Juiz confirma detenção de jornalista moçambicano contestada por várias entidades

por Lusa

Um juiz do tribunal do Macomia, norte de Moçambique, confirmou na sexta-feira a detenção do jornalista moçambicano Amade Abubacar, anunciou fonte de uma das instituições de defesa da liberdade de imprensa que contesta o processo.

Fonte do Comité para a Proteção de Jornalistas (CPJ), organização independente, anunciou a decisão na Internet, acrescentando que há esforços a decorrer para o conseguir libertar sob caução.

Amade Abubacar, jornalista da rádio comunitária Nacedje e colaborador do portal Zitamar News, foi detido a 05 de janeiro na vila de Macomia, província de Cabo Delgado, quando fotografava famílias que abandonavam a região com receio de ataques armados.

Ficou detido numa base militar em Mueda e na segunda-feira foi transferido para um comando da polícia, para depois ser ouvido por um juiz, sendo acusado de "instigação pública com recurso a meios informáticos", disse fonte oficial.

Organizações da sociedade civil, entidades ligadas à liberdade de imprensa, moçambicanas e estrangeiras, têm exigido a libertação de Amade Abubacar, considerando que se trata de uma detenção ilegal e uma intimidação à liberdade de imprensa.

Em declarações feitas na sexta-feira, a investigadora da Human Rights Watch (HRW) Zenaida Machado considerou "inaceitável" que um jornalista seja preso pela polícia e entregue aos militares "que o mantiveram escondido durante 12 dias" sem qualquer explicação.

"Os serviços de segurança violaram a Constituição da República e os direitos básicos do cidadão, que foi preso sem qualquer mandado judicial", enquanto fotografava populares, acrescentou.

Já na quinta-feira, o Conselho Superior da Comunicação Social de Moçambique (CSCS) tinha exigido a libertação de Amade Abubacar, repudiando as posturas da polícia e forças militares.

Este é o segundo caso de detenções de jornalistas na província de Cabo Delgado nos últimos dois meses.

Em dezembro, três jornalistas estrangeiros e um moçambicano foram detidos durante 48 horas pelo exército moçambicano, a caminho do distrito de Palma, na mesma província, apesar de estarem credenciados pelas autoridades para trabalhar na zona.

Distritos recônditos da província de Cabo Delgado, no extremo nordeste do país, a 2.000 quilómetros da capital, têm sido alvo de ataques de grupos desconhecidos desde outubro de 2017.

De acordo com números oficiais, cerca de 100 pessoas, entre residentes, supostos agressores e elementos das forças de segurança, morreram desde que a onda de violência começou.

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