Jornalistas investigados por revelações sobre envolvimento da França no Iémen

por RTP
Tanque da coligação encabeçada pela Arábia Saudita Faisal Al Nasser, Reuters

Um relatório secreto revelado por três jornalistas mostra que o Governo de Macron mentiu ao afirmar que desconhecia a utilização de armas francesas no Iémen. Os jornalistas estão agora na mira da polícia.

O dossier publicado na plataforma digital Disclose irritou solenemente o Governo francês, por se basear num relatório dos serviços secretos franceses ao ministro dos Negócios Estrangeiros Jean-Yves Le Drian e à ministra das Forças Armadas Florence Parly, admitindo a utilização de armas de fabrico francês na guerra do Iémen.

Já depois de receber o relatório, o Governo tinha negado qualquer conhecimento da utilização ofensiva de armamento francês naquele conflito - canhões, tanques e sistemas de mísseis teleguiados.

A negação surgira no contexto do congelamento das vendas de armas alemãs à Arábia Saudita, depois de rebentar o escândalo do assassínio do jornalista Jamal Khashoggi no consulado saudita em Istambul, que por sua vez viera potenciar as acusações sobre o genocídio cometido pela aviação saudita no Iémen. O Governo francês recusara seguir o exemplo da Alemanha e envolvera-se em contradições cada vez mais embaraçosas.

A revelação do relatório dos serviços secretos veio agravar as dificuldades do Governo francês, que agora reage à publicação mandando interrogar pela polícia dois jornalistas de Disclose - Geoffrey Livolsi e Mathias Destal - e um jornalista de Radio France - Benoit Collombat.

Trinta e seis meios de comunicação, incluindo o diário Le Monde e a agência France Presse, subscreveram entretanto um protesto contra o que consideram um atentado contra a liberdade de imprensa.

Os jornalistas revelaram que a convocação para os interrogatórios os acusa de comprometerem "segredos da defesa nacional" e respondem que as revelações do relatório eram "do maior interesse público, submetendo à atenção dos cidadãos e seus representantes aquilo que o Governo queria esconder".

A convocatória é assinada pelo procurador-geral de Paris e os interrogatórios serão levados a cabo em meados de maio pelo serviço secreto DGSI (Direcção-Geral da Segurança Interna).
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