Irlanda. Omissão de diagnósticos oncológicos mata 18 mulheres

por RTP
Células cancerígenas Fabian Bimmer - Reuters

Foram identificados 208 casos de mulheres afetadas por erros nos resultados de exames médicos. “CervicalCheck” foi o programa de deteção de cancro do colo do útero utilizado pelas mulheres.

Os casos ficaram conhecidos depois de o laboratório norte-americano (onde foram deixados os testes) ter aceitado compensar Vicky Phelan, uma mulher irlandesa, com 2,1 milhões de euros. Phelan decidiu tornar o seu caso público depois de o programa ter escondido a informação durante três anos. 

Segundo a CNN, Phelan fez um rastreio CervicalCheck em 2011. O teste foi enviado a um laboratório norte-americano pelo HSE (Health Service Executive), que indicou estar o mesmo “livre de irregularidades”. Em 2014 Phelan voltou a fazer exames e acusaram cancro do colo do útero. Depois dos tratamentos, o cancro supostamente entrou em remissão.

"Eu não tive nenhum sintoma preocupante além da dor lombar. Queixei-me durante dois anos", disse Phelan. Em 2017 depois dum teste de rotina, os resultados mostraram que o cancro voltou. "Os resultados demoraram três semanas. Eu tinha um tumor de 10 centímetros numa posição muito estranha. Era inoperável, e eu não conseguia fazer mais quimioterapia (…) o cancro era terminal”, disse Phelan. Em janeiro de 2018 soube que tinha entre seis a um ano de vida.

Irene Teap continuava a sangrar quatro meses depois de ter um bebé. Após ter feito exames, também nesse programa, foi-lhe diagnosticado do cancro do colo do útero com grau 2 – lesões que, se não forem tratadas, podem evoluir para cancro. São células pré-cancerígenas que estão à superfície do colo do útero, que continuarão a evoluir se não forem tratadas. “Como é que os exames que fiz não mostraram isto?”, questionou a vítima de 35 anos, depois de ter feito o último exame em 2015.
O cancro do colo do útero está entre os mais fáceis de serem prevenidos
Leo Varadkar, primeiro-ministro irlandês, ordenou a abertura de uma investigação para esclarecer estes casos.
No dia 29 de Maio, o Health Information and Quality Authority informou que o CervicalCheck – Programa Nacional de Rastreio da Irlanda – mudou o seu método primário de rastreio para o teste HPV (Vírus do papiloma humano).

Segundo a CNN, um estudo publicado pelo Journal of American Medical Association, revista científica de medicina, concorda com as conclusões de especialistas, em relação à identificação do cancro através do teste HPV, mais rápida do que com o exame Papanicolau.
Comité da Cervical Check
O ministro irlandês estabeleceu um Comité de direção da Cervical Check para assegurar a implementação de decisões em relação à organização. O principal objetivo é a garantia de um programa de rastreamento do colo do útero eficiente e sustentável para a mulher.

Na última reunião do comité, Irene Teap e Lorraine Walsh, outra mulher vítima dos falsos resultados negativos, entregaram uma carta “Imagine”, com uma declaração conjunta relativa ao que se tinha passado. “Imaginem sete cirurgias para tentar preservar a fertilidade e ter os filhos que nós desesperadamente queríamos, que falharam porque esgotaram a minha reserva ovária devido ao suprimento de sangue comprometido”, escreveu Walsh na carta.

Segundo a CNN, Cliona Loughnane, coordenadora de saúde do Conselho Nacional das Mulheres da Irlanda, diz que todas as mulheres inscritas no programa merecem um pedido de desculpas.

A faculdade de Patologia do Royal College, os Physicians, da Irlanda, irá formar um grupo de especialistas para ajudar no novo programa de triagem da CervicalCheck. “A triagem, que envolve a análise patológica de células do colo do útero para alterações pré-cancerosas, continua a ser a maneira mais fiável e eficaz de prevenir e detetar cancros incipientes quando são realizados num serviço nacional organizado. Por isso, continuamos a incentivar as mulheres a fazerem exames de rotina”, disse Louise Burke, presidente da faculdade e do grupo de especialistas, em comunicado à CNN.
Cancro do colo do útero
Segundo o instituto CUF de oncologia, o cancro do colo do útero “é um tumor de crescimento lento e é precedido de alterações celulares chamadas de displasia em que as células alteradas começam a aparecer no tecido do colo do útero”.

O exame HPV é muito útil para detetar o cancro numa fase muito inicial. Quando o diagnóstico é feito numa fase mais avançada, a lesão vai crescendo para a zona profunda do colo do útero e espalha-se para outros órgãos mais próximos, e depois para os outros. As opções de tratamento são a cirurgia, radioterapia e quimioterapia.
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