O Conselho de Judeus Democratas da América (JDCA) condenou o discurso de Donald Trump, em que este elogiava o magnate da indústria automóvel Henry Ford, notório antisemita e prónazi. Os judeus democratas apelaram aos judeus republicanos no sentido de igualmente condenarem o discurso do candidato à reeleição.
A derrapagem verbal ocorreu durante a visita de Trump à fábrica da Ford no Michigan. No discurso que aí pronunciou, o presidente referiu-se ao papel que tivera Henry Ford para revolucionar a produção automóvel. E seguiu, em tom igualmente elogioso, falando da produção que ventiladores agora em curso na fábrica.
Segundo citação do jornal The Intercept, Trump sublinhou que a empresa faz produzir os ventiladores "com mãos americanas, nos EUA". E, desviando-se nesse momento do guião do discurso, lembrou que o princípio de produção autóctone era já o de Henry Ford, comentando: "Quem acredita nisto, tem uma boa herança genética [a good bloodline]". A isto acrescentou ainda que o inventor da lâmpada elétrica, Thomas Edison, e Henry Ford, olhando do céu cá para baixo, devem estar "muito orgulhosos do que vêem"..”
Não só pelo génio inventivo que esteve na origem dos métodos de produção fordistas, o industrial foi desde cedo alvo da admiração confessa e assumida de Adolf Hitler. No livro Mein Kampf, Hitler refere-se elogiosamente a Henry Ford e chegará depois a fantasiar a criação de um movimento pró-nazi nos Estados Unidos sob a sua direção. Finalmente, Ford acabará por ser condecorado em 1938, por serviços distintos ao regime nazi, com a Grande Cruz da Águia Alemã.
Horrorizado com a homenagem de Trump a Ford, o JDCA afirmou: "Ao enaltecer a 'herança genética' de Ford, o presidente Trump fez-se eco de um conceito usado por Hitler para apontar a mira aos judeus e para massacrá-los durante o Holocausto. Os neonazis e supremacistas entendem a mensagem de solidariedade do presidente, audível e clara". E acrescentou: "Apelamos à Coligação Judaica Republicana, para que condene o presidente Trump pelo seu desleixo e perigosos comentários, que tornam a nossa comunidade menos segura".
Uma outra organização judaica, a Liga Anti-Difamação, habitualmente alinhada com Trump e Netanyahu, surpreendeu ao pedir, pela voz do seu director Jonathan Greenblatt que Trump apresente desculpas pelos seus comentários sobre Ford, "um antisemita e um dos mais ferrenhos defensores da eugenia".