos inimigos de Teerão de impedir os desenvolvimentos do país.

No mesmo sentido, mas com palavras mais duras, o chefe do Estado-Maior iraniano, o general Mohammad Bagheri garantiu que haverá “uma terrível vingança” pelo assassínio do cientista. “Os grupos terroristas e os responsáveis e autores dessa tentativa cobarde devem saber que uma terrível vingança os aguarda", disse o responsável, citado pela agência Irna.
"Lembrem-se deste nome"
Este sábado, a televisão israelita avançava que várias Embaixadas de Israel estão em alerta máximo de segurança após as ameaças de retaliação.

No passado, entre 2010 e 2012, pelo menos quatro cientistas iranianos ligados ao programa nuclear foram assassinados, ainda que Teerão assegure desde há vários anos que não pretende desenvolver armas nucleares e que o programa é civil e apenas serve fins pacíficos. Na altura, os vários assassinatos foram atribuídos a Israel, que negou as acusações. 

Fakhrizadeh foi figura central numa apresentação do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, em 2018, sobre as intenções iranianas ao nível nuclear. “Lembrem-se deste nome. Fakharizadeh”, disse na altura.

A morte deste responsável volta a elevar as tensões no Médio Oriente, numa altura em que restam poucas semanas a uma liderança norte-americana que tem adotado uma postura de conflito e discórdia com Teerão ao longo dos últimos quatro anos. Joe Biden, Presidente-eleito dos Estados Unidos, mostrou-se disponível para regressar ao acordo sobre o programa nuclear iraniano, assinado em 2015 e que a Administração Trump abandonou em 2018. No entanto, o assassinato deste responsável poderá comprometer futuros esforços de diplomacia.

Mediante o acordo assinado por várias potências mundiais há cinco anos, o Irão concordou com a redução das atividades nucleares alcançando, em troca, o alívio de sanções. No entanto, desde que as sanções foram repostas e a política de “pressão máxima” da atual liderança norte-americana entrou em vigor, em 2018, o país começou a ultrapassar os limites estabelecidos pelo acordo e que até então tinham sido cumpridos.
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