Israel anuncia restabelecimento do cessar-fogo após "série de ataques" a Gaza

O exército israelita anunciou esta quarta-feira que, "após uma série de ataques que atingiram dezenas de alvos terroristas", está a restabelecer o cessar-fogo na Faixa de Gaza.

Cristina Sambado - RTP /
Ebrahim Hajjaj - Reuters

"De acordo com a diretiva do Governo, após uma série de ataques que atingiram dezenas de alvos terroristas e neutralizaram terroristas em resposta às violações do Hamas, o Exército retomou a aplicação do cessar-fogo", referiu o comunicado dos militares israelitas.

As autoridades israelitas afirmaram que as suas forças atacaram "30 terroristas que ocupavam posições de comando em organizações terroristas" que operam dentro do território palestiniano.

A nota referiu ainda que as forças israelitas continuariam a respeitar o acordo de cessar-fogo, mas responderiam com firmeza a qualquer violação do pacto.

Pelo menos 91 palestinianos, incluindo 24 crianças e sete mulheres, morreram entre a tarde de terça-feira e esta quarta-feira devido aos bombardeamentos israelitas na Faixa de Gaza, disseram fontes médicas e da Defesa Civil do enclave à agência de notícias EFE.Esta onda de ataques israelitas, que atingiu de norte a sul a Faixa de Gaza, começou na tarde de terça-feira, por ordem do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, depois de ter acusado o Hamas de violar o cessar-fogo, em vigor há mais de duas semanas.

Netanyahu ordenou ao exército que realizasse "ataques contundentes na Faixa de Gaza", após uma reunião do Gabinete de Segurança, segundo um comunicado do Executivo de Israel.

A reunião de segurança foi convocada depois de o Hamas ter devolvido a Israel os restos mortais de um refém, que, após exames forenses, foram identificados como pertencentes a um prisioneiro cujo corpo já tinha sido recuperado em 2023.

Israel alegou que membros do grupo palestiniano atacaram os seus militares em Rafah, num incidente em que um soldado israelita foi morto. O grupo palestiniano negou qualquer envolvimento nestes ataques.


O ministro israelita da Defesa acusou o Hamas de um ataque no sul de Gaza que matou um soldado israelita na terça-feira e de violar os termos relativos à devolução dos corpos dos reféns mortos. O Hamas alegou não ter "qualquer ligação" com o ataque e insistiu no seu compromisso com o acordo de cessar-fogo.

O Hamas rejeitou o que chamou de "alegações infundadas" e acusou Israel de "tentar fabricar falsos pretextos em preparação para novas medidas agressivas".
Ataques israelitas a várias áreas da Faixa de Gaza

Israel realizou os ataques em resposta ao que considerou serem violações do acordo de cessar-fogo mediado pelos EUA. Na manhã desta quarta-feira, colunas de fumo negro subiam em várias partes do território palestiniano.O presidente norte-americano, Donald Trump, garantiu, no entanto, que "nada" poria em risco o acordo de cessar-fogo, em vigor desde 10 de outubro, que intermediou entre Israel e o Hamas.

O ministro da Defesa de Israel acusou o Hamas de um ataque no sul de Gaza que matou um soldado israelita na terça-feira e de violar os termos relativos à devolução dos corpos dos reféns mortos. O Hamas alegou não ter "qualquer ligação" com o ataque e insistiu no seu compromisso com o acordo de cessar-fogo.

A Defesa Civil no território palestiniano havia avançado, durante a última madrugada, que pelo menos 50 pessoas, incluindo 22 crianças, tinham sido mortas em ataques israelitas na Faixa de Gaza durante a madrugada.

Os ataques israelitas atingiram casas, escolas e blocos residenciais na Cidade de Gaza e Beit Lahia, no norte de Gaza, Bureij e Nuseirat, no centro, e Khan Younis, no sul. Um porta-voz da Defesa Civil avançou à agência de notícias AFP que pelo menos 50 pessoas morreram, incluindo 22 crianças, e cerca de 200 ficaram feridas.

Na Cidade de Gaza, testemunhas afirmaram ter visto "colunas de fogo e fumo" a subir para o ar enquanto explosões abalavam várias zonas residenciais.

Três mulheres e um homem foram retirados dos escombros da casa da família al-Banna, no bairro de Sabra, a sul da cidade, acrescentou a Defesa Civil.

No campo de refugiados urbano de Bureij, cinco membros da família Abu Sharar foram mortos num ataque aéreo contra a sua casa, na zona do Bloco 7, acrescentou a AFP. E em Khan Younis outras cinco pessoas morreram quando aeronaves atingiram um veículo numa estrada a noroeste da cidade.

A Defesa Civil afirmou que as suas equipas de resgate estavam "a trabalhar em condições extremamente difíceis" e que temia que o número de mortos aumentasse, pois acreditava-se que algumas pessoas desaparecidas estavam presas sob os escombros.Violação flagrante do cessar-fogo
O Hamas emitiu um comunicado, esta quarta-feira, negando que os seus combatentes tenham atacado as tropas israelitas e condenando os ataques israelitas.

Para o Hamas, "o bombardeamento criminoso levado a cabo pelo exército de ocupação fascista [israelita] em zonas da Faixa de Gaza representa uma violação flagrante do acordo de cessar-fogo".

Entretanto, o braço armado do grupo afirmou que iria adiar a devolução do corpo de um refém recuperado na terça-feira devido ao que chamou de "violações" israelitas"Nada vai pôr em risco" o cessar-fogo, diz Trump
Os EUA desvalorizaram as preocupações de que as hostilidades em grande escala pudessem ser retomadas."Pelo que percebi, eliminaram, mataram um soldado israelita. Depois os israelitas ripostaram e devem ripostar", afirmou aos jornalistas Donald Trump a bordo do Air Force One.


"Nada vai pôr em risco" o cessar-fogo, afirmou. "É preciso compreender que o Hamas representa uma parte muito pequena da paz no Médio Oriente e precisa de se comportar."

Antes, o vice-presidente dos EUA, JD Vance, afirmou que o cessar-fogo estava a "manter-se", apesar do que descreveu como "pequenas escaramuças" entre os dois lados.

O acordo de cessar-fogo intermediado pelos EUA, Egito, Catar e Turquia deveria implementar a primeira etapa do plano de paz de 20 pontos de Trump para Gaza.

O acordo previa que o Hamas devolvesse os seus 48 reféns, vivos e mortos, no prazo de 72 horas após a entrada em vigor do cessar-fogo, a 10 de outubro.

Todos os 20 reféns israelitas vivos foram libertados a 13 de Outubro em troca de 250 prisioneiros palestinianos e 1.718 detidos em Gaza.

Israel entregou também os corpos de 195 palestinianos em troca dos corpos dos 13 reféns israelitas devolvidos pelo Hamas até à data, juntamente com os de dois reféns estrangeiros – um tailandês e um nepalês.

Onze dos reféns mortos que ainda estão em Gaza são israelitas, um é tanzaniano e um é tailandês.

c/ agências
PUB