Itália. Extrema-direita falha aposta em eleição regional

por RTP
Flavio Lo Scalzo, Reuters

Ao contrário da expectativa que anunciara, a Liga, partido de Matteo Salvini, não conseguiu arrebatar a maioria à esquerda na região da Emília Romana. O Partido Democrático (PD), de centro-esquerda, ganhou ontem a eleição regional com maioria de 51,4 por cento.

O governador da região, Stefano Bonaccini, afecto ao PD, viu renovado o seu mandato com pouco mais de metade dos votos expressos, contra 43,7 por cento de Lucia Borgonzoni, a candidata apoiada pela Liga, de extrema-direita.

A derrota de Borgonzoni representa também um pesado revés para o ex-ministro do Interior e vice-presidente do Governo, Matteo Salvini, que se empenhou plenamente na campanha e queria fazer dela uma vitória pessoal, significativa também no plano nacional e relevante para as suas ambições de retomar o controlo do governo central. A Liga contava com uma repetição em mais larga escala da vitória que obtivera nessa região aquando das eleições europeias de 2019, em que bateu com uma diferença de 7 por cento a coligação de centro-esquerda.

Salvini antecipara-se mesmo ao resultado eleitoral e, sobre o cenário de uma hipotética vitória, anunciara uma moção de censura para derrubar o Governo do PD e do Movimento 5 Estrelas (M5S). Depois da derrota, moderou naturalmente o seu entusiasmo e aludiu à hegemonia de décadas na Emilia Romana, dizendo-se orgulhoso por ter, pela primeira vez, disputado essa hegemonia.

O PD, que prudentemente lembrara repetidas vezes o carácter regional da eleição na Emília Romana, exultou com a vitória e logo mudou de registo. Assim, o seu dirigente Nicola Zingaretti sublinhou o fracasso de Salvini em abalar o Governo e afirmou: "A maioria governante sai [da eleição regional] reforçada"

Na Calábria, pelo contrário, uma coligação de extrema-direita encabeçada por candidatos da Liga obteve uma vitória clara, que poderá superar os 50 por cento.

O M5S sofreu em ambos os casos um descalabro eleitoral, ficando-se pelos 3,5 por cento na Emília Romana e pelos 7,5 por cento na Calábria. Nas sondagens nacionais, as intenções de voto para o M5S têm recuado, cifrando-se actualmente nos 16 por cento. O PD também tem sofrido alguma erosão e as sondagens atribuem-lhe 18 por cento. A Liga encontra-se claramente na dianteira, com 33 por cento, embora sem ganhar ainda a uma eventual coligação dos dois partidos do Governo.

A governação do centro-esquerda, vista como cinzenta e defensiva, parecia por si mesma insuficiente para mobilizar o eleitorado da Emilia Romana e barrar o caminho a Salvini. No entanto, o movimento das "sardinhas", que tem multiplicado nos últimos dois meses as manifestações antifascistas, suscitou o entusiasmo que o Governo não suscita, e trouxe às urnas quase o dobro do eleitorado que em 2014 colocara no cargo o governador Bonaccini.

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