Irão reitera que cabe aos EUA dar primeiro passo para salvar acordo nuclear

por Inês Moreira Santos - RTP
EPA

São os Estados Unidos que devem dar o primeiro passo para salvar o acordo nuclear de 2015 entre Teerão e as potências mundiais, disse o embaixador do Irão, esta quarta-feira, na Conferência sobre Desarmamento da ONU, em Genebra.

Na terça-feira, o Irão começou a restringir oficialmente as inspeções internacionais das suas instalações nucleares, numa tentativa de pressionar os países europeus e os Estados Unidos a suspenderem as sanções que paralisaram a economia do país e a restaurar o acordo nuclear de 2015. Um dia depois, Esmaeil Baghaei Hamaneh afirmou que a iniciativa tinha de partir dos EUA para garantir o acordo nuclear.

"Cabe à parte culpada voltar [ao acordo], para compensar os danos [causados ​​pelas sanções] e para garantir que não volta atrás com a sua palavra", disse o embaixador Esmaeil Baghaei Hamaneh, reiterando a posição de longa data de Teerão.

"Há um caminho a seguir com uma ordem lógica, como [o ministro iraniano dos Negócios Estrangeiros Mohammad Javad] Zarif apontou recentemente", acrescentou o diplomata.

Também esta quarta-feira, o Presidente iraniano, Hassan Rohani, instou Washington a eliminar as sanções impostas a Teerão para que o acordo internacional de 2015, "que se encontra comprometido", possa ser recuperado.

"A nova Administração dos Estados Unidos deve parar de imediato com as operações terroristas económicas. Assim, pode abrir-se o caminho para nos sentarmos e falarmos"
, disse Rohani durante a reunião semanal com os elementos do gabinete presidencial iraniano.

O chefe de Estado disse, no entanto, que o acordo sobre a energia nuclear não é negociável e que eventuais conversações devem manter-se no âmbito do pacto conhecido pelas siglas JCPOA (em inglês) abandonado pelos Estados Unidos em 2018.

"Reduzimos as nossas obrigações mas ainda estamos comprometidos com o JCPOA e queremos protegê-lo", disse ainda o Presidente do Irão no mesmo discurso que foi publicado pela agência de notícias oficial do regime.

A Administração de Joe Biden expressou já vontade em regressar ao acordo mas exige que Teerão cumpra as obrigações estabelecidas, enquanto Teerão considera que Washington deve dar o primeiro passo e levantar as sanções.

O acordo nuclear está numa fase mais tensa desde que, na terça-feira, o Irão suspendeu a aplicação voluntária do Protocolo Adicional do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP), que permite acesso sem aviso prévio aos inspetores da agência atómica das Nações Unidas a qualquer instalação nuclear iraniana, civil e militar.

Apesar de esta posição ter sido um novo golpe sobre o acordo, os efeitos podem ser mitigados porque foi alcançado um novo entendimento entre o Irão e a Agência Internacional de Energia Atómica no passado domingo para garantir a verificação necessária durante três meses. Sobre este ponto, Rohani assinalou que a posição "foi um movimento inteligente e prudente" para, por um lado, cumprir a lei do Parlamento de Teerão que exigia a suspensão dos Protocolos Adicionais, e, por outro, evitar duras condenações contra o Irão.

"A lei pretende fortalecer um edifício, mas caso não seja implementada de forma calculada e corretamente o edifício pode ficar destruído. Por isso, foi preciso muito cuidado com o cumprimento da lei e, ao mesmo tempo, manter a nossa relação com a Agência Internacional de Energia Atómica e dizer ao mundo que avançamos para a energia nuclear com fins pacíficos", afirmou.

Para Rohani, se o Irão demonstrasse à agência da ONU que abandonava todas as atividades no país, o mundo pensaria que o programa atómico iraniano não é pacífico, "enquanto agora a Agência Internacional de Energia Atómica considera que o Irão tem intenção de cooperar".

O acordo internacional de 2015 encontra-se debilitado desde a retirada unilateral dos Estados Unidos, durante a presidência de Donald Trump, o que provocou uma resposta do Irão, em 2019, ao decidir deixar de cumprir de forma gradual os compromissos, incluindo os limites de armazenamento e de enriquecimento de urânio.

Entretanto, a Agência Internacional de Energia Atómica confirmou que o Irão dispõe atualmente de dez vezes mais urânio do que aquele que lhe é permitido e que aumentou o uso de centrifugadoras avançadas proibidas pelo pacto nuclear de 2015.
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