José Maria Neves eleito presidente da República de Cabo Verde à primeira volta

por Lusa
José Maria Neves é o novo presidente de Cabo Verde Elton Monteiro - Lusa

O antigo primeiro-ministro cabo-verdiano José Maria Neves foi eleito, à primeira volta, o quinto Presidente da República de Cabo Verde, com 51,5% dos votos, de acordo com os dados do apuramento provisório.

Segundo os últimos dados da Direção Geral de Apoio ao Processo Eleitoral (DGAPE) e da Comissão Nacional de Eleições (CNE), José Maria Neves contabilizava 93.149 votos (97% das mesas apuradas), enquanto o principal opositor, Carlos Veiga, também antigo primeiro-ministro (1991 a 2000), voltou a falhar a eleição, pela terceira vez (2001 e 2006), garantindo 77.018 votos, equivalente a 42,6%.

Numa primeira declaração Carlos Veiga admitiu o resultado e disse que já felicitou telefonicamente José Maria Neves "pela eleição a Presidente da República".

"O povo falou e a democracia triunfou", afirmou Carlos Veiga, que nesta candidatura contou com o apoio do Movimento para a Democracia (MpD, no poder) e da União Caboverdiana Independente e Democrática (UCID).

Atualmente professor universitário, José Maria Neves, 61 anos, contou nesta candidatura com o apoio do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV, oposição), que liderou e pelo qual foi primeiro-ministro cabo-verdiano de 2001 a 2016.

José Maria Neves já foi dirigente partidário -- presidente do PAICV e militante há cerca de 40 anos -, deputado nacional, presidente de câmara (Santa Catarina) e ministro.

Nestas sétimas eleições presidenciais o candidato Casimiro de Pina arrecadou até ao momento (97% das mesas apuradas) 3.254 votos (1,8%), Fernando Rocha Delgado 2.509 votos (1,4%), Hélio Sanches 2.102 votos (1,2%), Gilson Alves 1.546 votos (0,9%) e Joaquim Monteiro 1.365 votos (0,8%).

Estas eleições encerram o ciclo eleitoral iniciado em 25 de outubro de 2020, com as autárquicas, que prosseguiu em 18 abril passado, com as legislativas, sempre com a aplicação de medidas de proteção sanitária, como a utilização de máscara e desinfeção obrigatória à entrada das assembleias de voto, devido à pandemia de covid-19.

As anteriores presidenciais em Cabo Verde, que reconduziram o constitucionalista Jorge Carlos Fonseca como Presidente da República, realizaram-se em 2 de outubro de 2016 (eleição à primeira volta, com 74% dos votos).

Novo presidente promete dialogar com todos

O presidente eleito de Cabo Verde assumiu que vai "dialogar com todos", apelando à união de esforços entre os órgãos de soberania e sociedade civil na recuperação económica do país.

"Trata-se de uma grande vitória do povo de Cabo Verde. Quem ganha numa jornada cívica desta envergadura são as cabo-verdianas e os cabo-verdianos, nas ilhas e na diáspora, que deram um grande exemplo de civismo", afirmou José Maria Neves, no discurso de vitória, na sua sede de campanha, na cidade da Praia.

Na mesma intervenção, já ao som da forte festa pelas ruas da capital, prometeu ser um "Presidente que une, que cuida e que protege" e "um Presidente de todas as cabo-verdianas e de todos os cabo-verdianos".

Reações internas

O primeiro-ministro de Cabo Verde, Ulisses Correia e Silva, disse que espera trabalhar "em parceria e colaboração" com o novo Presidente da República.

"Nós todos estaremos empenhados em dar o máximo para que Cabo Verde continue a ganhar, para que possamos ter um bom Presidente da República, que possa trabalhar em parceria e colaboração com o Governo em benefício dos cabo-verdianos", disse o chefe do governo cabo-verdiano.

O candidato derrotado Carlos Veiga apelou à união das gerações que garantiram a independência e a democracia num pacto nacional para garantir o futuro do país.

É um imperativo de todos, quer das gerações que fizeram a independência (1975), quer das gerações que fizeram a democracia e instituíram as liberdades constitucionais (1991), que se unam num pacto nacional em nome de Cabo Verde”, afirmou Carlos Veiga, antigo primeiro-ministro (1991 a 2000), no discurso num hotel da Praia em que assumiu a derrota eleitoral.

Carlos Veiga apelou a um “pacto nacional” em que todos possam “contribuir para erradicar a pobreza extrema” existente no país: “Vivemos em pleno século XXI, pleno de novas oportunidades e desafios que nos podem catapultar para um futuro mais próspero, mas não podemos deixar ninguém para trás”.

O presidente interino do PAICV, Rui Semedo, afirmou que o partido, que lidera a oposição cabo-verdiana, foi um dos vencedores da noite eleitoral e o governo um dos "perdedores".

Rui Semedo afirmou que neste ato eleitoral "ganhou a democracia" e "os cabo-verdianos", por terem "resolvido a eleição na primeira volta", com menos custos económicos e sanitários.

O líder partidário concretizou a sua ideia ao afirmar: "O primeiro perdedor é claramente o Governo de Cabo Verde e o primeiro-ministro também. O Governo por ter parado de governar e o primeiro-ministro também por ter admitido isso, por se ter envolvido na campanha e por ter feito uma preferência clara como o fez, que o Presidente da República melhor para Cabo Verde seria o candidato da sua preferência".

Marcelo e Costa enviam felicitações

O chefe de Estado português, Marcelo Rebelo de Sousa, felicitou hoje José Maria Neves, eleito Presidente da República de Cabo Verde, e manifestou-se certo de que se manterão "excelentes relações" bilaterais.

O primeiro-ministro português, António Costa, felicitou hoje "com amizade" José Maria Neves por ter sido eleito Presidente da República de Cabo Verde à primeira volta e elogiou da democracia cabo-verdiana.

"Felicito com amizade José Maria Neves pela eleição à primeira volta nas presidenciais de Cabo Verde, em mais uma demonstração da estabilidade e força da democracia cabo-verdiana, fruto da transparência e credibilidade do seu sistema político", escreveu o primeiro-ministro português, na sua conta oficial na rede social Twitter.

















pub