Israel e Irão arriscam conflito aberto que preferem evitar

por Lusa

Israel e Irão preferem evitar um conflito aberto, mas este poderá ser inevitável em caso de resposta dura de Telavive ao ataque direto iraniano de sábado, afirmam analistas do Médio Oriente. 

Para Ray Takeyh, especialista do Council on Foreign Relations (CFR, um `think tank` com sede em Washington, "o primeiro ataque direto do regime iraniano a território israelita poderá desencadear novas enfrentamentos entre os dois lados e levantar o risco mais grave de conflito regional desde o início da guerra Israel-Hamas, há seis meses".

"Nenhum dos lados quer este conflito, mas cabe a eles decidir. E é difícil ver como podem diminuir esta escalada. Provavelmente Israel retaliará. A sua postura de dissuasão exige uma resposta a tal ataque no seu território, mesmo que não haja vítimas. E então o Irão tem de responder", acrescentou, num comentário à crise entre os dois países.

O analista e historiador Max Boot, apesar de admitir a possibilidade de Israel retaliar, defende que será melhor para Telavive concentrar-se em acabar a guerra na Faixa de Gaza em vez de a estender ao Irão, apesar de as emoções dos dois lados estarem ao rubro.

 Num artigo no The Washington Post, Boot salientou que o Irão já manifestou o desejo de desanuviar a situação e que cabe agora a Benjamin Netanyahu decidir o que fazer após a "retaliação" iraniana ao ataque de 01 deste mês ao consulado iraniano em Damasco.

"Cabe ao gabinete de guerra de Israel decidir se vai ripostar contra o Irão. A pressão para reagir teria sido muito maior se o ataque iraniano tivesse provocado baixas em massa. Isso não aconteceu, diminuindo a pressão sobre Netanyahu para que faça algo precipitado", opina o colunista, que considera que a ofensiva iraniana "foi uma derrota para o Irão".

"Deu a entender que as forças armadas de Israel são suficientemente fortes para defender o país contra o Irão e reduziu o isolamento internacional de Israel após mais de seis meses de guerra brutal em Gaza. Mesmo as nações que têm apelado a Israel para implementar um cessar-fogo e diminuir o sofrimento dos civis puseram-se ao seu lado no sábado", sublinhou Max Boot.

Para o colunista, se assim o quisesse, Netanyahu poderia considerar a troca de ataques como uma vitória para Israel -- "bem como para o seu governo em apuros" -- ou poderia usá-lo "como uma desculpa perfeita para bombardear o programa nuclear do Irão ou outras instalações militares" iranianas.

"Israel teria toda a justificação moral e legal para ordenar ataques aéreos ao Irão. Mas não seria inteligente do ponto de vista estratégico. O Irão é uma nação de 88,5 milhões de pessoas, enquanto Israel é uma nação de apenas 9,5 milhões. O Irão tem mais de meio milhão de militares no ativo, uma indústria de defesa sofisticada e uma vasta rede de poderosos representantes em toda a região. Israel pode ferir o Irão, mas não pode derrotá-lo - nem mesmo destruir o seu programa nuclear bem escondido e bem fortificado. Nem sequer tem bombardeiros pesados, como os B-52, capazes de transportar as maiores munições destruidoras de `bunkers`", argumentou o colunista.

Para Boot, mesmo os Estados Unidos teriam dificuldade em derrotar o Irão, pelo que a administração Biden não deseja, "com razão", ser arrastada para uma guerra com a república islâmica, "que provavelmente levaria a um aumento dos preços do petróleo e a uma recessão económica global". 

"[O Presidente dos Estados Unidos, Joe] Biden está a pedir contenção a Netanyahu. Mas será que ele vai ouvir agora, quando tantas vezes ignorou os apelos no passado? Israel teve sorte em escapar a danos graves no último ataque iraniano. Pode não ter a mesma sorte da próxima vez. O passo prudente agora seria evitar uma escalada, que poderia envolver toda a região num conflito calamitoso", sustenta Boot.

E é nesse sentido que insiste em que seria melhor para Israel concentrar-se em acabar com a guerra em Gaza, em vez de a alastrar.

"É possível fazer mais para impedir os desígnios regionais do Irão, se Israel se aproximar dos Estados árabes que também são inimigos do Irão, do que se retaliar cegamente. Mas as emoções estão ao rubro de ambos os lados e os riscos de erro de cálculo estão a aumentar", analisa.

Segundo o colunista do diário norte-americano, os iranianos não estão mais ansiosos por uma guerra maior com Israel do que Israel está ansioso por uma guerra maior com o Irão. 

"Ambos os lados preferem travar um conflito de baixa intensidade, como têm vindo a fazer há muitos anos: o Irão patrocina ataques terroristas contra Israel através do seu `eixo de resistência`, enquanto Israel lança ações secretas contra o programa nuclear iraniano e ataques aéreos contra agentes iranianos na Síria e no Líbano", exemplifica. 

"Mas, por muito que os dois lados queiram evitar um conflito de maiores proporções, podem ainda assim tropeçar num se o ciclo ação/reação ficar fora de controlo", adverte.

 

 

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