Jornalíssimo

por João Fernando Ramos, Rui Sá

A Agência Espacial Europeia anunciou há pouco tempo a construção de um templo na lua. O assunto passa no Jornalíssimo desta semana no Jornal 2 juntamente com as imagens dos "Jogos de Vento", um curioso campeonato de paraquedismo acrobático sem paraquedas onde o campeão é uma jovem de 14 anos.
Joana Fillol desafia ainda os mais novos a darem a sua opinião sobre um dos temas fraturantes mais discutidos nos últimos dias: a eutanásia. Para responder em www.jornalissimo.com

Em Espanha tem o nome de 'voo indoor' e há cada vez mais praticantes federados.

No início deste mês, os vídeos de uma competição original que teve lugar em Espanha, os Jogos de Vento (ou 'Wind Games'), tornaram-se virais.

Quem os viu, ficou fascinado com o desempenho de atletas - como a jovem de 14 anos Kyra Poh, de Singapura - que voavam, dançavam e faziam acrobacias no ar, sustentados por ventos artificiais que chegam a ir além dos 200 quilómetros por hora.

Em inglês, esta modalidade tem um nome que ajuda a perceber melhor do que se trata: 'indoor skydiving' (paraquedismo indoor).

De facto, muitos dos praticantes deste desporto que ainda não chegou a Portugal (por cá ainda não dispomos de nenhum túnel de vento onde se possa praticar a modalidade) são paraquedistas, que têm nestes túneis de vento verticais uma excelente forma de praticarem acrobacias e manobras, simulando um salto de paraquedas.

Os túneis de vento já existem há muito tempo. Pensa-se que o primeiro terá sido inventado por um engenheiro militar inglês no século XVIII.

O uso tradicional desta infraestrutura prende-se com a investigação aerodinâmica. Permite compreender, em ambiente controlado, o efeito do movimento do ar em objetos sólidos, como aviões, por exemplo.

Os túneis de vento com fins recreativos e desportivos são bem mais recentes. Foi no final do século passado, na América do Norte, que os primeiros humanos começaram a voar graças a estruturas como esta. Mas os túneis de vento só se tornaram conhecidos este século, há pouco mais de uma década.

Em 2006, a cerimónia de encerramento dos Jogos Olímpicos de Inverno de Turim (Itália) mostrou ao mundo esta possibilidade de voar graças a um túnel de vento.

Uma das estrelas dos 'Wind Games', realizados a 3 e 4 de fevereiro em Empuriabrava, na Catalunha, falou com a BBC sobre o desporto. Kyra Poh, de 14 anos, vencedora de duas medalhas de ouro na competição, disse que o voo indoor é exigente. Treina três vezes por semana durante duas horas, ao longo das quais entra várias vezes no túnel - cerca de três minutos de cada vez, dado ser exaustivo estar lá dentro.

"Neste desporto, usamos todos os músculos, até mesmo aqueles que não sabíamos que tínhamos", contou à BBC.

Verónica Campà, do 'Windoor Real Fly Empuriabrava', onde se realizaram os 'Wind Games', nota que "cada vez mais gente se interessa, conhece e decide praticar o voo indoor". Reflexo disso é, acrescenta, o "grande aumento de túneis de vento no mundo nos últimos três anos".

Os 'Wind Games' são realizados pela empresa onde trabalha e têm grande afluência de "voadores internacionais". Mas existe já um Campeonato Mundial de 'Indoor Skydiving' que se realiza todos os anos num país diferente (o último teve lugar na Polónia).

O 'Windoor Real Fly Empuriabrava' foi o primeiro túnel de vento aberto ao público de Espanha. Foi inaugurado em 2012. Hoje, o país tem mais dois abertos ao público e outros dois e m construção.

Não é preciso ser atleta para ter esta experiência de voo dentro de um túnel vertical. E não há grandes limites. Em Empuriabrava há pessoas de todas as idades a voar. Até crianças de 4 anos o podem fazer. Para principiantes, a entrada, com direito a aula, acompanhamento por instrutor e dois voos, custa 49 euros.

Se decidires tornar-te "voador" profissional fica a saber que podes competir em várias categorias - a solo, em equipa, em estilo livre (acrobacias e coreografia) ou velocidade (executar o maior número de movimentos no menos número de tempo), entre outras.


Um Templo na Lua com a Arte como religião


A Agência Espacial Europeia desvendou o projeto de um artista espanhol para a cratera Shackleton.

Jorge Mañes Rubio é um artista e trabalha de momento na ESA, mais especificamente na 'Advanced Concepts Team', que junta profissionais de várias áreas.

A ideia por trás desta Equipa é que se pode fazer um trabalho melhor e mais criativo quando se envolvem pessoas de várias profissões à volta de um mesmo projeto.

E um dos projetos em que a ESA está a trabalhar é o que prevê a instalação de uma base humana na Lua para, a partir do satélite natural da Terra, poder experimentar e fazer novas viagens espaciais.

Jorge Mañes Rubio está também envolvido nesta missão. Desenvolve o seu trabalho artístico em estreita colaboração com os cientistas e o seu propósito é procurar levá-los a refletir sobre as implicações que tem a colonização da Lua e de outros planetas.

Na residência artística que está a fazer, Rubio projetou a construção de um templo na Lua.

O templo não foi projetado, porém, a pensar em nenhuma religião. Tem antes subjacente a esperança de "um novo começo para a Humanidade". Rubio vê o seu templo como símbolo de um planeta sem fronteiras, religiões e convenções sociais.

O artista espanhol recorda como é sombria a história da colonização, "por causa de nações e culturas poderosas que tentam impor as suas ideias, a sua religião e o seu estilo de vida".

Na sua missão de promover uma ação responsável por parte dos cientistas tenta recordar com este Templo e com toda a filosofia que criou à volta dele, por exemplo, que as bandeiras que foram colocadas pelo Homem no solo lunar ficaram brancas pelas incidências dos raios solares.

Nestas bandeiras que perderam identidade, o artista vê uma mensagem transcendente de união da Humanidade. É isso que ele projeta para a colonização da Lua, uma "possibilidade de repensar conceitos a partir do zero".

"O assentamento lunar representa uma oportunidade perfeita para um novo começo, um lugar onde não há convenções sociais, nem nações nem religião".

A ser construído, e o press release da ESA deixa essa hipótese em aberto, este templo seria a primeira estrutura humana no Espaço erguida sem objetivos funcionais. Pela primeira vez, seria criado um espaço, no Espaço, que "não seria nem para viver, nem para trabalhar ou realizar pesquisas".

Leopold Summerer, diretor do ACT (a tal Equipa em que o artista foi integrado), considera as discussões com Rubio "muito valiosas", pois - comenta - "levam a considerar aspectos da exploração humana que normalmente não são considerados pelos cientistas e engenheiros".

O templo terá 50 metros de altura e uma estrutura em cúpula só possível na Lua, onde a gravidade é seis vezes menor do que na Terra.

Jorge sabe exatamente onde quer que o seu templo fique: junto à cratera de Shackleton, no pólo Sul, numa zona iluminada quase em permanência pela luz solar.

No Templo, artistas poderiam (poderão?) realizar residências e inspiração seria algo que, decerto, não lhes iria (ou irá...) faltar. Rubio reasgou duas aberturas na sua construção: uma virada para a Terra (visível dali de duas em duas semanas) e outra para o Espaço profundo.
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