Jornalista John Carlin destaca papel vigilante da imprensa sul-africana

por Lusa

Lisboa, 20 jul (Lusa) - O jornalista e escritor inglês John Carlin, que passou grande parte da sua carreira de 37 anos na África do Sul, destacou, em entrevista à Lusa, o papel desempenhado por órgãos de comunicação social daquele país.

O jornalista louvou o papel de "vigilantes do poder" de algumas publicações noticiosas no período democrático na África do Sul, que se iniciou em 1994 com a eleição de Mandela e se tem tornado "corrupto" devido aos dirigentes que "se apaixonaram por si próprios, pelo dinheiro e pelo poder".

"É nesses momentos que é necessário que a imprensa seja vigilante e, felizmente para a África do Sul, tem tido imprensa corajosa e vigilante que está lá para expor todas violações da democracia", afirmou.

John Carlin deu como exemplo a importância da circulação de notícias com a renúncia ao cargo do ex-Presidente da África do Sul, acusado de corrupção, em fevereiro.

O país onde Nelson Mandela nasceu há 100 anos tinha uma imprensa diversificada, diz o jornalista, com vários pontos de vista representados na comunicação social, mas, durante o regime do apartheid, a televisão e a rádio eram especialmente dominadas pelo "controlo do Estado, promovendo o apartheid e demonizando Mandela e a sua gente".

"Ao mesmo tempo, existiam alguns incrivelmente corajosos pequenos jornais, que eram completamente contra essa corrente", relatou John Carlin, antes de considerar que a marca deixada pelas publicações "corajosas" foi mais profunda do que os "previsíveis" meios controlados pelo Estado.

A entrevista decorreu à margem da conferência de encerramento das comemorações do centenário de Nelson Mandela, que foram promovidas pelo Instituto Padre António Vieira e Câmara Municipal de Lisboa entre o passado sábado e quarta-feira.

Do contacto próximo e frequente que teve com o Nobel da Paz de 1993, John Carlin partilhou que "Mandela levava a imprensa muito a sério. Era um leitor de jornais muito ávido, fanático", mesmo durante os 27 anos que passou na prisão.

Carlin recorda que Mandela era um persuasor nato e brilhante: "Passou muito tempo a tentar persuadir e encantar os jornalistas e fazia isso de forma brilhante".

O escritor do livro, entre outros, "Jogar com o Inimigo: Nelson Mandela e o Jogo que fez uma Nação" admitiu à Lusa: "nós éramos tão persuadidos por ele como toda a gente, por mais objetivos que tentássemos ser".

John Carlin deu também nota da responsabilidade dos profissionais da comunicação em executar "uma autêntica batalha pela verdade", dada a velocidade que as notícias falsas ganham na internet e redes sociais.

O jornalista desportivo e político comparou o fenómeno da rápida disseminação de `fake news` a uma praga e completou: "É um grande problema, mas coloca tanta ou mais responsabilidade em pessoas como nós, que consideram ser jornalistas sérios e profissionais, para uma autêntica batalha pela verdade".

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